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Fragmentos urbanos: identi<strong>da</strong>de, moderni<strong>da</strong>de e cosmopolitismo nas metrópoles latino-americanas<strong>da</strong> estética modernista latino-americana, ao contrário, os contrastes, asintersecções e os produtos desse cruzamento entre o ocidental e o nãoocidentalsão os motores para a própria constituição <strong>da</strong> sua cultura e identi<strong>da</strong>de.Se os artistas e intelectuais periféricos professam naturalmente esse“sincretismo cultural”, essa mistura de influências e modelos, nas metrópoleslatino-americanas o ci<strong>da</strong>dão comum também vai ser forçado a entrar emcontato com esta fusão: arranha-céus imponentes e, lá embaixo, carros deboi atravessando as ruas, salões de chá à inglesa e casas de candomblé,passeios de domingo nos bulevares e lutas de faca entre compadritos. Oslatino-americanos, principalmente no século XIX, refazem uma Europa apartir <strong>da</strong> fantasia, mas não conseguem impedir a emergência de elementosincongruentes com esse desejo cosmopolita. Os modernistas/vanguardistas,ao invés de tentar esconder ou impedir a aparição dos desestabilizadores <strong>da</strong>europeização, promovem e estimulam o aproveitamento dessa estética quedesperta uma hibridização cultural consciente na América Latina. Com isso,então, caracterizando uma moderni<strong>da</strong>de (estética) capaz de ir se tornandoindependente aos poucos de uma urbani<strong>da</strong>de estritamente européia,uma moderni<strong>da</strong>de que depende tanto <strong>da</strong> projeção de possíveis futurosmetropolitanos como <strong>da</strong> reelaboração do arcaico dentro de uma ci<strong>da</strong>decheia de novi<strong>da</strong>des e tecnologia.Será esta a “diferença”, o traço comum latino-americano que ao mesmotempo insere e afasta a América Latina <strong>da</strong> tradição ocidental, em segui<strong>da</strong><strong>da</strong>ndo possibili<strong>da</strong>des de subvertê-la e inová-la? Esta pergunta só pode serelabora<strong>da</strong> esquematicamente a partir dos movimentos modernistas evanguardistas na região, pois, mesmo que antes ela estivesse embuti<strong>da</strong> emqualquer manifestação cultural, a organização, o repensar teórico <strong>da</strong>s questõesdo nacional, <strong>da</strong> tradição, <strong>da</strong> cópia e/ou rejeição <strong>da</strong> cópia e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,confrontados com a moderni<strong>da</strong>de tecnológica, urbana e social, só seconcretizam como área de estudo ou programa estético-filosófico a partirdo século XX, com a constituição de movimentos específicos e com oaparecimento de uma consciência dialética por parte dos artistas e intelectuaisque os criaram. As concepções “latino-americanas” de moderni<strong>da</strong>de emodernismos, contudo, não são apreendi<strong>da</strong>s ou reconheci<strong>da</strong>s de imediato.Os modernismos e vanguar<strong>da</strong>s periféricos são simplesmente ignorados, ousão identificados como apenas imitações (mais ou menos) fiéis, dependendo <strong>da</strong>“habili<strong>da</strong>de” e do cosmopolitismo do modernismo europeu; ou, no melhordos casos, como parte menor do projeto totalizador de moderni<strong>da</strong>de ocidental.Um dos <strong>da</strong>dos mais importantes, entretanto, é que, embora a existência<strong>da</strong> consciência moderna e cosmopolita especificamente latino-americananão tenha muita relevância num contexto internacional, para os latinoamericanosela representa a possibili<strong>da</strong>de de “redescoberta” e “retoma<strong>da</strong> deposse” dos seus próprios países e tradições, além <strong>da</strong> revisão e reavaliação<strong>da</strong> própria tradição ocidental. Como postulou Borges em 1932:Creo que los argentinos, los su<strong>da</strong>mericanos en general, estamos en la situaciónanáloga [à dos irlandeses dentro <strong>da</strong> cultura inglesa]; podemos manejar todoslos temas europeos, manejarlos sin supersticiones, con una irreverencia quepuede tener y ya tiene, consecuencias afortuna<strong>da</strong>s. (BORGES, 1989, 273)Ou seja, o otimismo — ou a visão afirmativa <strong>da</strong> cultura argentina ou sulamericana— de Borges pode não significar muito em termos <strong>da</strong> presençano “cânone ocidental”, mas ao longo <strong>da</strong>s várias déca<strong>da</strong>s que sucederam-seàs suas primeiras vanguar<strong>da</strong>s, a cultura latino-americana vem constituindosecomo um corpus que vai conseguir interferir, fazer parte e, inclusive,demarcar novos preceitos para este cânone.Referências bibliográficas:BELLUZZO, Ana Maria de Moraes (org). Moderni<strong>da</strong>de: Vanguar<strong>da</strong>s artísticas naAmérica Latina. São Paulo: Memorial/UNESP, 1990.BORGES, Jorge Luis. “El escritor argentino y la tradición”. In: Obras completas.Buenos Aires: Emecé, 1989.GORELIK, Adrián. Mira<strong>da</strong>s sobre Buenos Aires. Historia cultural y crítica urbana.Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2004.MORSE, Richard M. O espelho de Próspero. <strong>Cultura</strong> e idéias nas Américas. São Paulo:Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1988.MORSE, Richard M. New World Soundings. Baltimore: The Johns Hopkins UniversityPress, 1989.NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque tropical. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1993.SAID, Edward. Culture And Imperialism. London: Vintage, 1994.SANGARI, Kumkum. “The Politics Of The Possible”. In: The Postcolonial StudiesReader (edited by Bill Ashcroft, Gareth Griffiths, Helen Tiffin). London/ New York:Routledge, 1994.SCHWARTZ, Jorge. Vanguar<strong>da</strong> e cosmopolitismo na déca<strong>da</strong> de 20. Oliverio Girondo eOswald de Andrade. São Paulo: Perspectiva, 1983.YOUNG, Robert J. Colonial Desire: Hybridity in Theory, Culture and Race. London:Routledge, 1995.64 ~

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