Obstrução nasolacrimal congênita - diagnóstico129Figura 1: Desenvolvimento embrionário da via lacrimal excretoraFigura 2: Variações na terminação do ducto nasolacrimal (Schaeferet al., 1987). A via lacrimal po<strong>de</strong> ser apenas imperfurada no nível daVálvula <strong>de</strong> Hasner que é o primeiro esquema superior esquerdo até nãoocorrer a formação do canal ósseo por on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve transitar o ductonasolacrimal<strong>de</strong> 90% das mesmas. Porém, a obstrução congênita doducto nasolacrimal não apresenta quadro único, uma vezque existem variações anatômicas importantes nestaregião; já foram <strong>de</strong>scritos 8 possíveis tipos <strong>de</strong> terminaçõesdo ducto nasolacrimal nos portadores <strong>de</strong> obstruçãonasolacrimal congênita (2) (fig. 2).EVOLUÇÃO NATURAL DA OBSTRUÇÃONASOLACRIMAL CONGÊNITAA cavitação da via lacrimal excretora (VLE) <strong>de</strong>vese completar por volta do 8º mês <strong>de</strong> vida intra-uterina.Entretanto, alguns recém-nascidos nascem com falta <strong>de</strong>canalização completa do ducto, po<strong>de</strong>ndo isso ocorrer em1,75 (3) até 73% (4) das crianças, lembrando que o estudo <strong>de</strong>Cassady 4 foi realizado em natimortos e, portanto, em bebêsque, em tese, não seriam normais.Como a produção <strong>de</strong> lágrimas não se inicia nos primeirosdias após o nascimento, as obstruções congênitas daVLE não são <strong>de</strong>tectadas precocemente. Investigaçãorandomizada mostrou que cerca <strong>de</strong> 78,5% dos recém–nascidosapresentam obstrução da excreção lacrimal ao teste<strong>de</strong> Jones modificado, com correlação positiva entre aumentoda permeabilida<strong>de</strong> da via lacrimal e o grau <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>da criança. (5) Portanto, provavelmente, a maioria das criançasnasce com a via lacrimal não totalmente canalizada,não se constatando lacrimejamento pela ausência <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> lágrimas nessa fase.A canalização po<strong>de</strong> se completar logo após o nascimentoou um pouco mais tar<strong>de</strong>, havendo chance <strong>de</strong>cura espontânea do nascimento até 1 ano <strong>de</strong> vida emcerca <strong>de</strong> 80 a 90% dos casos. (6-8)Em estudo <strong>de</strong> Cohort, avaliando-se 4792 criançasno 1º ano <strong>de</strong> vida, observou-se 20% com obstruçãonasolacrimal; <strong>de</strong>stas, 95% ficaram assintomáticas no 1ºano <strong>de</strong> vida e 98% tiveram remissão espontânea dolacrimejamento. (9)A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> remissão espontânea diminuicom a ida<strong>de</strong>. Assim, há relatos <strong>de</strong> resolução espontâneaem 66% nas crianças com 6 meses e <strong>de</strong> 43% nascom 9 meses <strong>de</strong> vida. (10) Este conceito é clássico e amesma observação foi feita por outros, que verificaramresolução espontânea em 93% antes <strong>de</strong> 1 ano e 79%após 1 ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. (11)Interessante revisão sobre ahistória natural da obstrução congênita do ductonasolacrimal foi feita por Paul & Shepherd (12) , <strong>de</strong>monstrandoque a resolução espontânea po<strong>de</strong> ocorrer entreRev Bras Oftalmol. 2005; 64 (2): 128-132
130Schellini SAFiguras 3 e 4: Observar os olhos lacrimosos, porém “calmos”, comos cílios “colados”. A criança da figura 4 apresenta obstruçãonasolacrimal e fístulas bilateralmente.os 2 até os 16 meses <strong>de</strong> vida da criança e que os índices<strong>de</strong> cura diminuem com o avançar da ida<strong>de</strong>.Porém, não só a ida<strong>de</strong> da criança <strong>de</strong>termina a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> cura. Já foi observado que a chance <strong>de</strong> curadiminui quando o saco lacrimal se encontra dilatado eque o local da obstrução também