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era ouvir melhor as músicas do Brecht ao vivo. O Ornitorrinco teve dois meses<br />
para se programar e conciliar a vida em São Paulo com os dois espetáculos<br />
no Rio. Cida ainda atendia em seu consultório, mas não deixou de clinicar<br />
por isso. Apresentava Brecht e Weill às segundas-feiras, em duas sessões:<br />
uma às 19h e outra às 22h. Terça era vaga. De quarta a domingo, fazia a Ópera,<br />
que estreou em julho de 1978, sendo que, aos sábados e aos domingos,<br />
havia duas sessões de quase quatro horas cada.<br />
Ópera do Malandro marcou a história do teatro no Brasil. Ficou um ano em<br />
cartaz no Rio de Janeiro, sendo possivelmente a peça mais musical de Chico<br />
Buarque. Ainda que a redemocratização não fosse uma realidade política<br />
tão distante, o País ainda vivia sob o comando militar, o que torna representativo<br />
o fato de o seu enredo passar-se em meados da década de 1940,<br />
durante a ditadura de Getúlio Vargas (1882-1954). Evidentemente, não era a<br />
Vargas que Chico se referia ao contextualizar sua peça numa época em que<br />
se evidenciam sinais de repressão em meio à decadência da Lapa carioca<br />
e ao princípio do processo de industrialização do País que, por sua vez,<br />
abria ainda mais espaço para o domínio cultural norte-americano, em detrimento<br />
de valores tradicionais próprios. Desse universo nascem prostitutas,<br />
cafetões e malandros, cujas ética e moral, tais como são concebidas pela<br />
burguesia mais conservadora, estão claramente postas de lado no texto,<br />
assumindo de maneira crítica e bastante irreverente, pelas canções de Chico,<br />
o clima de malandragem federal que perpassa o espetáculo.<br />
Não bastasse o Teatro Tablado com sua lotação esgotada para os dois primeiros<br />
meses de Brecht e Weill, e o sucesso de Ópera do Malandro no Teatro<br />
Ginástico, Cida recebeu outro convite, dessa vez do ator Antônio Pedro:<br />
substituir a cantora Miúcha em Os Saltimbancos, de Sérgio Bardotti e Luís<br />
Enríquez Bacalov, com músicas de Chico Buarque. O espetáculo foi inspirado<br />
no conto Os Músicos de Bremen, dos irmãos Grimm, e, como musical infantil,<br />
não deixou de trazer, em sua essência, uma crítica política representada alegoricamente<br />
pelos personagens centrais, cuja apreensão por parte da garotada<br />
possivelmente não fosse intuito dos autores. O tema principal da peça é a<br />
solidariedade, esta sim, universal para qualquer criança.<br />
Antônio Pedro era diretor da montagem e interpretava o Cachorro que depois<br />
passou a ser feito por Otávio Augusto. Como a irmã de Chico viajaria, após<br />
uma grande temporada fazendo a Galinha no Canecão e, posteriormente,<br />
no Teatro dos Quatro, Cida entrou ao final da turnê em seu lugar, nas tardes<br />
de sábados e domingos.<br />
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