123Tortuosida<strong>de</strong> vascular retiniana congênita– relato <strong>de</strong> casos **DISCUSSÃOBeyer (1) , em 1958, foi o primeiro a relatartortuosida<strong>de</strong> vascular congênita com hemorragiasmaculares superficiais em indivíduos da mesma família,sugerindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então a presença <strong>de</strong> um fator geneticamenteherdado, provavelmente autossômico dominante.Sears et al. (2) relataram uma família com T.V.C.R.Uma mulher com 58 anos que apresentava hemorragiasretinianas com tortuosida<strong>de</strong> vascular em ambos os olhos,especialmente na área macular; e seu irmão, <strong>de</strong> 63 anos,com história <strong>de</strong> hemorragias fundoscópicas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 18anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Ambos foram investigados e nenhumadoença sistêmica foi encontrada.Kayazawa et al. (3)relataram um caso <strong>de</strong>tortuosida<strong>de</strong> vascular retiniana com hemorragia macularem uma japonesa <strong>de</strong> 58 anos, com exame clínico elaboratorial sem particularida<strong>de</strong>s. A hemorragia foi absorvidarapidamente sem prejuízo para a acuida<strong>de</strong> visual.Esse foi o primeiro caso relatado em uma oriental.Gauss (4) relatou a alta incidência <strong>de</strong> tortuosida<strong>de</strong>vascular retiniana em pacientes míopes <strong>de</strong> -1 a -3 e acima<strong>de</strong> 10 dioptrias, bem como hipermétropes com errosrefrativos <strong>de</strong> +1 a +7 dioptrias. Dos indivíduos supostamentenormais, 15,3% mostraram alguma tortuosida<strong>de</strong>congênita das arteríolas.Awan (5) <strong>de</strong>terminou a prevalência <strong>de</strong> anomaliasvasculares retinianas <strong>de</strong> 2.100 pacientes saudáveis atravésdo exame <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> olho. Nesse trabalho, apenas 10pacientes (0,47%) apresentaram tortuosida<strong>de</strong> anômaladas artérias. Ao contrário <strong>de</strong> uma das publicações <strong>de</strong>Gauss (4) , que <strong>de</strong>terminava a tortuosida<strong>de</strong> arterial isoladaocorrendo em 16% da população, esse estudo estabeleceuque tais casos não são tão comuns quanto se acreditava.Comparando-se estas estimativas é razoável aludirque: o diagnóstico clínico po<strong>de</strong> ser subestimado e a incidência<strong>de</strong> hemorragias nestes quadros parece ser baixa.Wells et al. (6)publicaram relato sobretortuosida<strong>de</strong> arteriolar progressiva herdada, no padrãoautossômico dominante e com hemorragias espontâneas.Crianças <strong>de</strong> duas gerações, que apresentavam hemorragiasretinianas, sofreram investigação laboratorialexaustiva, para somente mais tar<strong>de</strong>, ao serem novamenteexaminadas, as tortuosida<strong>de</strong>s vasculares tornarem-seevi<strong>de</strong>ntes. Portanto, nesta faixa etária a hipótese daT.V.R.C. <strong>de</strong>ve ser cogitada na presença <strong>de</strong> focoshemorrágicos sem etiologia aparente.Johns et al. (7)estudaram 20 pacientes comcoarctação da aorta, que é um dos diagnósticos diferenciaisda T.V.C.R. Desses, apenas 7 apresentaramtortuosida<strong>de</strong> vascular (4 do tipo arteriolar isolada e 3,Rev Bras Oftalmol. 