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Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 109<br />

articulado pelo suporte. a imagem técnica, como situaria<br />

o poeta antônio Cícero, prevê que “guardar uma coisa é<br />

olhá-la, fitá-la, mirá-la por/ admirá-la, isto é, iluminá-la<br />

ou ser por ela iluminado.” 8 Portanto, dentro da perspectiva<br />

de Bazin, estamos lidando com a imagem técnica “mumificada”,<br />

eternizada e que “guarda” algo. Guarda, nem<br />

que seja apenas a possibilidade de “iluminar” algo.<br />

Vamos adentrar ao âmbito da imagem fotográfica<br />

como recorte necessário para entender de onde pode vir<br />

a relação afetiva que o indivíduo desenvolve com as imagens<br />

técnicas – sobretudo a fotografia. Fotografia que é<br />

registro racional de algo que, mesmo que icônico, guarda<br />

uma linearidade com o índice, de forma que sua estrutura<br />

acomode a duplicidade do signo: ao mesmo tempo<br />

que é extensão, a fotografia é criação sobre o real. Criação<br />

que é escolha, fragmento, momento – mesmo que<br />

se mantenham conservadas as relações indiciais no corpo<br />

da imagem fotográfica. A perspectiva da fotografia como<br />

extensão do homem, canal afetivo da captação de um<br />

intervalo de tempo, vem delimitada por roland Barthes,<br />

em A Câmera Clara, no momento em que o autor nega-<br />

-se a mostrar uma imagem que havia sido citada durante<br />

sua explanação: a fotografia de sua mãe com cinco anos,<br />

em um jardim de inverno com teto de vidro. Percebendo<br />

8 Neste poema, Guardar, antônio Cícero faz uma referência<br />

metalinguística à escritura do poema. Tomando liberdade em<br />

função da arbitrariedade sígnica (da palavra), trouxemos tal<br />

fragmento como extensão e possibilidade de leitura da linguagem<br />

fotográfica.<br />

que, para os leitores, aquela foto tão explorada por sua<br />

retórica poderia constatar de uma verdadeira decepção<br />

no ato da observação, roland Barthes a guarda e, percorrendo<br />

os meandros da imagem fotográfica, chega à<br />

pergunta: “será que eu a reconheceria (grifo do autor)?<br />

o ato de “descongelamento” emocional, desautomatização<br />

do olhar, capitaneado pela presença de uma imagem,<br />

atesta que é na perspectiva do reconhecimento que se<br />

situa o princípio da afetividade evocado pela imagem. o<br />

reconhecimento que é, conseqüentemente, a extensão do<br />

homem: a imagem que eu reconheço é também a imagem<br />

que eu sou. o ato de olhar como exterioridade, máscara<br />

(como propõe Barthes), mas, também, o olho como<br />

“janela da alma”, em conexão com o que o poeta Manoel<br />

de Barros chama de “olhar de dentro” 9 . olhar é, portanto,<br />

estrada do fora para dentro. Para um dentro que, certamente,<br />

não tem fundo e é o cerne das discussões sobre<br />

a subjetividade na leitura e/ou apreensão da imagem. É,<br />

agora, nesta perspectiva “de dentro”, que faremos considerações<br />

sobre os elos existentes entre a imagem e as<br />

emoções. Para Francis Vanoye,<br />

observa-se uma divisão entre abordagens ‘neutras’ da emoção,<br />

considerada como reguladora da passagem à ação, e<br />

abordagens mais negativas, que consideram a emoção como<br />

sinal de disfunção correlata a uma baixa dos desempenhos do<br />

sujeito (apud aUMoNT, 2001, p. 122).<br />

9 Em depoimento no filme Janela da Alma (2001), de João Jardim<br />

e Walter Carvalho<br />

capa sumário elivre autor

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