finalmente responde aos dramas comunitários, relacionando a profecia e a glossolaliaem vista da edificação eclesial 42 .2.4.1 O contexto cultural de 1Cor 12–14Os fenômenos tratados nos capítulos 12–14 não são uma exclusividade dacomunidade de Corinto. Encontramos ocorrências em outras comunidades cristãs enotamos, no mundo grego e na tradição judaica, a contextualização para o assuntoapresentado por Paulo.A incerteza do futuro incitava o homem antigo a recorrer às práticas deadivinhação. As técnicas de profecias, mandingas e contatos com pessoas inspiradasfaziam parte da vida social e religiosa dos gregos durante o período greco-romano e oconhecimento do futuro permitia reduzir os riscos inerente às escolhas humanas 43 . Oprofeta falava da vontade divina por inspiração direta ou interpretação de sonhos ousinais 44 .Os oráculos eram interpretados como uma especial intervenção divina quefaz do inspirado um instrumento nas mãos da divindade que fala. Tratava-se de algosúbito que se apossava da pessoa para que entrasse em transe, manifestando dois tiposde intervenção: a primeira, do tipo em que a pessoa fica sem uso do intelecto, na maiscompleta passividade; a segunda, do tipo que provoca uma transformação epotencialização da mente humana elevada a um nível sobre-humano 45 .No profetismo judaico também não encontramos um fenômeno unívoco deinspirados por Deus 46 . Três palavras principais expressam os tipos de profetas: har,hzx, aybn. A primeira, har, de uso mais primitivo, quer dizer o visionário particular(1Sm 9,11); a segunda, hzx,com um uso mais frequente no Antigo Testamento, é ovisionário oficial da monarquia (2Sm 24,11); o terceiro, aybn,traduzido para o grego42 BARBAGLIO, 1996, p. 613.43 Barbaglio descreve mais detalhes de algumas dessas práticas e citações de textos de autores gregos, nosquais relatam esse aspecto cultural. Cf. BARBAGLIO, 1996, p. 614.44 Cf. PEISKER, C. Profeta. In: COENEN, L. et al. Dizionario dei concetti biblici del Nuovo Testamento.Bolonha: Dehoniane, 1976, p. 1441-1449.45 BARBAGLIO, 1996, p. 615.46 Cf. MANGE<strong>NO</strong>T, E. Prophète. In: VIGOUROUX, F. Dictionaire de la Bible. Tomo V/1, Paris:Letouzey, 1912, p. 705-728.50
como profh,thj, é o inspirado por Deus, que lhe comunicada sua vontade para que aproclame aos outros 47 .O profetismo judaico teve evoluções desde a monarquia, no exílio e no pósexílio,passando pelos essênios, até o período neotestamentário. Conforme Barbaglio 48 ,o historiador Flávio Josefo atesta um grupo de profetas fariseus na corte de Herodes e aatividade de certo profeta entusiasta chamado Jesus, filho de Anania.Neste pressuposto cultural, não seriam uma surpresa as manifestaçõescarismáticas descritas em 1Cor 12-14, principalmente da glossolalia e da profecia, quenem sempre se distinguiam uma da outra com clareza no uso comunitário 49 .Comprova a notoriedade dos fenômenos, a existência e a variedade denumerosos profetas (por exemplo, Ágabo em At 11,27-30; 21,10-11) como ministros,encarregados de um ofício espiritual com um posto específico entre os outrosministérios como o do ensino e o do serviço (cf. 1Cor 12,28; Ef 4,11).Nas comunidades orientadas por Paulo, o profeta possuía a tarefa de exortar,consolar e edificar a comunidade durante o serviço religioso (1Cor 14,3.24.31). Por issoos riscos de desvios, tornando-se acontecimentos frenéticos e desordenados,necessitados de orientações do apóstolo para que a assembleia decorra na paz de Deus(cf. 1Cor 14,33) 50 .47 O profeta, para o Antigo Testamento, significa o porta-voz autorizado ou oficial. Três textos principaisconfirmam essa ideia: Ex 6,28–7,2; Nm 12,1-8; Dt 18,9-22. Há cinco sinais de confirmação do profeta:deve ser israelita (Dt 18,15.18); falar em nome do Senhor (Dt 18, 16.19.20), incorrendo em pena de morteno caso de falsamente alegar que fala em nome de Deus (1Rs 18,20-40); conhecimento do futuro próximocomo um sinal de ser alguém designado por Deus (Dt 18,21-22; 1Rs 22; Jr 28); poderia realizar algumoutros milagres (Dt 13,1; 1Rs 18,24); finalmente, a estrita conformidade às revelações anteriormenteconfirmadas e que vieram primeiramente por meio de Moisés e posteriormente pelos profetas que oseguiram (Dt 13,1-18). Cf. CULVER, R. D. Nabî. In: HARRIS, A. et al. Dicionário Internacional doAntigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p 904-906.48 1996, p. 618-619.49 Como por exemplo, em At 2,1-36 e em outros textos, conforme explica Barbaglio (1996, p. 620). “Laglossolalie et la profétie sont incontestablement, du point de vue de l‟histoire des religions, desphénomènes d‟ordre psychologique tout à fait proches l‟un de l‟autre. L‟opposition que Paul établit ici, àcertains égards, entre le glossolale et le prophète ne doit pas dissimuler que la prophétie, même si elles‟exprime en langage intelligible, est pour lui aussi un phénomène d‟inspiration dans lequel l‟homme estun instrument du pneuma”. (CHEVALLIER, 1966, p. 172).50 Cf. PEISKER, 1976, p. 1448.51
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