148Matriz Energética 2030inferiores a 40.000 DWT. Em todos os casos, o carvão transportado tem um conteúdo energético quejustifica tal transporte.No caso <strong>de</strong> carvões <strong>de</strong> alto teor <strong>de</strong> cinzas e relativamente baixo teor <strong>de</strong> carbono, dificilmente se justificao transporte a longas distâncias. Esse é precisamente o caso do carvão brasileiro. O carvão brasileiroproveniente das jazidas do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul tem teor <strong>de</strong> cinzas não inferior a 40% e teor <strong>de</strong> carbono nãosuperior a 30%. Essas condições tornam antieconômico seu transporte a longas distâncias . Assim, a utilizaçãodo carvão nacional tem-se justificado apenas em usinas localizadas próximas às minas, portantona região Sul. Usinas a carvão em outras regiões, <strong>de</strong>mandariam preferencialmente carvão importado.As regiões brasileiras naturalmente candidatas a instalar termelétricas a carvão importado seriamo Nor<strong>de</strong>ste e o Su<strong>de</strong>ste, quer pelas dimensões do mercado <strong>de</strong> energia elétrica, quer pela necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> porte (aqui é preciso ter em conta as ocorrências conhecidas <strong>de</strong> carvãonacional, <strong>de</strong> valor comercial competitivo, estão concentradas na Região Sul). Ambas as regiões possuemportos estrategicamente localizados, com amplas condições <strong>de</strong> receber, ou <strong>de</strong> se preparar para tal, gran<strong>de</strong>svolumes <strong>de</strong> carvão. Alguns <strong>de</strong>sses portos já funcionam como terminais <strong>de</strong> carvão, para atendimentoà indústria si<strong>de</strong>rúrgica, como Sepetiba, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e Vitória, no Espírito Santo. Pelo menos umporto no Nor<strong>de</strong>ste, Pecém, no Ceará, em breve estará aten<strong>de</strong>ndo à si<strong>de</strong>rúrgica local. Outros portos noNor<strong>de</strong>ste, como Suape, em Pernambuco, e Itaqui, no Maranhão, também reúnem condições para receberesse tipo <strong>de</strong> carga, ainda que investimentos adicionais possam ser necessários. Nesses três casos, umoutro fator relevante é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração com o modal ferroviário, aumentando a flexibilida<strong>de</strong>para a localização <strong>de</strong> usinas termelétricas 21 .Avaliação do Potencial <strong>de</strong> Geração. Para efeito <strong>de</strong> avaliação do potencial <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>a partir do carvão, consi<strong>de</strong>rando o carvão importado, po<strong>de</strong>-se concluir que, no horizonte <strong>de</strong> estudo, nãoexistem restrições relevantes quanto à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carvão, sendo perfeitamente plausível admitir,na formulação <strong>de</strong> alternativas para a expansão da oferta <strong>de</strong> energia elétrica, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalação<strong>de</strong> 10.000 MW em termelétricas a carvão nas regiões Nor<strong>de</strong>ste e Su<strong>de</strong>ste.Quanto ao consumo específico <strong>de</strong> carvão (quantida<strong>de</strong> do mineral necessária para gerar 1 MWh),tem-se que o valor observado na usinas em operação no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul não é, hoje, inferior, a <strong>1.</strong>200kg/MWh enquanto que na usina <strong>de</strong> Jorge Lacerda não supera, em média, a 700 kg/MWh. Por outro lado,todas as usinas em projeto estimam um consumo específico entre <strong>1.</strong>000 e <strong>1.