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Dossiê Debatepode ser pensado como tendo seu início em 1958, quando <strong>da</strong> transferência<strong>da</strong> equipe de Niemeyer e dos primeiros projetos de painéis de Athos Bulcãopara compor a arquitetura de Brasília. A ci<strong>da</strong>de modernista compõe-seesteticamente com uma arte clara, purista, limpa, dentro dos parâmetros doconstrutivismo <strong>da</strong> época. Muitos artistas, em segui<strong>da</strong>, deslocam-se para anova capital, sobretudo após a inauguração <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, em 1962, queexigia profissionais para preencher os lugares e ensinar na instituição. AméliaToledo, vin<strong>da</strong> de São Paulo, Gastão Manuel Henriques, do Rio, GlênioBianchetti, do Rio Grande do Sul, Rubem Valentim, <strong>da</strong> Bahia, via Rio de Janeiro,todos chegaram atraídos pelas novas possibili<strong>da</strong>des que se descortinavamem uma ci<strong>da</strong>de nova em que tudo estava por fazer. Alguns ficaram poucotempo, outros se estabeleceram definitivamente na ci<strong>da</strong>de.Durou pouco esse festim utópico <strong>da</strong>s artes. Com o advento do regimemilitar, mas sobretudo após o Ato institucional n° 5, promulgado em 1968,muitos artistas foram afastados <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, e outros se afastaram<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de que, segundo o depoimento de alguns, parecia um quartel. Doponto do vista dessa pesquisa, o Salão Nacional de 1967 também tornouseemblemático por exibir a distância que, naquele momento, se estabeleceuentre o campo artístico e o campo político. A exibição de uma obraconceitual, irreverente e transtornante – o “Porco empalhado”de NelsonLeirner – desencadeou intenso debate sobre a atribuiçào de valor emarte, evidenciou como a arte brasileira entrava na contramão, demarcando-see impedindo sua identificação com o regime. Ruptura, confronto entre aforça, a potência, <strong>da</strong> arte e o poder repressivo de um estado militar, a censura,a tortura, extradições, prisões, assassinatos, tudo aquilo que os artistas nãopodiam nem denunciar nem escapar. A arte que emerge então traz as marcasde uma arte suja, marginal, bem distante dos projetos <strong>da</strong> cultura oficial. Aci<strong>da</strong>de começa assim a expulsar seus artistas que ganham o Rio ou SãoPaulo, compondo a cena artística <strong>da</strong>quelas ci<strong>da</strong>des, onde já havia gruposde artistas organizados de forma mais indepedente <strong>da</strong> política. Segundodepoimentos dos que ficaram em Brasília entre 1967 e 1972, período demais forte autoritarismo, aqueles foram anos abafados, sem ar, quando aci<strong>da</strong>de parecia um quartel e os jovens, ain<strong>da</strong> assim, precisavam criar.Antes mesmo <strong>da</strong> inauguração <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, quando o local era apenasum canteiro de obras, vieram arquitetos, artistas, engenheiros eescritores como Joaquim Cardoso e Samuel Rawet, Nauro Esteves, Alcides<strong>da</strong> Rocha Miran<strong>da</strong>, Milton Ramos, João Filgueiras. Naquele momento,havia consenso sobre os valores modernistas presentes nos edifícios, nodesenho e no mobiliário urbanos, assim como nos painéis azulejares oude concreto concebidos por Athos Bulcão, o artista plástico do grupo.A partir de meados dos anos 1960, Brasília já possuía uma pequenacomuni<strong>da</strong>de de intelectuais. A universi<strong>da</strong>de havia sido inaugura<strong>da</strong> em 1962e, com ela, vieram artistas-professores e revistas e livros de arte para comporsuas bibliotecas. Pela ci<strong>da</strong>de circulavam jovens bem informados que, tendoexperiências de outras ci<strong>da</strong>des, contribuíram para escrever uma parte <strong>da</strong>história <strong>da</strong>s artes em Brasília. Eles assumiram uma posição não-oficial,contra-cultural ou mesmo marginal, como eles próprios se denominavam.Esse é um momento de redefinição <strong>da</strong>s regras, de novos conflitos entre oestético, o artístico e o político, campos dotados de forças próprias e que,naquele momento, divergiam ou colidiam.Em meados de 1980, ocorrem mu<strong>da</strong>nças significativas no regime políticocom a redemocratização do estado, as eleições em 1984, a Constituinteem 1988, assim como no regime <strong>da</strong>s artes, caracterizando-se por um ladopor acolher e propor agen<strong>da</strong>s mais politiza<strong>da</strong>s e alinha<strong>da</strong>s com a experiênciacontemporânea; por outro lado, sob o prisma de suas condições de produção,por absorver mu<strong>da</strong>nças institucionais importantes nos mecanismos depatrocínio e de divulgação <strong>da</strong> produção artística <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, novas alterações estéticas e políticasprovocam rearranjos no campo e redefinem as relações de força. Astransformações se dão tanto internamente, no campo <strong>da</strong>s artes, quantoexternamente, no campo político, com a redemocratização e com as novasmo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de mecenato e deman<strong>da</strong>s do mercado. Quanto às mu<strong>da</strong>nçasinternas ao campo <strong>da</strong>s artes, poderiam ser citados o esgotamento dos valoresestéticos <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de e as novas linguagens torna<strong>da</strong>s possíveis pelastecnologias de produção de imagens e sons . Os fluxos de informação setornam mais importantes que os deslocamentos concretos. Os artistas nãose organizam mais em grupos ou movimentos, embora sejam capazes deformar coletivos temporários para participar de eventos efêmeros, o queacontece com muita frequência, utopias efêmeras de intervenção nosespaços urbanos, na dignificação pela arte de espaços degra<strong>da</strong>dos.Prolegômenos a uma tentativa de periodização:novas questões metodológicasPor se tratar de períodos bastante longos – tanto o que se refere a Salvador(1549–1763) quanto o que se refere ao Rio de Janeiro (1763–1960) –, foinecessário trabalhar com demarcações temporais que permitam recortes~ 6.2 | 2007~ 89

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