Marcele Regina Nogueira Pereira - Unirio
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perspectiva da contemplação, tanto para o engrandecimento do saber quanto para o<br />
entendimento da grandiosidade do que se tem, serve para dar sentido ao gesto que, de certa<br />
forma, inicia a vida útil dos museus, a coleção. “As coleções transformaram-se, portanto, na<br />
alma do museu, que, enquanto guardião e produtor de saber, recebeu do século XV ao século<br />
XVIII o impulso necessário à sua efetiva consolidação no século XIX” (VALENTE, 2003).<br />
Os museus são produtos típicos da época renascentista, de uma sociedade hierarquizada<br />
e aristocrática que acreditava na arte e na cultura como privilégio a poucos indivíduos<br />
pertencentes a certo lugar social. Sua trajetória que remonta à Idade Antiga e é finalmente<br />
com a aparição das correntes humanistas do Renascimento que podemos falar de um<br />
fenômeno das coleções, que ultrapassam o valor econômico e atribuem às obras um valor<br />
formativo, científico, contribuinte para com a formação do homem moderno, educado a<br />
contemplar a obra. Vários são os registros de colecionadores refinados, conhecedores e<br />
críticos de arte e de história, que contribuíram para a construção de critérios, artísticos e<br />
históricos, de apreciação do objeto de coleção. Os critérios artísticos eram admirados e<br />
contemplados para além do seu valor econômico e os critérios históricos eram valorizados,<br />
pois o Renascimento valorizava as fontes da Antiguidade e admirava a cultura clássica como<br />
espaço de reflexão. Esses colecionadores formavam círculos minoritários e podem ter dado<br />
origem à concepção elitista de museu, marcado por ser restrito, entendido como uma<br />
instituição reservada a eruditos, especialistas e, por isso, inacessível ao público em geral<br />
(HOMS, 2004).<br />
Após o fenômeno das coleções, quando encontramos muito da gênese dos museus, é<br />
interessante notar o fenômeno que dá origem a uma mudança na perspectiva de colecionar. Na<br />
França, a Revolução que levou à guilhotina Luiz XVI, Maria Antonieta e que desencadeou<br />
uma perseguição a todos os nobres destruiu obras artísticas nos palácios da aristocracia e nos<br />
templos, quebrando imagens consideradas maravilhosas, incinerando quadros, destroçando<br />
móveis ou dispersando-os em vendas clandestinas a colecionadores de toda a Europa. Essa<br />
mesma revolução permitiu, no entanto, em meio a essa destruição, que fossem cunhadas as<br />
bases de uma transformação que de certa forma a redimiu dos excessos praticados, pois<br />
instaurou no mundo a grandiosa era dos museus contemporâneos. Segundo Suano (1986),<br />
apenas com o advento da revolução francesa é que se abriram definitivamente as portas dos<br />
museus ao público, que os tornou definitivamente públicos. Ainda assim é importante<br />
ressaltar que essa abertura não se deu de forma rápida nem mesmo homogênea. Não podemos<br />
perder de vista a dimensão temporal e espacial que resguarda uma série de especificidades dos<br />
processos de abertura das instituições ao longo do século XVIII. Não podemos deixar de<br />
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