Marcele Regina Nogueira Pereira - Unirio
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dedicada tanto à educação das massas como à educação daquelas que tiveram a<br />
vantagem de uma educação mais elevada. Se decidir dedicar um salão a uma<br />
exposição especial para o público em geral, terei muito prazer em realizá-la. Na<br />
verdade já defendo esta ideia há algum tempo (BOAS, 29 de abril apud<br />
STOCKING JR., p. 360).<br />
Essa vontade de dedicar um espaço específico ao público em geral nas exposições<br />
antropológicas que realiza ou, neste caso, a que avalia, revela uma preocupação social<br />
de Boas com o papel dos museus e uma conscientização da importância destes espaços<br />
como locus educacional. Expressa também o desejo de que as coleções sejam<br />
aproveitadas ao máximo no momento de exposição. Seja para a apropriação dos<br />
privilegiados da educação ou para a grande massa de desassistidos socialmente.<br />
No entanto, podemos considerar também para Boas a reflexão de Lopes (2008)<br />
que ressalta serem elitistas e hierárquicos, os conceitos disseminados por Flower (1890)<br />
que consagraram a divisão das coleções entre estudos especializados e para o público<br />
em geral. Essa divisão apresenta indício de hierarquização dos visitantes. A importância<br />
dada à dupla função dos museus é central no discurso de Flower. Para ele, os museus<br />
estavam destinados a duas classes de “homens”. Por um lado, os museus deveriam ser<br />
úteis aos estudiosos das ciências que desejassem “progredir” em uma área do<br />
conhecimento. Por outro, essas instituições deveriam se voltar a um público que não<br />
detém tempo nem as condições necessárias para obter conhecimento (FLOWER, 1890,<br />
p. 12). Flower compreendia os museus como instrumentos facilitadores para a instrução<br />
destes públicos. Podemos constatar que Boas tinha posição semelhante às de Flower,<br />
mas suas preocupações tinham bases comprometidas também com a narrativa<br />
estabelecida nas exposições que partiam de coleções científicas. O conteúdo implícito<br />
na organização dos itens dos museus apresentava concepções e teorias discutidas por<br />
pesquisadores. Fato importante, uma vez que o público, seja especialista ou leigo,<br />
compreende conceitos em princípio e a partir da lógica estabelecida pela exposição.<br />
Boas ressalta que as coleções devem ser tratadas de forma diferenciada para também<br />
atender aos interesses diferenciados dos públicos.<br />
A partir das concepções de educação em museus e das opiniões acerca do papel<br />
educativo dos museus, divulgadas e discutidas nas primeiras décadas do século XX,<br />
identificamos pontos de convergência e aspectos fundamentais que contribuem para o<br />
entendimento da construção da função educativa dos museus. Temas como o papel<br />
essencial dos museus para o incremento e ampliação do alcance da educação nacional;<br />
os museus como espaços de aprendizagem; a discussão a respeito da educação popular;