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Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 117<br />

esfera entre o documental e a ficção, sem terreno sedimentado<br />

em nenhum dos dois. Se em Epitáfio, os vídeos<br />

pessoais/familiares servem para evocar a “imagem<br />

da lembrança”, em Diário de Um Detento, sobretudo as<br />

fotografias pessoais, adquirem valor social, ganham uma<br />

tônica de documento. em síntese, Epitáfio parte da imagética<br />

pessoal/familiar e adentra ao terreno da ficção. Já<br />

Diário de Um Detento, parece partir do pessoal para voltar<br />

ao pessoal na forma de documento. o processo de<br />

deslocamento da imagem privada para o âmbito público,<br />

do eixo pessoal/familiar para a esfera midiática, envolve,<br />

mais do que uma questão de afetividade e relações duais,<br />

algumas vezes contraditórias, um adentramento às discussões<br />

à respeito da ética das imagens. No artigo O Ético<br />

no Estético, Karl heinz Bohrer traça uma trajetória das<br />

discussões que procuraram mapear as relações existentes<br />

entre ética e estética no campo das artes. Chamam nossa<br />

atenção as considerações feitas por robert Musel que,<br />

deixando de lado as perspectivas “grandes”, totalizadoras<br />

da obra artística, considera que o afeto pode ser colocado<br />

em sintonia entre o estético e o ético. o afeto, segundo<br />

Musel, este “estímulo imaginativo” até então desconsiderado<br />

pelos teóricos antecedentes, pode ser uma ponte das<br />

relações construídas entre estética e ética – a ética aqui<br />

como “estado imaginativo”, algo reflexivo e aglutinador<br />

de diferenças. Discorrer sobre este aspecto ético visa lançar<br />

uma luz sobre de que forma ética e afetividade se<br />

articulam à utilização de imagens pessoais/familiares no<br />

espaço midiático – e, principalmente, no videoclipe. e se<br />

estamos tratando de aglutinar diferenças, juntar opostos<br />

(o privado e o público, o particular e o geral, o silêncio<br />

familiar e a comunicação de massa), nossa argumentação<br />

parece se encaminhar para a articulação de dois eixos<br />

aparentemente antagônicos, mas que, encontram, na<br />

perspectiva midiática, um sentido de existência: das necessidades<br />

afetivas e revisionistas do público e tentando<br />

não esgotar o seu próprio repertório, os meios de comunicação<br />

de massa passam a perceber uma necessidade de<br />

“afetivizar” seu discurso, promovendo, assim, a inserção<br />

das imagens pessoais/familiares na sua esfera.<br />

abre-se uma “clareira” na abordagem das imagens<br />

videoclípticas. Sobretudo, no que tange à escolha por uma<br />

imagem pessoal/familiar, muitas vezes, como menos resolução,<br />

de composição tosca ou sem a precisão de uma<br />

fotometria correta, indicando que, na “saciedade cegadora”<br />

da imagética contemporânea, é preciso criar arestas e<br />

lacunas que desautomatizem o olhar “de superfície”, quebrando<br />

com o horizonte de expectativas de quem olha,<br />

provocando-lhe uma espécie de “susto”, de freio. Já atesta<br />

Nelson Brissac Peixoto: “o indivíduo contemporâneo é<br />

em primeiro lugar um passageiro metropolitano: em permanente<br />

movimento, cada vez mais longe, cada vez mais<br />

rápido”. Parece-nos que um dos elementos que poderia se<br />

configurar neste “freio” à velocidade da contemporaneidade<br />

seja a desautomatização articulada pelos meios de comunicação<br />

de massa (que, por sua vez, tradicionalmente,<br />

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