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Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 11<br />
prefácio<br />
o videoclipe ou a forma cultural<br />
do pós-modernismo<br />
Se tivéssemos que eleger a forma cultural mais re-<br />
presentativa dos últimos 30 anos da cultura ocidental, talvez<br />
nos deparássemos necessariamente com o videoclipe.<br />
algumas das imagens mais reveladoras sobre a cultura<br />
de massas do final do século XX e início do século XXI<br />
são trechos de videoclipes: Michael Jackson breakdancing<br />
como um zumbi em Thriller; Madonna parodiando Marilyn<br />
Monroe em Material Girl; Prince dentro de uma banheira<br />
em When Doves Cry; o gigantesco paletó de David Byrne<br />
em Psycho Killer do Talking heads; um quê de Caravaggio<br />
nas cenas do videoclipe do reM, Losing My Religion; as<br />
inventivas animações nos clipes de Peter gabriel da segunda<br />
metade dos anos 80, como Sledgehammer; a postura<br />
messiânica de Bono Vox em Sunday Bloody Sunday<br />
do U2; Kurt Cobain e o visual grunge no clipe Smells Like<br />
Teen Spirit do Nirvana; Britney Spears no espaço em Ooops,<br />
I Did it Again; a metamorfose de Björk em Cocoon;<br />
Christopher Walken dançando e se contorcendo num hotel<br />
de luxo no clipe Weapon of Choice de Fatboy Slim; o jogo<br />
de espelhos e a idéia da repetição em Let Forever Be do<br />
Chemical Brothers. São apenas alguns poucos exemplos<br />
desse gênero audiovisual que demonstram a sua evolução<br />
e consolidação.<br />
Mas não é somente pelo seu valor histórico ou documental<br />
que o videoclipe é importante para a compreensão<br />
da cultura contemporânea. Nos seus mais variados<br />
aspectos, o videoclipe sintetiza o contemporâneo na sua<br />
aproximação da indústria cultural com a vanguarda, na<br />
diluição da radicalidade inovadora a partir de claras intenções<br />
comerciais, na sua fragmentação imagética, na<br />
sua despreocupação narrativa ou no apelo das narrativas<br />
mais básicas e simples, na sua inclinação parodística, na<br />
sua rapidez, no excesso neobarroco de alguns de seus<br />
estilos, nas suas conexões com as tecnologias de ponta,<br />
na sua recuperação displicente e desatenta do passado,<br />
nas suas superposições de espacialidades e temporalidades,<br />
no fascínio de uma superficialidade hiperreal. Vemos,<br />
assim, que suas principais características se aproximam<br />
enormemente das definições mais gerais associadas ao<br />
pós-modernismo.<br />
as várias estéticas do videoclipe seriam, pois, uma<br />
espécie de versão resumida e específica do estilo pós-modernista,<br />
compreendendo num universo mais circunscrito<br />
as linhas mestras definidoras do pós-moderno (o hibridismo,<br />
o pastiche, a hiperrealidade, o descentramento, a<br />
fragmentação, a volta a algumas formas tradicionais de<br />
representação, o desencaixe entre os seus vários elemen-<br />
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