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Dossiê Debateos historiadores sobre o estatuto <strong>da</strong> “Missão Francesa”. Se ela ocorreu apartir de uma iniciativa dos próprios artistas ou se foi um convite do conde<strong>da</strong> Barca e do marquês de Aguiar. O fato é que, em 26 de março de 1816,trazidos a bordo do veleiro americano Calpe, desembarcam no Rio de Janeiro– ci<strong>da</strong>de escolhi<strong>da</strong> por ser sede <strong>da</strong> corte – artistas de muitas especiali<strong>da</strong>des,sob o comando de Joachin Lebreton. Grandjean de Montigny, Debret, Taunay,Pradier são alguns dos que participaram dessa expedição e que marcarama cultura brasileira, deixando um acervo de documentos visuais preciosospara a compreensão do período, do olhar estrangeiro sobre o Brasil.Outro fato é que aqueles artistas foram acolhidos por d. João VI e seusministros. A Missão traz uma redefinição completa <strong>da</strong>s regras e dos códigosestéticos – ain<strong>da</strong> lusitanos, herança colonial – e consegue, não semenfrentar resistências, impor a arte acadêmica como hegemônica. Háuma enorme literatura sobre a mutação brusca dos hábitos e práticassociais acarreta<strong>da</strong> pela presença <strong>da</strong> Família Real na ci<strong>da</strong>de, torna<strong>da</strong> modeloe parâmetro para as classes burguesas e abasta<strong>da</strong>s.A partir <strong>da</strong> independência, em 1822, mesmo que tenham sido doisimperadores portugueses a ocuparem o trono, os governantes empenharam-seem organizar a nação em outras bases, chamando os intelectuais paraessa tarefa. Nosso Romantismo não foi nenhum vento de revolta, masum momento de construção de narrativas oficiais sobre a jovem naçãolivre. Era ain<strong>da</strong> muito recente a mu<strong>da</strong>nça do estatuto colonial. Lê-se, emtudo, um espírito contemporizador, um conservadorismo e um aulicismoque impregnaram to<strong>da</strong> a literatura, historiografia e pintura que se desenvolviamem torno <strong>da</strong> Corte, marca<strong>da</strong> também pela presença constante de viajantes,artistas e naturalistas estrangeiros que visitavam o Brasil. Modelos estéticose gêneros acadêmicos foram trazidos pelos artistas que freqüentavam osateliers dos mestres <strong>da</strong> Academia em Paris.A independência não poderia deixar de ser um marco político comprofun<strong>da</strong>s implicações no campo do ordenamento jurídico e no planoestético. Era necessário implementar instituições que permitissem estabeleceruma nova ordem jurídica e criar uma elite capaz de assumir postosadministrativos e políticos. 8 Uma instituição responsável pela pesquisa epela escrita <strong>da</strong> história nacional foi cria<strong>da</strong> em 1836, o Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro (IHGB), que se espalhou sob forma de sucursais nascapitais <strong>da</strong>s províncias e manteve correspondentes com academias científicasde várias partes do mundo, levantando, analisando e repatriando para oBrasil documentos importantes para a escrita <strong>da</strong> história nacional.Já para o final do mesmo século XIX, no plano <strong>da</strong>s idéias, os interessesvoltaram-se para ideologias liberais e progressistas, e todo o período colonialficou esquecido, sinônimo de atraso e desleixo. Essa desvalorização <strong>da</strong> tradiçãolusitana segue paralela à valorização <strong>da</strong> civilização francesa, o que atingeseu ápice na transição do (1900), a urbanização embelezadora, a mu<strong>da</strong>nçanos costumes que se seguiu, que se tornou conheci<strong>da</strong> como a belle époquecarioca. 9 São demolidos os imensos casarões coloniais e imperiais docentro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, ocupado pela população pobre, para <strong>da</strong>r lugar a novaspraças e aveni<strong>da</strong>s, palácios de mármore e cristal, pontilhados de estátuasimporta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Europa. Segundo os jornais <strong>da</strong> época, eram as “picaretasregeneradoras” que deixavam para trás a imun<strong>da</strong> e retrógra<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>decolonial (Sevcenko, 1985:30). Esse momento é tematizado na literaturanão como uma abstração, mas trazendo uma percepção viva, encarna<strong>da</strong>dos contemporâneos que assistiam às enormes transformações que seprocessavam na ci<strong>da</strong>de, tanto no campo social como na visuali<strong>da</strong>de, naarquitetura 10, quando dominou o ecletismo; o art nouveau e, posteriormente oart-déco se implantaram, sinônimos de bom gosto e moderni<strong>da</strong>de.(Sevcenko, 1985). A elite tornou-se mais intolerante em relação às práticaspopulares e às tradições africanas e defendia, de modo incondicional, amodernização, a julgar pelas crônicas <strong>da</strong> época. A velha ci<strong>da</strong>de tinha seusdias contados, as casacas e cartolas negras do Império cediam lugar aopaletó de casemira claro e chapéu de palha <strong>da</strong> Primeira República.No Rio de Janeiro do século XIX, dificilmente se pode falar de campona medi<strong>da</strong> em que to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> cultural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de se <strong>da</strong>va de forma muitovincula<strong>da</strong> ao poder político. Ain<strong>da</strong> bastante incipiente era a produçãoartística nesse momento de formação de uma intelligentisia e de um novoimpulso no esforço para a implantação de um processo civilizador – emodernizador – na ci<strong>da</strong>de. O Rio de Janeiro, sede <strong>da</strong> Corte, palco <strong>da</strong>stransformações urbanas visíveis, tornou-se o principal modelo dos novoshábitos, dos novos costumes, difundindo-os por to<strong>da</strong>s as capitais <strong>da</strong>s provínciasdo Brasil que passaram a compartilhar o ideal de modernização.Com o advento de práticas mais modernas e instituições laicas deensino, pode-se observar, ao longo do século XX, a paulatina e tími<strong>da</strong>autonomização do campo <strong>da</strong> arte, até uma institucionalização mais sóli<strong>da</strong>através <strong>da</strong> criação de museus, <strong>da</strong>s bienais, <strong>da</strong>s associações de críticos dearte, nos anos 1950, dos departamentos de artes nas Universi<strong>da</strong>des, a partirdos anos 1960. A arquitetura brasileira adquire grande prestígio e proeminênciagraças a uma conjuntura política e à existência de um grupo bem consoli<strong>da</strong>do~ 6.2 | 2007~ 87

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