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Dossiê Debateviolência, de outro. 3 O problema, desde o início, é que aquele complexoparecia, no caso brasileiro, uma miragem. Tempo e espaço eram ain<strong>da</strong> paraele, no Brasil do alvorecer do século XX, fatores disjuntivos. O sertão,isolado, se imunizara, avesso ao tempo; o litoral na<strong>da</strong> mais exibia que overniz de uma “civilização de empréstimo”, de modo similar desloca<strong>da</strong>. Acivilização, deste modo, era quimera, prevalecendo e persistindo umainadequação que abarcava tanto o eixo <strong>da</strong> História (estávamos fora dotempo) quanto o <strong>da</strong> Geografia (estávamos fora de lugar, desprovidos deum próprio). Daí a negativi<strong>da</strong>de, ou, por outra, a percepção de umconjunto de faltas, que perpassam Os sertões e se espraiam por outroslivros e ensaios do escritor: o brasileiro como ficção, colonizado,estrangeiro ou exilado no e do próprio país. 4Canudos, conforme Euclides <strong>da</strong> Cunha, fora um evento trágico quepoderia ter propiciado um ensinamento. Este, porém, não lhe parecia tersido aproveitado nem tampouco percebido pela imensa maioria de seuscontemporâneos. Daí, entre outras coisas, o escritor reclamar justamentea ausência de reflexões mais consistentes sobre aquele estranho, emboraeloqüente, descompasso, trazido à luz pelo episódio. A luta, como oshomens, e a terra, comportavam cama<strong>da</strong>s que de há muito se sobrepunhame que, se escava<strong>da</strong>s com paciência e perscruta<strong>da</strong>s com sabedoria, trariamum ganho de conhecimento, portanto político. 5 Eis aí o palimpsesto, ou olabirinto, que o escritor não se cansa de buscar e explorar, a partir dossertões, na escritura de Os sertões. Decifrar e cifrar, em Euclides <strong>da</strong>Cunha, são operações ou ativi<strong>da</strong>des complementares. Daí, também, apertinência e permanência do livro.Tratava-se enfim de, trazendo o sertão para a História, abrir, e abrir-separa, a nossa História. Simbólico, sacrifical e revelador, Canudos foi propostocomo o lugar ou o evento que propiciara a junção de elementos disjuntos,a conexão de desconectos. É o díspar, como o definiu Gilles Deleuze, “osombrio precursor, a diferença em si, em segundo grau, que põe emrelação às séries heterogêneas ou disparata<strong>da</strong>s” 6 . Canudos: lugarejoobscuro, Tróia ou Jerusalém de taipa, labirinto, ci<strong>da</strong>dela-mundéu, taperacolossal, caverna dos bandidos, vilarejo do sertão, tapera enorme, taperababilônica, arraial intangível, urbs monstruosa, cosmos, enfim, haviaproporcionado uma volta ao passado, um retorno que não se quer eterno:Insistamos sobre esta ver<strong>da</strong>de: a guerra de Canudos foi um refluxo em nossahistória. Tivemos, inopina<strong>da</strong>mente, ressurreta e em armas, uma socie<strong>da</strong>develha, uma socie<strong>da</strong>de morta... Não a conhecemos. Não podíamos conhecê-la.(...) Iludidos por uma civilização de empréstimo; respingando, em faina decopistas, tudo que de melhor existe nos códigos orgânicos de outras nações,tornamos, revolucionariamente, fugindo ao transigir mais ligeiro com asexigências <strong>da</strong> nossa própria nacionali<strong>da</strong>de, mais fundo o contraste entre onosso modo de viver e o <strong>da</strong>queles rudes patrícios... (...) Tivemos um espantocomprometedor ante aquelas aberrações monstruosas; e, com arrojo digno demelhores causas, batemo-los a carga de baionetas, reeditando por nossa vez opassado, numa entra<strong>da</strong> inglória, reabrindo nas paragens infelizes as trilhasapaga<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s bandeiras... (p. 244)Poderia ter sido, e poderia vir a ser, a porta de entra<strong>da</strong> para uma outraHistória, o acontecimento a partir do qual, invertendo o diagnósticoregressivo, “havia (que) temer-se o juízo tremendo do futuro”. 7 Canudosfora uma falta. 8 Uma falha <strong>da</strong> qual tinham despontado, junto às “cabeçasde-frade”,cactos que sugerem “a imagem singular de cabeças decepa<strong>da</strong>se sanguinolentas joga<strong>da</strong>s por ali a esmo, numa desordem trágica”, outrassingulares formas de vi<strong>da</strong>. Como aqueles “vegetais estranhos” que tantodespertaram a atenção do escritor, arbustos baixos cujas estranhas raízes“se entranham a surpreendente profundura”. E impossíveis, estes, deserem desenraizados, posto que, como ele atônito ressaltava, o “eixodescendente aumenta-lhes à medi<strong>da</strong> que se escava. Por fim se nota que~ 6.2 | 2007~ 93

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