versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
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genial. Amava o teatro para além de tudo e viveu coerentemente com isso<br />
até sua morte. Um verdadeiro rei em cena, um ator maravilhoso. Amigo<br />
amado, homem lindo. Enfim, um artista, disse Cida.<br />
Sérgio Nunes morava em Ourinhos, interior de São Paulo, e daria uma entrevista<br />
para este livro no mês de agosto de 2008, quando estaria na capital<br />
para um check-up. O diretor, grande incentivador cultural da região, sofria de<br />
uma grave anemia em função do câncer no rim e da hepatite. Lamentavelmente,<br />
ele morreu poucos dias após nossa conversa, aos 59 anos. Por telefone,<br />
Sérgio chegou a lembrar alguns nomes como os de Arnaldo Contier e<br />
José Pedro Antunes, também amigos de Cida do tempo em que moravam<br />
em Assis. Juntos – e com um espírito ingênuo, segundo a cantora –, Cida e<br />
Sérgio montaram na universidade, ainda em 1973, a peça Lux in tenebris, de<br />
Brecht, com uma tradução até um pouco tosca, feita por eles.<br />
Cida estudou em escola pública até o quarto ano primário. Depois foi para o<br />
colégio protestante, que era particular. Em seguida, entrou num colégio de<br />
freiras em Londrina, até chegar à universidade pública, que terminou em São<br />
Paulo, novamente numa entidade particular. Passou por todas as ramificações<br />
possíveis de ensino, além de ser filha de uma professora aposentada<br />
com 32 anos de magistério e ser, ela própria, professora. Tem, portanto,<br />
conhecimento de causa para falar sobre educação no Brasil. Segundo ela, aí<br />
está uma área cujo cenário não se revela nada promissor: Acho que posso<br />
dizer: o ensino brasileiro a partir de 1964 acabou!. Até hoje, em suas palavras,<br />
o que se vive é uma escola pública agonizante: Colocam vinte computadores<br />
numa sala e formam-se gerações de profissionais computadorizados.<br />
Junte-se a isso certa decadência sociológica que influenciou muito a<br />
formação familiar das pessoas. Para ela, criou-se também uma outra cultura<br />
familiar que nada tem a ver com o real conceito de família. Uma estrutura<br />
em que a comunicação entre os componentes é simplesmente relegada: A<br />
sensação que eu tenho é a de que nós paramos de viver num mundo real<br />
e passamos a habitar outro, inventado pela mídia. As pessoas acham que<br />
são altamente informadas, mas não têm informação alguma. E não digo<br />
isso julgando ninguém. Vejo as gerações mais novas acessando um tipo de<br />
informação que não tem nada a ver com a nossa história, que deixou de ser<br />
tipicamente brasileira.<br />
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