1.3 Um olhar para a realidade eclesial no BrasilNuma análise da conjuntura da Igreja no final do milênio, Clodovis Boff 35constatou o dinamismo da fé nos países do hemisfério Sul, em contraposição à inércia edesvitalização nos países do hemisfério Norte.Enquanto há um avanço numérico de outras propostas religiosas no mundo eum declínio da população de católicos, o Brasil é um país cujos habitantes se dizemcristãos e, majoritariamente, católicos. Isso mostra ainda uma relativa credibilidade daIgreja Católica na sociedade e certa influência na formação de opiniões 36 .Diversos grupos católicos proliferam e fervilham em atividades paraarrebanhar fiéis para seus eventos particulares a fim de que o indivíduo se torne um“católico praticante”. Incentivados por uma renovação da Igreja, preocupação com aevangelização das massas e uma qualidade da fé, tais grupos visibilizam a catolicidadebrasileira e causam a impressão de um ambiente eclesial cada vez mais carismático epentecostal, marcado pela inovação da Renovação Carismática Católica.Paralelamente, o neoconservadorismo tem boa aceitação entre algumaslideranças (ordenadas ou não-ordenadas), como uma posição avessa às reformasestruturais e apego às consistências passadas. Isso é um possível sintoma de uma“renovação” eclesial mal gerida e apressada, sem paciência com os passos dos maislentos, somado com o descompasso entre os avanços culturais hodiernos e a carência derespostas aos desafios nascentes.Um grupo minoritário e de enorme contribuição para o contexto eclesial noBrasil são as Comunidades Eclesiais de Base, fruto de um modelo de renovação queconsidera a realidade sociocultural e seu processo de libertação da opressão política eeconômica que muitos povos da América Latina vivenciaram na sua história. Essascomunidades resistem aos preconceitos e à falta de apoio, apostam numa transformaçãodesde as bases, por meio de uma práxis evangelicamente encarnada.Entretanto, as atuais circunstâncias da Igreja no Brasil são de convivênciasde vários ambientes internos, algumas consequências de uma sociedade plural e dita35 BOFF, Clodovis. Uma análise de conjuntura da Igreja católica no final do milênio. In: LESBAUPIN,Ivo; STEIL, Carlos; BOFF, Clodovis. Para entender a conjuntura atual. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 51-81.36 A pesquisa IBOPE de 1991 dava 78% de confiabilidade à Igreja. Cf. BOFF, C. 1996, p. 68.28
pós-moderna e outros deles gerados da história vivida nas últimas décadas. Assim,veremos o pluralismo cultural, característico do nosso contexto sócio-cultural, paraconstatarmos os múltiplos ambientes no interior da Igreja no Brasil.1.3.1 Características relevantes do nosso contexto socioculturalOs tempos são de uma sociedade fragmentada e relativista, que deseja oimediato e maximiza os prazeres imanentes, questionando as verdades absolutas esubjetivizando as experiências de fé 37 .Enquanto realidade humana, a Igreja é situada historicamente e também, emcerta medida, produto do meio. Por isso, urge percebermos essa complexa dimensãoantes de uma perspectiva teológica. Observando os acontecimentos, averiguando acaminhada e acolhendo o presente, constataremos a força do Espírito Santo movendo aIgreja.As transformações culturais ocorridas nos últimos decênios no mundo e noBrasil provocaram impactos na Igreja 38 . Não temos mais a certeza de um catolicismocultural, como em anos atrás, já não é mais evidente uma pessoa ser cristã e mesmoquando se assume como tal, não se verifica isso claramente na vida. As pessoas queremfrequentar a Igreja, sem se comprometer com Cristo e manter muitas práticas que nãocondizem à fé cristã, conforme lhes apraz.O século passado iniciou um processo, a cuja etapa final estamosassistindo 39 . Os diversos âmbitos da sociedade (política, educação, economia, religiãoetc.) se tornam autônomos, dando fim a uma visão de mundo marcada pela fé cristã.Isso resulta numa variedade de novas linguagens que exigem um esforço maior decompreensão.O que antes era oferecido e aceito como pronto e indiscutível, hoje necessitade um esclarecimento e uma opção refletida. A responsabilidade de escolher o própriorumo pesa sobre o indivíduo pasmo diante de múltiplas alternativas, por isso o risco do37 Zygmunt Bauman usa a metáfora da liquidez para caracterizar o momento presente: BAUMAN,Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 7-10.38 Sobre alguns impactos da cultura sobre a Igreja: DA 36-37.39 Cf. MIRANDA, Mário de França. A Igreja numa sociedade fragmentada. São Paulo: Loyola, 2006, p.61-63.29
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