Marcele Regina Nogueira Pereira - Unirio
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observar que de forma magistral a revolução burguesa soube organizar o saber de forma a<br />
consolidar o poder recém-adquirido. Com este intuito o museu se prestava muito bem às<br />
necessidades da burguesia de se estabelecer como classe dirigente (SUANO, 1986, p. 28). 3 .<br />
Em análise histórica sobre a trajetória do patrimônio mundial, Choay (2001), salienta a<br />
importância do trabalho de Rücker, que publica Les Origines de La conservation dês<br />
monuments historiques em France, 1790-1830, com o intuito de conferir o conjunto dos<br />
documentos publicados entre 1790 e 1795 a fim de conservar e proteger os monumentos<br />
históricos. A obra de proteção do patrimônio francês iniciada pela Revolução Francesa<br />
segundo Rücker deu origem à conservação dos monumentos históricos na França. A invenção<br />
da conservação dos monumentos históricos com seu aparelho jurídico e técnico foi antecipada<br />
pelas instâncias revolucionárias; seus decretos e instruções prefiguram, na forma e no fundo, a<br />
abordagem e os procedimentos desenvolvidos na década de 1830 pela primeira Commission<br />
des Monuments Historiques (CHOAY, 2001).<br />
Os documentos e diretrizes propostos pelo movimento revolucionário sobre e para a<br />
proteção do patrimônio monumental podem ser considerados como preciosos e claramente<br />
orientados por uma preocupação prática, segundo Choay. Eles afirmam muitas vezes de forma<br />
eloquente, seus objetivos políticos e materiais.<br />
Todos esses bens preciosos que se mantém longe do público ou lhe são mostrados apenas<br />
para inspirar assombro e respeito; todas essas riquezas lhe pertencem. Doravante, elas<br />
servirão à instrução pública; elas servirão para formar legisladores filósofos, magistrados<br />
esclarecidos, agricultores instruídos, artistas a cujo talento o povo não delegará em vão a<br />
tarefa de celebrar dignamente seus sucessos [...] (CHOAY, 2001, p. 114, in Instruction<br />
sur La maniére d’inventorier, p. 3).<br />
Atribuindo valor de propriedade, por herança, de todo o povo, aos monumentos<br />
históricos, os partidários revolucionários marcavam-nos de um valor nacional preponderante e<br />
lhes atribuíam novos usos, educativos, científicos e práticos. A França marca uma posição<br />
inovadora na construção do ideal de monumento histórico (móvel e imóvel), por elaborar um<br />
conjunto de disposições e procedimentos para gerenciar e intervir sobre eles (CHOAY, 2001,<br />
p. 119). Diante dessa nova realidade empreendida pelo processo revolucionário é necessário<br />
elaborar métodos para inventariar e gerir o patrimônio. Em primeiro lugar tombam-se os bens<br />
recuperados pela Nação e em seguida, cada categoria é por vez inventariada com a<br />
identificação do estado em que se encontram cada um dos bens que a compõe. Por fim, e,<br />
3 No ano de 1791, as assembleias revolucionárias propuseram e a Convenção Nacional aprovou, em 1792, a<br />
criação de quatro museus, de objetivo explicitamente político e a serviço da nova ordem. Para mais detalhes, ver<br />
Suano (1986).<br />
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