Marcele Regina Nogueira Pereira - Unirio
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Em nenhum outro fator de formação social e nacional essa política de observação e de<br />
entendimento seria mais acorde aos interesses do Brasil do que na esfera da educação<br />
(CARNEIRO LEÃO, 1950, p. 42).<br />
Segundo artigo publicado na Revista Brasileira de Educação (MENDONÇA, 2006)<br />
por grupo de pesquisadores como Ana Waleska, Libânia Nacif Xavier e outros, o<br />
pragmatismo se torna foco de uma polêmica. Antes de entrar nas questões que perpassam este<br />
debate, é significativo identificar que, em período posterior ao relatado por Carneiro Leão, os<br />
Estados Unidos, no contexto da chamada Guerra Fria, identificaram que o pragmatismo se<br />
encontrava em meio a uma enorme controvérsia, sendo fortemente criticado à direita e à<br />
esquerda pelos seus pretensos efeitos sobre a educação norte-americana em situação de crise.<br />
As autoras consideram que o pragmatismo, no Brasil, nessa época, se situava no cerne de uma<br />
“dupla polêmica”, que tinha uma dimensão internacional e uma dimensão nacional, as quais,<br />
apesar de fortemente imbricadas, guardavam suas especificidades. Como expressão dessa<br />
polêmica na sua dimensão internacional, é destacada a publicação no Brasil, em 1956, do<br />
livro A educação norte-americana em crise. Para as autoras a “crise” da educação norte-<br />
americana, se vincula à influência das ideias pragmatistas que versam sobre o sistema escolar<br />
norte-americano, e identificam uma preocupação com o risco dessa influência em outros<br />
contextos nacionais. Os artigos de Snyders e Urrutia (1956), apresentados no texto,<br />
exemplificam algumas das críticas bastante veementes da pedagogia de Dewey. Para Snyders,<br />
Dewey era um “um filósofo que visa[va] diretamente desempenhar um papel político e se<br />
coloca[va], para combater as forças progressistas, a serviço do grande patronato”, e chama a<br />
atenção para a influência dessa pedagogia nas reformas do ensino secundário em marcha na<br />
França. E o artigo de Urrutia (1956) caracteriza igualmente Dewey como o “filósofo da<br />
burguesia imperialista” (apud MENDONÇA, p. 22).<br />
Paschoal Lemme é um dos pensadores brasileiros que desenvolvem criticas a alguns dos<br />
pressupostos da teoria pedagógica de Dewey, por exemplo, a ideia de que a escola não é a<br />
preparação para a vida, mas a própria vida, ressaltando que ela é apenas uma parte da vida,<br />
enquanto instituição especializada na transmissão sistemática de determinados<br />
conhecimentos, alertando para os riscos da generalização do método de projetos, que viria a<br />
aumentar a fragmentação do ensino, além de chamar a atenção para o efeito da aplicação<br />
generalizada dos “testes” (LEMME, 1956). No entanto, segue-se a estas críticas eventos e<br />
iniciativas realizadas em âmbito nacional que pretendem, em tom defensivo, discutir e<br />
retomar os conceitos da pedagogia de Dewey no Brasil. Desde os anos 20 e 30 do século XX,<br />
o ideário pragmatista que norteou a proposição da Escola Nova no Brasil, deixara de ser o<br />
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