Marcele Regina Nogueira Pereira - Unirio
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SANTOS, 1984; KRZYZSTOF, 1984). Compreender o processo dessas transformações pelo<br />
viés educacional e identificar as dimensões presentes nestas transformações pode nos ajudar a<br />
construir uma interpretação acerca da história da educação em museus no Brasil.<br />
I.1.1 Dimensão educacional contemplativa: os museus enquanto depósitos do saber<br />
Para construir uma narrativa da história dos museus é necessário, sem exageros, retomar<br />
os aspectos mais remotos de seu surgimento. Vários autores incursionaram nessa missão e<br />
minimizam a responsabilidade de recontá-la aqui em detalhes. Fica a tarefa de mais uma vez<br />
iniciar o texto sobre os museus citando brevemente seu passado glorioso junto ao templo das<br />
musas e a biblioteca de Erastóstenes. 2<br />
Sob a ciceronia de Apolo, o brilhante deus da luz, que conduzia pelos céus o carro<br />
fumegante de Aurora, as musas se compraziam em distribuir entre os mortais os seus<br />
dons divinos, prodigalizando-lhes os talentos e as bênçãos de suas inspirações. E o local<br />
em que elas se reuniam ou eram cultuadas pelos devotos e protegidos, a “morada das<br />
musas”, o “templo das musas” é que se chamou MUSEU. (STEIN, 1962, p. 11)<br />
Com este relato, Stein nos traz, em tom poético, a mais distante referência à palavra<br />
museu na antiguidade, e nos remete a um espaço carregado por uma aura que o impede de ser<br />
um lugar qualquer para qualquer pessoa. As musas representam até hoje um símbolo de<br />
beleza, portanto, os museus podem ser interpretados como lugar do belo que desperta o prazer<br />
em olhar. Lugar de guarda do que é fundamental e significativo de imponência, o museu<br />
possui no mínimo o indicativo de um caráter contemplativo que o persegue até hoje. Após o<br />
templo das musas, a palavra museu, ainda segundo Stein, vai reaparecer mais tarde, em<br />
Alexandria, na famosa biblioteca organizada pelo genial matemático Erastóstenes, ao tempo<br />
dos Ptolomeu. Uma das alas da biblioteca, onde se reuniam os sábios, filósofos e naturalistas<br />
para debater, o tema de seus estudos recebeu sob Ptolomeu I a denominação de museu. Não se<br />
tratava mais do templo das musas da mitologia grega. No Palácio de Alexandre o Museu se<br />
transformara agora em templo do saber. Esse é outro caráter assumido pelo museu, o de<br />
cientificidade. Tanto a admiração, quanto a busca pelo conhecimento acompanham o museu<br />
em todas as suas formas de representação até hoje. O berço dessa iniciativa está na<br />
antiguidade clássica. Chamamos atenção para o fato de que o museu surge em sua tenra vida<br />
já com um espírito que beira o fascínio pela observação, admiração e, em certa medida, pela<br />
cientificidade.<br />
2 Para saber mais sobre a história dos museus ver Suano (1986), Stein (1961) e Valente (2003).<br />
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