Untitled
Untitled
Untitled
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 107<br />
as imagens afetivas no videoclipe<br />
Este capítulo visa lançar uma reflexão acerca da uti-<br />
lização de vídeos pessoais ou de família no discurso videoclíptico.<br />
Tal recurso pode ser percebido como uma forma<br />
de resgate de um possível discurso afetivo, que tenta<br />
aproximar espectador (consumidor) e esfera midiática. o<br />
uso de vídeos familiares no âmbito do videoclipe também<br />
pode ser encarado como uma espécie de contraponto ao<br />
excesso “cegador” de imagens da contemporaneidade,<br />
fazendo com que os meios que utilizem tais recursos ganhem<br />
status de legitimidade, autenticidade e “pureza”. a<br />
opção pela terminologia “vídeos pessoais/familiares” deu-<br />
-se em função dos meios de captação das referidas imagens<br />
originarem “produtos” muito semelhantes. Portanto,<br />
para melhor compreensão do texto, os vídeos pessoais são<br />
aqueles que mostram fragmentos de vida de um indivíduo<br />
ou de seu grupo social (excetuando-se a família). Já os<br />
vídeos de família, necessitam da interação indivíduo-meio<br />
familiar. Pretendemos, portanto, transcorrer um percurso<br />
reflexivo acerca da utilização desta natureza imagética<br />
na mídia, tentando mapear, através de esboços teóricos,<br />
uma “área de trânsito” que abrigue uma possível hibridização<br />
entre mídia e linguagem afetiva, achando uma nova<br />
área de situação do videoclipe que derive do binômio publicidade<br />
e cinema – já exposto anteriormente.<br />
Para tanto, nosso trajeto prevê perceber como<br />
aquilo que chamamos de esfera midiática se instrumentaliza<br />
da “pureza” das imagens videográficas pessoais ou<br />
familiares, formatando um contraponto ao excesso de<br />
estetização, por exemplo, da imagem publicitária – principal<br />
manancial imagético dos videoclipes. Flagramos<br />
esta recente tendência na produção de videoclipes e poderemos<br />
exemplificar tais recorrências através de clipes<br />
como No Recreio, a partir de música da cantora Cássia<br />
eller; Epitáfio, canção dos Titãs, e Diário de Um Detento,<br />
canção dos racionais MCs. Nosso percurso teórico<br />
vai partir de uma abordagem mais generalizada do que<br />
consideramos imagens afetivas (fotográficas e videográficas)<br />
tentando estabelecer um elo entre tais imagens e<br />
a noção de afetividade.<br />
antes de, propriamente, vislumbrarmos de que forma<br />
os videoclipes delimitados por esta análise estão inseridos<br />
na dinâmica da afetividade, temos que tentar perceber<br />
o porquê das imagens já trazerem imbuídas uma<br />
espécie de silêncio sentimental – algo que evoca, chama,<br />
pede pela lembrança. em Ontologia da Imagem Fotográfica,<br />
ao comparar o processo da captação da imagem fotográfica<br />
à mumificação, André Bazin dá pistas sobre este<br />
possível “silêncio sentimental”: a imagem que é captada<br />
por uma máquina eterniza-se, é “capturada” e figura<br />
como um fragmento de tempo prestes a ser (re)visto, re-<br />
capa sumário elivre autor