é importante, sendo <strong>de</strong>melhor prognóstico a obstrução na Válvula <strong>de</strong> Hasner. (13)QUADRO CLÍNICO DA OBSTRUÇÃOCONGÊNITA DAS VIAS LACRIMAISHá que se consi<strong>de</strong>rar 2 gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> patologias:1) obstrução da via alta: a criança apresentaráepífora (ou lacrimejamento passivo), na presença <strong>de</strong>“olho calmo”, sem secreção ocular espontânea ou à expressãodo saco lacrimal.2) obstrução da via lacrimal baixa: a criança tambémexibirá epífora, na presença <strong>de</strong> “olho calmo”, compresença <strong>de</strong> secreção a<strong>de</strong>rida aos cílios ou nos fundos-<strong>de</strong>saco.A secreção po<strong>de</strong> ser aparente apenas após expressãodo saco lacrimal. Nos casos em que o saco lacrimal ébastante dilatado (mucocele do saco lacrimal), po<strong>de</strong>–seobservar nodulação localizada no canto interno e abaixodo ligamento cantal medial. O lacrimejamento, em geral,é bilateral, permanecendo unilateral em porcentagemexpressiva <strong>de</strong> casos (Fig 5 e 6).É importante salientar que a epífora, tanto na obstruçãoalta, como na baixa, inicia-se por volta dos primeiros15 dias <strong>de</strong> vida da criança. Isto ocorre pois, comojá citado anteriormente, a produção lacrimal inicia-senesta fase, sendo este um dado importante para diferenciara obstrução primária <strong>de</strong> outras afecções.Outro fato essencial é que o olho é normal, ouseja, trata-se <strong>de</strong> lacrimejamento passivo e não <strong>de</strong>lacrimejamento ativo, que ocorre, em geral, como conseqüência<strong>de</strong> doenças oculares, como uveíte, glaucoma,ceratite.Interessante notar que a obstrução nasolacrimalapresenta freqüências para os sexos semelhantes na infância13,14 , diferindo do que ocorre em adultos, quando afreqüência <strong>de</strong> obstruções é muito maior em mulheres,excetuando-se as <strong>de</strong> etiologia traumática.As alterações da VLE po<strong>de</strong>m estar associadas aoutras anomalias, como lábio leporino e fissuras palatais,imperfuração da coana nasal, mucoceles nasais ealterações sistêmicas, como tetralogia <strong>de</strong> Fallot, síndrome<strong>de</strong> Down. Lembrando que na síndrome <strong>de</strong> Down existetambém um fator local para a epífora, a falha <strong>de</strong> funcionamentoda bomba lacrimal por atonia dos músculosfaciais.MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS RARAS DAOBSTRUÇÃO NASOLACRIMAL CONGÊNITA1) Amniotocele (ou dacriocistocele) – é quando,ao nascimento, a criança apresenta nodulaçãoavermelhada ou arroxeada e e<strong>de</strong>matosa na região dosaco lacrimal. Postula-se que líquido amniótico estejarepresado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> saco lacrimal em via lacrimalobstruída, mas não se comprovou em laboratório a origemdo líquido presente no saco lacrimal. Não há sinaisflogísticos (Fig. 5).2) Dacriocistite aguda – é rara em portadores <strong>de</strong>obstrução nasolacrimal congênita. O quadro clínico ésemelhante ao observado em adultos. A infecção po<strong>de</strong>ficar restrita ao saco lacrimal (dacriocistite) ou se esten<strong>de</strong>rpara os tecidos vizinhos (pericistite - Fig. 6; celulitepré-septal – Fig. 7), ou mesmo para a órbita (celuliteorbitária), sendo, este último, um quadro muito mais raro.3) Mucocele intranasal – o ducto po<strong>de</strong> protruirpara <strong>de</strong>ntro da cavida<strong>de</strong> nasal, levando, principalmentequando bilateral, à dificulda<strong>de</strong> respiratória.Propedêutica da via lacrimal excretoraA queixa <strong>de</strong> lacrimejamento que surge na 1ª ou2ªsemana <strong>de</strong> vida, com ausência <strong>de</strong> alterações oculares,Figura 5: Recém-nascidoapresentando amniotocele àesquerda, com coloraçãoarroxeada.Rev Bras Oftalmol. 2005; 64 (2): 128-132
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