2005; 64 (2): 121-124arteriolo-venular).Storimans et al. (8)<strong>de</strong>screveram uma novasíndrome <strong>de</strong> herança autossômica dominante que <strong>de</strong>veser lembrada como diagnóstico diferencial da T.V.C.R.Essa doença foi analisada em 250 membros <strong>de</strong> uma família(quatro gerações) e cursa com tortuosida<strong>de</strong> e variaçãono calibre dos vasos, hemorragias, telangectasias,oclusão vascular periférica e central e progressão pararetinopatia proliferativa.Apesar <strong>de</strong> vários relatos e séries, pouco se conhecesobre a incidência, o padrão <strong>de</strong> ocorrência e afreqüência das conseqüências secundárias na T.V.R.C.Apenas um dos casos aqui expostos foi <strong>de</strong> diagnósticocasual. Nos <strong>de</strong>mais, perturbações visuais estavampresentes. O achado predominante foi a anomaliamorfológica dos vasos retinianos envolvendo artérias eveias. Fatores predisponentes como uso <strong>de</strong> drogas, doençascardiovasculares, hematológicas e endocrinológicasforam excluídos. O aspecto das hemorragias intraretinianasdispersas nos quatro quadrantes, semelhante àfundoscopia <strong>de</strong> oclusão <strong>de</strong> veia central da retina foi encontradoem dois pacientes não tendo sido observadosfocos <strong>de</strong> exsudação ou escapes. A T.V.C.R é um diagnóstico<strong>de</strong> exclusão, somente firmado após rigorosa avaliaçãoclínica e laboratorial, afetando a todos os quadrantes daretina. Apenas alguns familiares <strong>de</strong> nossos casos foramexaminados, sendo curioso o achado do quadro em umacriança. Dois casos tiveram em comum o aspecto recorrentedas hemorragias e ausência <strong>de</strong> seqüela funcional.Ressalta-se que sempre há certo grau <strong>de</strong>tortuosida<strong>de</strong> nos vasos da retina, como suaves ondulaçõesno sentido lateral <strong>de</strong> seu percurso; portanto, nãoexiste um limite preciso entre um trajeto vascular <strong>de</strong>tortuosida<strong>de</strong> normal e outro anômalo. O diagnósticoampara-se na apresentação clínica individual, fortalecendo-sena presença dos sinais aqui <strong>de</strong>scritos.Sabe-se que a tortuosida<strong>de</strong> acentua-se com aida<strong>de</strong>, principalmente durante a adolescência, fato inerenteà angioesclerose. Porém, na T.V.C.R. os achadossão precoces, po<strong>de</strong>ndo ter como complicação osurgimento <strong>de</strong> hemorragias que po<strong>de</strong>m cursar com diminuiçãoda acuida<strong>de</strong> visual, se atingirem a mácula.Ocorrem espontaneamente ou após pequeno trauma.A<strong>de</strong>speito do sangramento recorrente, a visão costumaretornar a seus níveis normais.Ainda em relação à patogênese, observa-se quehá uma ligação entre tortuosida<strong>de</strong> vascular retiniana,diâmetro e pressão transmural. Acredita-se que com aelevação <strong>de</strong>sta última, há um aumento no diâmetrovascular. Por outro lado, a tortuosida<strong>de</strong> não aumenta atéque uma pressão crítica seja alcançada. Isto sugere que
124Roberta S Santos, Cláudia Tyllmann, Ricardo R Amin, Manuel A P Vilelanas pressões transmurais elevadas a tortuosida<strong>de</strong> é oindicador mais sensível, enquanto nas baixas pressões odiâmetro acaba tendo uma sensibilida<strong>de</strong> maior (9) .Formas secundárias <strong>de</strong> tortuosida<strong>de</strong> vascular sãomais freqüentes e conhecidas, tais como as causadaspela policitemia, leucemia, disproteinemia, anemia <strong>de</strong>células falciformes, disautonomia familiar, mucopolissacaridoseVI, e doença <strong>de</strong> Fabri (10) . Quando restritasàs artérias, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> coarctação da aorta ehipertensão arterial sistêmica não maligna <strong>de</strong>vem serconsi<strong>de</strong>radas. Tortuosida<strong>de</strong> venosa isolada, que é sempreacompanhada por dilatação e obscurecimento dacoluna <strong>de</strong> sangue, po<strong>de</strong> ocorrer em casos <strong>de</strong> obstruçãovenosa e doenças que causam hiperviscosida<strong>de</strong>.Tortuosida<strong>de</strong> mista <strong>de</strong> artérias e veias, que é a formamais comum, aparece em doenças cardíacas congênitas,doença <strong>de</strong> Coats, Von Hippel e Whippel. Existemtrês mecanismos fisiopatológicos responsáveis por essasanomalias circulatórias: fluxo turbulento, fluxo lentoe repercussão trombo-embólica da circulaçãosistêmica (10-12) .Po<strong>de</strong>-se inferir pelo contexto exposto que a histórianatural da T.V.C.R. é favorável, mesmo se complicada pelaocorrência <strong>de</strong> hemorragias. Não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interferênciaterapêutica. Nossos casos e <strong>de</strong> outros cursaram <strong>de</strong>staforma, não exibindo, à angiografia fluoresceínica, fontestransitórias ou permanentes <strong>de</strong> escape. É interessante aobservação em longo prazo das crianças com TVRC, nomínimo para evitar enganos diagnósticos.SUMMARYWe report three cases of congenital retinal vasculartortuosity, discussing their clinical findings and diagnosis,and the evolution of the disease. Retrospective research,on the retinal <strong>de</strong>partment, for the last five years, with casereport and literature review. Three cases. First, BCW, 43years old, complaining dark stain which on indirectophtalmoscopy shows exaggerated tortuosity of retinalvessels and retinal hemorrhages. The second, ECF, 48 yearsold, complaining low visual acuity, with indirectophtalmoscopy examination presenting tortuositypunctual dispersed hemorrhages. The third, RA, 27 yearsold, come for hor<strong>de</strong>olum, and the indirect ophthalmologicexamination reveal exaggerated arteriovenous tortuosity.Congenital retinal vascular tortuosity is a rare diseasewith possible genetically inheritance. Recurrent retinalhemorrhages could be present with spontaneous resolution.There is a good visual prognosis.Keywords: Retinal artery/abnormalities; Eyeabnormalities; Case reports [publication type].REFERÊNCIAS1. Beyer EM. [Familial Tortuosity of the smal retinal arteriesaccompanied by hemorrhagin of the macula]. Klin MonatsblAugenheilkd. 1958; 132:532-39. Germany.2. Sears J, Gilmam J, Sternberg P Jr. Inherited retinal arteriolartortuosity with retinal hemorrages. Arch Ophthalmol. 1998;116:1185-88.3. Kayazawa F, Machida T, Retinal arteriolar tortuosity withmacular hemorrhage. Ann Ophthalmol. 1983; 15: 42-3.4. Gauss H. [On the path of vessels in the retina]. ArchOphthalmol. 1930; 123: 427. Germany.5. Awan KJ, Arteriolar vascular abnormalities of the retina. Arch.Ophthalmol. 1977; 95: 1197-202.6. Wells CG, Kalina RE, Progressive inherited retinal arteriolartortuosity with spontaneous retinal hemorrhages.ophthalmology 1982; 92: 1015-24.7. Johns KJ, Johns JA, Ferman SS, Retinal vascular abnormalitiesin patients whit coarctation of the aorta. Arch Ophthamol.1991;109:1266-8.8. Storimans CWJM, Oosterhuis JA, Van Schooneveld MJ, BOSPJM, Maaswinkel-Mooy PD, Familial vascular retinopathy.Documenta Ophthalmol. 1990; 75:259-261.9. Hart HE, Measurement and classification of retinal vasculartortuosity. Intern Med Informatics. 1999; 53: 239-52.10. Gass JDM, Stereoscopic atlas of macular diseases diagnosisand treatment. 4 ed. St Louis, Mosby, sd. p.438.11. Wise GN, Colint D, Henking P, The retinal circulation. NewYork, Harper e Row, 1971. p. 220-1.12. Nano HM, Fundus oculi: patologia vasculo-retiniana. BuenosAires, Optimus, 1953. p. 282-3.ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:Departamento <strong>de</strong> Ensino, Curso <strong>de</strong> Especialização“Ivo Corrêa-Meyer”Rua Félix da Cunha, 496Porto Alegre-RS - CEP 90570-000E-mail: iicm@terra.com.brRev Bras Oftalmol. 2005; 64 (2): 121-124
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