versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
lembram os versos do samba Presidente Bossa Nova, de Juca Chaves:<br />
Bossa Nova mesmo é ser presidente / Desta terra descoberta por Cabral /<br />
Para tanto basta ser tão simplesmente / Simpático, risonho, original.<br />
O baião que, a partir de 1946, havia explodido nos grandes centros urbanos<br />
com Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira – responsáveis pela estilização da<br />
canção nordestina no sul do país –, começava nesse momento a entrar em<br />
seu tão difundido período de ostracismo, até ser relembrado novamente na<br />
década de 1970 por Caetano e Gil durante o Tropicalismo. Mesmo assim, a<br />
fama e o prestígio do velho Lua, o Rei do Baião, não abandonaram o sanfoneiro,<br />
sobretudo nas cidades do interior do país onde, independente da apatia<br />
da “classe média” ou da imprensa de modo geral, ele levava às praças,<br />
multidões que variavam entre 5 e 10 mil pessoas, aproximadamente.<br />
Nas rádios, cantoras como as arquirrivais Marlene e Emilinha Borba – esta<br />
última, inclusive, responsável pela gravação número um da canção Paraíba,<br />
de Gonzaga e Teixeira, em 1950 – ainda mantinham seu lugar garantido.<br />
A disputa ingênua, mas ardorosa, entre os fãs-clubes de Marlene e Emilinha<br />
é um fenômeno até sociológico da história da cultura popular brasileira, que<br />
só pode ser entendido a partir de um país que vivia entre uma época de<br />
esperança de prosperidade que não chegava nunca e a ocultação renitente<br />
de graves injustiças sociais – que persistiriam até hoje. Um país cujos maiores<br />
traumas coletivos de então tinham sido a derrota na final da Copa do Mundo<br />
de 1950, em pleno Maracanã, contra o Uruguai, e a perda do título de Miss<br />
Universo pela baiana Martha Rocha, por culpa das inesquecíveis duas polegadas<br />
a mais. Era então um país que desfilava em passarelas. Que sofria,<br />
mas não sabia 2 .<br />
No ano de 1951, Dalva de Oliveira consagrou-se como Rainha do Rádio.<br />
Em 1956, Cauby Peixoto emplacava seu grande sucesso, o samba-canção<br />
Conceição, de Jair Amorim e Dunga. E as irmãs, Linda e Dircinha Batista,<br />
até a década de 1960, também estiveram presentes no cenário artístico<br />
brasileiro, ainda que, nesse momento, o romantismo da chamada Era do<br />
Rádio já estivesse ficando para trás, numa transição marcada por figuras<br />
como a sempre polêmica Maysa que, segundo o jornalista Lira Neto, acabou<br />
funcionando como espécie de ponte entre a velha guarda e os novos ares<br />
que começavam a soprar nos estúdios, emissoras e, claro, nas agulhas de<br />
todo o país. Maysa era, enfim, uma das nossas últimas grandes ‘cantoras<br />
do rádio’ e uma das primeiras celebridades da tevê e do chamado show<br />
business brasileiro 3 .<br />
17