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versão pdf - Livraria Imprensa Oficial

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Mas acho que mesmo puta<br />

Era donzela.<br />

Às vezes, parecia o vento<br />

Segurando uma espada,<br />

Às vezes, um mar furioso,<br />

Ou um Palácio da Esplanada,<br />

Às vezes, não parecia nada.<br />

Diziam que era bem-humorada.<br />

Quem disse?<br />

Diziam que não valia nada<br />

Como um cachorro do mato,<br />

E só por força da rima,<br />

Me digam quem disse,<br />

Porque esse, eu mato!<br />

Mas era cretina,<br />

Perpétua, Ardilosa<br />

Que obrigava a rimar quem não tinha rima,<br />

De uma astúcia cruelmente generosa.<br />

Diziam que ela tinha seus sonhos<br />

Mas sempre foi muito cautelosa.<br />

Talvez porque não sonhasse<br />

Acordada como eu. Mas eu só<br />

sonho acordado porque sou ateu.<br />

Mas diziam, diziam...<br />

Todos sempre dizem.<br />

E como disse Ataulfo Alves,<br />

A maldade nessa gente é uma arte.<br />

Por isso diziam. E é o aspecto mais complicado:<br />

Se ainda dizem, não mais escuto<br />

E finjo, muito surdo, e delicado,<br />

Porque diziam e eu não escutei no passado.<br />

Essa safada<br />

Tem rimas imperfeitas,<br />

Graças a Deus!<br />

Senão onde mais eu encontraria<br />

Uma voz que canta pelos<br />

Olhos dos outros,<br />

Que não sai dela,<br />

Dando a impressão que seus cantos são meus?<br />

(Poema do diretor, sambista e dramaturgo Marcelo Fonseca para Cida Moreira)<br />

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