</strong>100 kg/MWh. As diferençasse explicam pelo uso <strong>de</strong> carvão bruto (ROM - run of mine), quando o consumo específico é mais elevado,e <strong>de</strong> carvão beneficiado. Para efeito <strong>de</strong> cálculo do potencial <strong>de</strong> geração, consi<strong>de</strong>raram-se aqui as duaspossibilida<strong>de</strong>s. Nesse último caso, consi<strong>de</strong>rou-se um fator <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong> perda do volume bruto do mineral,correspon<strong>de</strong>nte à experiência do beneficiamento realizado em Santa Catarina.Quanto ao rendimento, a experiência mundial revela uma performance média <strong>de</strong> 32%. Na tecnologiaconvencional, <strong>de</strong> combustão pulverizada, os fabricantes asseguram rendimentos não inferiores a 35%,po<strong>de</strong>ndo chegar a mais <strong>de</strong> 40% na hipótese <strong>de</strong> uso do ciclo supercrítico. Além disso, todas as quatrotermelétricas nacionais em construção e em projeto <strong>de</strong>verão operar com rendimento mínimo <strong>de</strong> 35%.21 A integração com o modal ferroviário é uma possibilida<strong>de</strong> real tendo em vista o projeto da Ferrovia Nova Transnor<strong>de</strong>stina, que prevê a construção<strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>rna ferrovia com <strong>1.</strong>800 km <strong>de</strong> extensão, ligando Eliseu Martins, no Piauí, aos portos <strong>de</strong> Pecém e Suape. No Maranhão, o porto <strong>de</strong> Itaqui,já servido pela Estrada <strong>de</strong> Ferro Carajás, está na área da Ferrovia Norte-Sul, em construção.Empresa <strong>de</strong> Pesquisa Energética
Matriz Energética 2030149Para efeito da quantificação do potencial <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia elétrica com o carvão nacional parametrizou-seo rendimento das futuras unida<strong>de</strong>s entre 35 e 45%.Complementarmente, foram adotadas as seguintes hipóteses <strong>de</strong> cálculo:• Fator <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> médio operativo: 60%• Vida útil: 175.000 horas, equivalente a um período <strong>de</strong> 25 anos, com fator <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 80% ou<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 35 anos com fator <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 60%.• Po<strong>de</strong>r calorífico do carvão: 2.400 kcal/kg, quando utilizado o carvão ROM e 4.500 kcal/kg, quandoutilizado o carvão beneficiado (referência carvão da Usina <strong>de</strong> Jorge Lacerda);• Equivalência energética adotada para a energia elétrica: 860 kcal/kWh.Os resultados são apresentados na Tabela 5‐22.Tabela 5‐22 – Potencial <strong>de</strong> Geração <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> com o Carvão Nacional (em MW)<strong>Reservas</strong>CarvãoRendimento35% 40% 45%6,7 x 10 9 ton ROM 32.000 36.500 4<strong>1.</strong>000Beneficiado 46.000 52.500 59.000Consi<strong>de</strong>rando a potência unitária <strong>de</strong> referência <strong>de</strong> 500 MW, po<strong>de</strong>-se dizer que, no estágio tecnológicoatual e consi<strong>de</strong>rando apenas as reservas ditas medidas, há disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carvão nacional parainstalação <strong>de</strong> pelo menos 64 usinas, que operariam com um fator <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> médio <strong>de</strong> 60% por cerca<strong>de</strong> 35 anos.Já na discussão do potencial <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia elétrica no Brasil a partir do carvão importado,a questão <strong>de</strong> maior interesse que se coloca é a quantida<strong>de</strong> do mineral que seria <strong>de</strong>mandada para suprirtal parque <strong>de</strong> usinas.Para efeito <strong>de</strong>sse cálculo, foram usadas as mesmas hipóteses do caso do carvão nacional, com exceção, naturalmente,do po<strong>de</strong>r calorífico. Para estimar esse parâmetro, tomou-se como referência os carvões da África doSul, Colômbia e Austrália, cujos po<strong>de</strong>res caloríficos variam entre 5.000 e 7.500 kcal/kg (WCI, 2005). O cálculofoi feito para as potências <strong>de</strong> <strong>1.</strong>000, 5.000 e 10.000 MW. A Tabela 5-23 resume os resultados obtidos.Ministério <strong>de</strong> <strong>Minas</strong> e Energia