Tamanha amplidão e divulgação do movimento carismático esclareceramcertas ignorâncias a respeito dos dons espirituais, entretanto geraram outras. Por umlado, nota-se uma desconsideração com tais dons, como se fossem uma ocupação paraalguns poucos iniciantes na fé. Por outro lado, a ignorância é também devido àirreverência e abuso desses dons do Espírito Santo, como se fossem propriedades dealguns “iluminados”, que fazem uso das graças divinas para objetivos que não são os doEvangelho 5 . Na verdade, confundem os dons com o doador, apegando-se aos efeitos doEspírito, sem maiores compromissos com o próprio Deus.Ao reagir à comunidade de Corinto, Paulo tentava melhorar a relação doscoríntios com os fenômenos carismáticos e esclarecer acerca da ação do Espírito no fiel.Os “dons espirituais” são reflexos da ação do Espírito Santo em nós. Assim, mesmocom algumas descrições, não são enumerados em totalidade, observamos uma ampladiversidade e multiplicidade de dons, tanto na Igreja antiga, quanto em nossos dias.Mesmo com as listas apresentadas por Paulo em suas cartas e outras classificações daTradição eclesial, os “dons espirituais” não se restringem a tabelas 6 .Um critério para identificarmos um “dom espiritual” é sua utilidade paraedificação da Igreja. O Espírito Santo age tendo em vista organizar e melhorar acomunidade. Mesmo que um dom contribua para o crescimento pessoal, este visa, emúltima instância, ao corpo do qual o beneficiado faz parte. Um “dom espiritual” éresposta à necessidade da Igreja.5 “I doni dello Spirito Santo non sono privilegio di qualche anima ben dotata, non sono dati a un numeroristretto di geni o di eroi; essi invece aprono la possibilità di una genialità e di un eroismo universali,perché sono dati, indipendentemente dalle qualità e dalle doti naturali, a tutti coloro che nel battesimo enella grazia ricevono la visita dello Spirito di Dio, sicché c‟è in loro una nuova genialità divinapartecipata all‟uomo”. (SPIAZZI, 1990, p. 839).6 “A vasta gama dos carismas arrolados por Paulo leva duas considerações. A primeira é que, dada a suadiversidade, é difícil organizá-los de maneira sistemática. As classificações que foram tentadas pelosexegetas são sempre um pouco arbitrárias (...). Em segundo lugar, a multiplicidade dos carismasenumerados por Paulo leva à conclusão de que os carismas na Igreja possuem número indefinido. Sãoidentificados a partir de dois princípios: o Espírito Santo, que é doador, e a Igreja a ser edificada em suarealidade concreta de tempo e lugar (...). Se os carismas existem para edificação da Igreja, devemcorresponder às necessidades reais da Igreja universal e das Igrejas particulares”. BARRUFFO, A.Carisma. In: BORRIELLO, L. et al. Dicionário de mística. São Paulo: Paulus, 2003, p. 200-201, aqui p.200. “La sua preocupazzione, tuttavia, non è rivolta solo a frenare l‟indebita sopravvalutazione deicarismi, ma è anche indirizzata a non mortificare assolutamente la realtà di questi doni che vedeconcretamente realizzati e suscitati dallo Spirito in vista del bene comunitario”. ROMA<strong>NO</strong>, A. Carisma.In: ANCILLI, E. Dizionario enciclopedico di spiritualità. Vol. I. Roma: Città Nuova, 1990, p. 422-430,aqui p. 423.66
Enfim, como a própria perícope indica, o critério principal é a confissão deJesus como Senhor. Isto significa que não adiantam belos cânticos de vozes afinadas,pregações inflamadas acompanhadas de aplausos e orações com altos decibéis devolume, sem que isso leve a confessar, sobretudo com a vida, que Jesus é o Senhor. Talconfissão se verifica com a vivência do amor, como serviço e doação de si mesmo aopróximo. Não basta dizer: “Senhor, Senhor”, é preciso fazer a vontade de Deus (cf. Mt7,21-23).3.1.2 Os “ídolos mudos” presentes na fé contemporâneaAo falar aos coríntios, Paulo recordou o passado deles como gentios. Porcausa deste, eles conheciam os fenômenos carismáticos comuns na religião do impérioromano. O conteúdo dos capítulos 12–14 procura corrigir os exageros e cristianizar taispráticas.Hoje, nas nossas comunidades eclesiais católicas, não encontramos tantaspessoas que a partir de um passado estritamente pagão passaram à fé cristã. O Brasilsempre foi um país predominantemente cristão e católico, mesmo com o crescimentonumérico dos evangélicos, ainda há o predomínio de um “catolicismo cultural”, no qual,por costumes herdados da família, as pessoas participam dos ritos (batismo, eucaristia,matrimônio, bênçãos etc.) sem algum compromisso eclesial. Geralmente, essas pessoasfrequentam a Igreja por ocasiões sociais e têm uma vida sem referências de fé, mas sedizem católicas e guardam algumas poucas práticas 7 .Muitos dos que hoje se dizem carismáticos vêm de uma fé cristã católicacomo a acima descrita. Quando por algum motivo buscam uma experiência de Deus,por meio do Seminário de Vida no Espírito Santo, convertem-se e se engajamseriamente em algum movimento de espiritualidade carismática, revalorizando a vidasacramental, conhecendo a Escritura e amando a Igreja. Nessa vida nova, iniciada por7 Martín Velasco, apontando respostas da fé cristã à cultura pós-moderna, fala da necessidade de uma féexperiencial e não apenas de costumes: “Nos referimos a una fe „experienciada‟, es decir, pasada por laexperiencia del sujeto. Estamos convencidos, en efecto, que la fe „necesita experiencia‟. De que no sepuede ser creyente „por procuración‟. De que ser creyente comporta, más allá de la posesión de unosactos, una forma peculiar de ejercicio de la existencia que afecta al conjunto del ser personal, desde susactitudes más radicales hasta las diferentes facetas de su ser: razón, voluntad, sentimiento, el ejercicio desu ser en el mundo y de su forma de vivir en sociedad”. MARTÍN VELASCO, Juan. Ser cristiano en unacultura posmoderna. 2. ed. Madrid: PPC, 1997, p. 103.67
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