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Capítulo 1 – Serra da Boa Esperança<br />

Nós, os poetas, erramos porque rimamos também<br />

Os nossos olhos nos olhos de alguém que não vem<br />

(Serra da Boa Esperança, Lamartine Babo)<br />

No pequeno camarim do Teatro Franco Zampari em São Paulo, entre canapés<br />

e champanhe, Cida Moreira se preparava para entrar em cena. Do lado de<br />

fora, o frenético vaivém de produtores e assessores se misturava ao som<br />

das bandas no palco. Outros artistas já haviam feito suas apresentações no<br />

Especial de vinte anos do Metrópolis da TV Cultura e, às 11 horas da noite,<br />

Cida sentaria ao piano para os primeiros acordes de Summertime.<br />

O apresentador do programa entrou para combinar detalhes da entrevista.<br />

Em cinco minutos subiriam. Estou nervosa. Vou desafinar! Fiquem aí para<br />

eu dar uma voltinha. E sumiu. O que se viu da plateia, minutos depois,<br />

chegou também aos lares de toda a cidade com alguns dias de atraso. Ela<br />

cantou, depois de dar em primeira mão o lançamento do novo disco, oitavo<br />

de sua carreira, em tributo ao centenário de Cartola, chamado Angenor:<br />

Chegou hoje à tarde da gravadora. Mas na sua voz algo vibrou em especial<br />

naquela noite.<br />

Summertime cindiu qualquer laço possível entre a plateia e o espaço físico<br />

onde estávamos. Rompeu o ar e não tardou a envolver o teatro num clima<br />

denso, de silêncio profundamente sonoro e respirações suspensas. Em seguida,<br />

atacou de Tom Waits, acompanhada de seu piano e de um violão. E novamente<br />

enredou a todos numa marginalidade dignificada pela maldição de<br />

seus gestos. Num irônico e desafiador olhar de perversidade consoladora.<br />

Foi aplaudida em cena aberta e não desafinou. Com emoção e segurança;<br />

a segurança de uma vida dedicada à magia dos palcos. Como se, a cada<br />

show, revivesse dentro dela o antigo auditório da Rádio Marconi, onde cantou<br />

pela primeira vez, em 1957, aos 6 anos. Desde então, na pequena Paraguaçu<br />

Paulista, o talento de Cida já pulsava mais forte. A cidade situada na região<br />

de Marília, São Paulo, tinha, na época, cerca de 23 mil habitantes. E o rádio<br />

ainda era o grande agregador cultural do Brasil.<br />

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