13.07.2015 Views

d ownload pdf (4,43mb) - Blogs - Ministério da Cultura

d ownload pdf (4,43mb) - Blogs - Ministério da Cultura

d ownload pdf (4,43mb) - Blogs - Ministério da Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Dossiê Debateentretanto, não admitir ingenuamente, de antemão, que os latino-americanosseriam mais cosmopolitas que os europeus por esse motivo. De modo geral,inclusive, a afirmação de um produto cultural cosmopolita é mais relevantedentro de um contexto interno (a saber, de um nível nacional) que no contextoamplo exterior (internacional). Como se a cultura cosmopolita fosse maisimportante diante de um consumidor local (que estaria supostamente maisexposto aos fascínios <strong>da</strong>s “diferenças em desfile”) do que diante de ummercado mundial (já que o que faria “diferença” seria a cor local, a “diferença”regional ou as marcas folclóricas).Jeffrey D. Needell menciona um padrão comum nas relações entre a culturados colonizados e a dos colonizadores, como constando de três etapas: conflito,a<strong>da</strong>ptação e rejeição (NEEDELL, 1993, 12). De acordo com a sua abor<strong>da</strong>gem,estas três fases se estenderiam desde o início do processo colonialistapropriamente dito até um período em que já não se tratava de ser colônia,mas neocolônia (colonialismo cultural apenas, sem que necessariamenteexistisse vínculo oficial). As últimas déca<strong>da</strong>s do século XIX na AméricaLatina se inscrevem mais certamente na segun<strong>da</strong> fase do colonialismocultural, na qual é indispensável a a<strong>da</strong>ptação aos moldes cosmopolitaseuropeus para que os intelectuais (mais provavelmente também parte <strong>da</strong>elite econômica) destes países vejam a si próprios fazendo e tendo sentido.Desde a época colonial, a problematização <strong>da</strong> “impossibili<strong>da</strong>de” <strong>da</strong>afirmação de uma cultura autóctone e <strong>da</strong>s relações <strong>da</strong> colônia com a metrópolejá se havia configurado como o eixo de discussão sobre a identi<strong>da</strong>de cultural<strong>da</strong> América Latina. Entretanto, a adoção de modelos culturais europeus emum contexto diferente do original ia além do âmbito cultural, fazendo partede uma estrutura maior, que também dizia respeito a ordens econômicas earranjos políticos. A óbvia inadequação de certos modelos para o contextolatino-americano não impediu, contudo, que aparecessem soluçõesimprevistas, originais e sugestivas de combinação entre os elementosnativos e a imitação <strong>da</strong> metrópole.Inclusive, simultaneamente a esse movimento de constantementebuscar no estrangeiro (na metrópole) os embasamentos econômicos,culturais e políticos, surge também a ideologia <strong>da</strong> “identi<strong>da</strong>de nacional”.Justamente quando aparece a noção de que o produto de integração doelemento alienígena com o autóctone vai fun<strong>da</strong>r uma identi<strong>da</strong>de única,iniciará uma cultura propriamente nacional. As “identi<strong>da</strong>des nacionais”latino-americanas estariam sempre, portanto, sob o signo <strong>da</strong> miscigenação,do hibridismo, do “atraso” e, no mínimo, do descompasso (em relação àmetrópole). Considerando-se que tanto hibridismo quanto descompassosão conceitos extremamente negativos no pano de fundo dessa época(século XIX e início do século XX), a auto-imagem resultante para os paíseslatino-americanos não pode ser muito positiva. De um lado o hibridismo,que conota, durante o século XIX e grande parte do século XX, degeneraçãoracial e conseqüentemente sócio-cultural (YOUNG, 1995, 1-25); do outro odescompasso, o atraso em relação às organizações políticas, ao avançotecnológico, às mo<strong>da</strong>s culturais do “Centro” desenvolvido. A identi<strong>da</strong>decultural latino-americana foi, assim, sendo desconsidera<strong>da</strong> (tanto por europeuse norte-americanos como pelos próprios latino-americanos) ao longo dosséculos por sua “irrelevância” no mundo ocidental, por estar permanentementeneste lugar intermediário entre Mesmo ocidental e Outro exótico.O nó <strong>da</strong> questão é que a Ibero-América sempre foi vista, mesmo por seus pensadoresclássicos, não como autóctone, mas simplesmente como obsoleta. (MORSE,1988, 127)Apesar <strong>da</strong> hegemonia de uma visão negativa ou simplesmente negligente<strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des e culturas nacionais latino-americanas (principalmente <strong>da</strong>parte dos “metropolitanos” europeus e norte-americanos), não só despontamos nacionalismos, como também a construção de uma contra-ideologia,que mina e/ou relativiza as hierarquias, e de uma dialética <strong>da</strong> colonização~ 6.2 | 2007~ 59

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!