2.2.5 O carismatismoA comunidade de Corinto foi reconhecida por Paulo como uma comunidadeabundante de dons espirituais (1,4-5.7), na qual os cristãos buscavam zelosamente oscarismas espirituais, exagerando, a ponto de quererem os mais espetaculares,principalmente a glossolalia.Isso era considerado, pelos membros da comunidade, como um sinal dapertença das pessoas às realidades divinas. O Espírito Santo era visto unicamente emsuas manifestações extáticas e extraordinárias, à semelhança dos cultos pagãos a Baco ePítia 23 , os quais produziam oráculos e comportamentos frenéticos, o que os coríntiosconheciam bem de sua prática religiosa passada.O carismatismo de Corinto gerava no seio comunitário dois problemasprincipais: uma cisão entre carismáticos possuidores de dons espetaculares (minoriaprivilegiada) e não carismáticos (discriminados); e a vivência individualista destasexperiências, sem referências comunitárias e como uma realização pessoal 24 .Os glossólalos e extáticos causavam desordens nas reuniões comunitárias,dando uma impressão negativa e causando perplexidade aos que não conheciam aquilo.O conselho de Paulo se refere à prudência e ao uso da profecia no lugar da glossolalia(14,22-25), integrando os carismas no organismo do corpo de Cristo, tendo em vista aedificação e a organização comunitárias.Todos os carismas devem ser avaliados segundo o princípio: “Que tudo sefaça para a edificação!” (14,26). Paulo valoriza os dons espirituais e enfatiza que oEspírito quer atuar como princípio de ordem e integração comunitária, para isso, eis umcaminho precioso: o amor (13,1-13), este é o centro e a meta da vida carismática. Oamor é o oposto do individualismo, não procura a própria satisfação e suporta o mal; elenão se esgota na ética, mas é potência escatológica que determina a vida do fiel 25 .23 BARBAGLIO, 1989, p. 144.24 Ibidem.25 SCHNELLE, 2010, p. 274.44
2.2.6 O problema da ressurreição dos mortosUm último problema, de cunho mais doutrinal, é a negação da ressurreição.Alguns fiéis, por uma compreensão antropológica diferente, segundo a qual o corpo nãoparticiparia da salvação escatológica, negavam a ressurreição dos mortos e a de Cristo(15,12).O ponto de partida de Paulo é credo cristão primitivo (15,3-5), segundo oqual, Cristo morreu pelos nossos pecados (15,3); foi sepultado (15,4a); foi ressuscitadoao terceiro dia (15,4b); apareceu a Cefas e a um grupo de discípulos (15,5) 26 .A negação vinha de uma perspectiva espiritualista platônica 27 , dualista, naqual não se aceitava uma vida “corpórea” no além-morte. O corpo ressuscitarsignificava um rebaixamento e uma contradição à vida espiritual, pois os espirituais játeriam atingido uma perfeição da sabedoria e o uso dos carismas. Por isso já se sentiamressuscitados, alienando-se ao momento presente e considerando a morte sem acréscimode realidades novas.Para Paulo, a corporeidade constitui o ser humano, portanto, é atingida pelaação salvífica de Deus, pois o Cristo crucificado e ressuscitado possui um corpo (10,16;11,27). A ressurreição puramente espiritual não corresponde ao sentido do batismo, poispor ele o cristão é inserido no corpo de Cristo, para que a morte seja superada e vencidapela força ressuscitante do Espírito Santo.Paulo, em 1Cor 15,35-53, também responde à pergunta do como será aressurreição. A capacidade divina de tanto criar corpos psíquicos como espirituais é agarantia para a criação de um corpo glorioso 28 . Assim, a ressurreição é explicada pormeio da metáfora da semeadura: “o que semeias, não é o corpo da futura planta quedeve nascer, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie. A seguir, Deuslhe dá o corpo como quer” (15,37). Da mesma forma acontece com a ressurreição,semeia-se corpo psíquico (sw/ma yuciko,n), mas ressuscita-se corpo espiritual (sw/mapneumatiko,n).26 O texto grego apresenta uma estrutura, marcada pela nomeação dos eventos e sua interpretação.Schnelle analisa e estrutura essa passagem. Cf. SCHNELLE, 2010, p. 276.27 BARBAGLIO, 1989, p. 144.28 SCHNELLE, 2010, p. 281.45
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