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Dossiê DebateA renovação se coloca não só no plano <strong>da</strong>s formas, mas também noplano dos conteúdos e <strong>da</strong>s representações do espaço. A renomeação doslugares, por exemplo, parece mesmo querer apagar o estigma antesreservados aos espaços ditos deteriorados; razão pela qual ca<strong>da</strong> vez maistorna-se menos recorrente se referir ao centro com sendo a Ci<strong>da</strong>de Velha,o comércio ou “lá em baixo”, como era comum no passado. Quando sevai ao centro, vai-se, sobretudo, à “Estação”, ao “Feliz Lusitânia”, ao “SãoJosé Liberto”, ao “Pólo Joalheiro” e ao “Mangal”. Da mesma forma que a“beira”, a “praia”, é redenomina<strong>da</strong> orla, e os trapiches que integram osespaços revitalizados passam a ser chamados de “píer”. Na ver<strong>da</strong>de, nãose visita o centro, mas apenas seus fragmentos renovados e enclavados,que definem também novos territórios.Considerações finaisNo embate entre vivências cotidianas e lazer moderno, há uma clarasugestão em considerar certos setores <strong>da</strong> área central como sendo deusos pouco desejáveis. Com isso induz-se à formação de novos espaços,por meio <strong>da</strong> renovação, que implica em subtração do espaço público,negação do direito à ci<strong>da</strong>de e recuo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia (GOMES, 2002). Taiselementos reforçam identi<strong>da</strong>des territoriais, concebi<strong>da</strong>s por meio <strong>da</strong>snovas formas espaciais pensa<strong>da</strong>s nos projetos de reabilitação.Subjacente aos projetos de renovação, considera-se a área centralcomo espaço vazio, tanto de conteúdos como de representações e que,por isso, deve-se prestar à “revitalização”. A despeito <strong>da</strong>s territoriali<strong>da</strong>desvivi<strong>da</strong>s torna-se um novo espaço, pensado para novos usos, novasfunções e para a formação de novos territórios a partir de uma estratégiasutil de apropriação de espaços coletivos, pretensamente consideradoscomo públicos.Ain<strong>da</strong> que pouco explícito, trata-se de um processo intencional presentenessas políticas que está diretamente associado à lógica primeira de substituiçãode relações cotidianas e de seus territórios. Estes, por sua vez, nem sempresão considerados estética e funcionalmente desejáveis e aptos à competiçãode mercado; <strong>da</strong>í serem defini<strong>da</strong>s outras territoriali<strong>da</strong>des, concebi<strong>da</strong>s e pensa<strong>da</strong>scomo atrativas para o turismo, para os investimentos econômicos.É nesse sentido que podemos considerar tais projetos como ver<strong>da</strong>deirosindutores de novas territoriali<strong>da</strong>des na área central de Belém. Conformemostra Roncayolo (1990), o sentido <strong>da</strong> territoriali<strong>da</strong>de é essencialmentecoletivo e tendem a expressar certa coerência, estatuto e expectativa deindivíduos ou grupos, definindo-se em função do outro. Por isso, aterritoriali<strong>da</strong>de não deixa de ser um fenômeno associado à organizaçãodo espaço em esferas de influência niti<strong>da</strong>mente delimita<strong>da</strong>s, que assumemcaracterísticas distintas e podem ser considerados como sendo exclusivasde quem os ocupa e de quem os define (SOJA apud RONCAYOLO, 1986).É o que acontece na área central de Belém. A reafirmação de identi<strong>da</strong>desterritoriais, que faz desses projetos espaços seletivos do ponto de vista doconsumo, dá-se pelo público-alvo para o qual as intervenções são pensa<strong>da</strong>s.A sofisticação dos projetos e os tipos de serviços oferecidos buscamatender precipuamente aos turistas e a uma população que se caracterizapela solvabili<strong>da</strong>de, mostrando-se em condições de pagar pelos bens eserviços colocados à disposição; situação esta que, evidentemente, redun<strong>da</strong>numa forma de “emuralhamento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social” (GOMES, 2002), comprejuízo dos sujeitos que vivem a experiência de uso cotidiano <strong>da</strong> área central.NOTAS:1Desterritorialização tem o sentido de per<strong>da</strong> de território apropriado e vivido emdecorrência de diferentes processos originados de contradições capazes dedesfazerem territórios; ao passo que reterritorialização refere-se à criação de novosterritórios, seja por meio <strong>da</strong> reconstrução parcial, in situ, de velhos territórios, sejaatravés <strong>da</strong> recriação parcial, em outro lugar, de um novo território, que contémcaracterísticas do antigo (CORRÊA, 1994).2Dados do final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, conforme levantamentos oficiais (BELÉM, 1998).3Os prédios previstos para restauração, em geral, eram sobrados, com área médiade 250 m2. A proposta levava em conta a instalação de lojas no térreo, a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>scom banheiros, e uma média de cinco habitações do tipo apartamento nos an<strong>da</strong>ressuperiores Os estudos de viabili<strong>da</strong>de constataram, entretanto, a ausência deprogramas junto à Caixa Econômica Federal, financiadora de habitações populares,que contemplassem a requalificação de imóveis antigos na área central. Além disso,o limite máximo de financiamento para os imóveis mostraram-se, em alguns casos,inferiores aos valores necessários à requalificação. Indicaram, ain<strong>da</strong>, uma tendênciade manter esses imóveis fechados ou alugados, como uma estratégia deespeculação imobiliária, posto que a ausência de planos e programas integradoscom vistas ao desenvolvimento <strong>da</strong> área central, gerava dúvi<strong>da</strong>s - para a populaçãomoradora, para a deman<strong>da</strong> a ser atendi<strong>da</strong> e para os proprietários – sobre aviabili<strong>da</strong>de do projeto. Por fim, os altos custos <strong>da</strong> requalificação colocavam em~ 6.2 | 2007~ 73

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