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Dossiê Experimentações Urbanaspelo centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de como local <strong>da</strong> intervenção é uma forma de ler oilegível, de reduzir os 1500 km2 de mancha urbana, uma área sem limites,a um princípio fun<strong>da</strong>mental de diversi<strong>da</strong>de que pode ser mapeado pelaoperação pré-cartográfica do passeio por rotas projeta<strong>da</strong>s, itinerárioshumanos, em lugar de plantas científicas. Talvez não haja nenhum modode recuperar o controle mental do espaço urbano, nenhum modo demapear a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de nessa dinâmica caótica. Mas, enfocando ocentro, Alÿs vai contra as correntes <strong>da</strong> história que reduziram o centro <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de a um centro “histórico”, um lugar de melancolia dramática, umterritório de negligência pública que foi abandonado pelos planejadores<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de por meio século. Ao contrário <strong>da</strong> tendência histórica <strong>da</strong> maioria<strong>da</strong>s megaci<strong>da</strong>des ocidentais, a gentrificação do centro por meio de reformase valorizações bem planeja<strong>da</strong>s dos imóveis nas partes antigas do tecidourbano nunca foi realmente bem sucedi<strong>da</strong>. Mesmo que tenha havidoalgumas tentativas de usar uma estratégia similar na América Latina, elasnão mu<strong>da</strong>ram a reali<strong>da</strong>de presente. No México, os marcos <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de deouro do centro – La Merced, a Área dos Estu<strong>da</strong>ntes, as Vizcaínas, Meavee Santa Cruz, Plaza Garibaldi e Alame<strong>da</strong> Central – são, agora, ruínasmelancólicas de uma história irrecuperável. No passado, o México era, noque se refere à imagem, um país com um centro único, a Ci<strong>da</strong>de do México,uma ci<strong>da</strong>de sustenta<strong>da</strong> durante séculos por suas funções cerimoniais,religiosas e políticas, um lugar onde o símbolo e a reali<strong>da</strong>de eram inseparáveis.O processo histórico de abandono e decadência do centro é longo ecomplexo, porém, como indica Carlos Monsivais, dois fatores principaispodem ser definidos. A transferência <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de nacional, nos anos60, dos prédios históricos originais para o novo e moderno campus emestilo norte-americano <strong>da</strong> UNAM, construído durante o governo do presidenteMiguel de Alemán, interrompeu a importância cultural do centro, e a aberturado sistema de metrô nos anos 70 apenas ajudou a aumentar ain<strong>da</strong> mais amultidão nas ruas do bairro central, sem oferecer realmente uma reformaou inovação. Assim, qual é o centro do México hoje? O que resta dele? Oque foi feito de sua grandeza passa<strong>da</strong>? Deixemos falar novamente Monsivias,o mais proeminente escritor e comentador <strong>da</strong> cultura mexicana contemporânea:Multiplici<strong>da</strong>d de comercios, museos extraordinarios, pequeñas fábricas, librerías,vecin<strong>da</strong>des, museos, oficinas públicas, bufetes, consultorios médicos, fon<strong>da</strong>s,restaurantes, cantinas, refresquerías, escuelas, teatros de burlesque, la plazamariachera, cerrajerías, pastelerías, templos remodelados, almacenes de ropa,hoteles de primera y de tercera, albergues, salones de baile, la Alame<strong>da</strong>... Yantros para casi todos los gustos (entre las excepciones, los dedicados a viu<strong>da</strong>snonagenarias y gángsteres honrados a carta cabal), antros para jóvenes pasantesy profesionistas, gays, obreros, desempleados, subempleados, estudiantesganosos de averiguar como se divertían antes los de entonces, grupos deamigos no muy convencidos del riesgo que es el sinónimo de las madruga<strong>da</strong>salegres. (2006: 111-112)Examinar a ci<strong>da</strong>de por meio do espelho fragmentado do centro é umaforma de restaurar seu valor simbólico e mostrar como o desenvolvimentona América Latina é, muitas vezes, sinônimo de negligência e abandono<strong>da</strong> história, <strong>da</strong> herança e <strong>da</strong> tradição. É aqui que o artista encontra materialpara a crítica, mas também para uma fabulação imaginária e uma profecia<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de futura; é aqui que ele dá forma às relações humanas e àsestruturas invisíveis que nenhum mapa pode captar. Vagar nos bairroslocais próximos a seu estúdio é, ao mesmo tempo, uma forma de reinventara viagem de descobrimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, onde viajar se tornou um desafiodiário de resistência para milhões de pessoas. Um dos principais problemas<strong>da</strong>s megaci<strong>da</strong>des latino-americanas é a distância entre a casa e o trabalho,e, na Ci<strong>da</strong>de do México, estima-se que cerca de 30 milhões de pessoasviajam todos os dias por veículos públicos ou privados. A ca<strong>da</strong> dia, 5milhões de pessoas usam o metrô e mais de 3 milhões de carros percorremas ruas. Essas estatísticas mostram um enorme problema de infra-estrutura,mas também indicam em que lugar <strong>da</strong>s ruas a maioria dos encontrosmulticulturais realmente ocorrem e onde o medo e o desejo estão catalisandoo contorno imaginário <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. A caminha<strong>da</strong> pelas ruas não é mais umaencenação <strong>da</strong> autonomia moderna e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de pessoal, mas o últimorecurso de movimento e transporte que resta para uma populaçãodesprivilegia<strong>da</strong>, e a aventura <strong>da</strong> descoberta em muitas <strong>da</strong>s grandes ci<strong>da</strong>des<strong>da</strong> América Latina termina por ser um exercício diário de resistênciae sobrevivência.O trabalho performático de Alÿs eluci<strong>da</strong> uma outra relação mais profun<strong>da</strong>entre os níveis <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de não captura<strong>da</strong> pelas divisões de naturezasociológica de Canclini. Podemos ver que Alÿs trabalha simultaneamenteem vários dos níveis pauta<strong>da</strong>s por Canclini, entretanto, mostra, pelo privilégiooferecido ao centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, que o nível simbólico, no sentido semiótico~ 6.2 | 2007~ 27

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