Untitled
Untitled
Untitled
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 115<br />
terão que utilizar seu instrumental “emotivo” para atingir<br />
o público. algo que já é feito na publicidade: a Nike, por<br />
exemplo, deu início à utilização da história real de seus<br />
atletas patrocinados como forma de estreitar os elos com<br />
seus consumidores nos anos 90. No Brasil, o Banco real<br />
e a Natura contam histórias de seus clientes sem o verniz<br />
jornalístico do repórter-entrevistando-o-cliente. Trata-se<br />
de uma abordagem mais documental, com imagens familiares<br />
dos próprios clientes (não se sabe se verídica<br />
ou forjada), que ganha status de elemento enunciativo<br />
“sentimental”. Segundo rolf Jansen, em The Dream Society,<br />
“os consumidores estariam comprando estas histórias<br />
e suas associações emocionais e não simplesmente<br />
produtos e serviços dessas empresas” (apud MariNho,<br />
2002, p. 166).<br />
Em âmbito videográfico, as imagens pessoais/familiares<br />
povoam, sobretudo, os videoclipes – mídia que, conforme<br />
atesta Décio Pignatari, é onde “a TV encontra sua<br />
poética”. Segue o autor: “e aqui temos mais um aspecto<br />
relevante da poética do clipe: o fato de ter de converter-<br />
-se em prosa narrativa, em efabulação, para poder constituir-se”<br />
(PigNaTari, 1995, p. 239). Se justapormos esta<br />
necessidade a que se refere Pignatari, de “efabulação”, ao<br />
que arlindo Machado chama de “forma autônoma, na qual<br />
se podem praticar exercícios audiovisuais mais ousados”,<br />
temos no ambiente videoclíptico um espaço para proliferação<br />
do uso dos retratos ou vídeos pessoais/familiares.<br />
o exemplo mais evidente desta utilização, se deu no clipe<br />
Epitáfio, do grupo Titãs, em que todas as imagens constituintes<br />
são pessoais/familiares. Trata-se de vídeos em<br />
bitolas diferentes (alguns assemelhando-se a Super-8),<br />
que, articulados, geram uma atmosfera de “lembrança”,<br />
de imagem “tosca”, tal qual a necessidade discursiva peculiar<br />
de alguns produtos publicitários. a perspectiva revisionista<br />
da canção (“Devia ter amado mais/ Ter chorado<br />
mais/ Ter visto a sol nascer”) parece atender a uma<br />
perspectiva pessoal, de resgate de “coisas boas”, enfim,<br />
trata-se de uma canção de chama pela memória afetiva<br />
de quem a ouve. Vídeo e letra da canção se hibridizam<br />
e parecem adquirir a mesma função, por exemplo, que<br />
os vídeos pessoais/familiares presentes no videoclipe No<br />
Recreio, canção de Cássia eller. assim como em Epitáfio,<br />
todo o clipe de No Recreio é composto por imagens<br />
pessoais/familiares da cantora Cássia eller, imagens videográficas<br />
que trazem, em si, características dos vídeos<br />
pessoais caseiros: baixa resolução cromática, oscilação<br />
nas linhas componentes da imagem, evidência do pixel e<br />
letterings trazendo datas e meses do ano. estes aspectos<br />
são evidências estéticas não de uma “falha”, mas de uma<br />
intenção em desautomatizar o olhar a partir de uma dada<br />
referência.<br />
a mesma normatização pessoal está presente no<br />
videoclipe Diário de Um Detento, dos racionais MCs. as<br />
inúmeras bitolas usadas no vídeo, a oscilação entre colorido<br />
e preto-e-branco, além da utilização de vídeo e fotografia<br />
de maneira não-ordenada, situam o clipe numa<br />
capa sumário elivre autor