PETRÓLEO E ESTADO
1RZuvmj
1RZuvmj
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
126 Petróleo e Estado<br />
CAPÍTULO 11<br />
IMPACTOS DA<br />
CRIAÇÃO DA<br />
PETROBRAS<br />
Relações tensas<br />
Criada em outubro de 1953, foi no ano seguinte<br />
que a Petrobras deu seus primeiros passos e o<br />
CNP passou a ter sua atuação restrita à orientação<br />
e fiscalização do monopólio da União. De 1954 até<br />
o golpe militar de 1964, exatamente dez anos, CNP<br />
e Petrobras viveram um relacionamento muitas vezes<br />
tenso, marcado pela sucessiva implementação<br />
de novas regras. Nesses anos tumultuados, caracterizados<br />
por profundas transformações econômicas<br />
e sociais no País, a concretização da política<br />
nacional de petróleo sofreu avanços e retrocessos.<br />
O discurso de Getúlio Vargas anunciando a criação<br />
da Petrobras foi apenas o primeiro de muitos<br />
passos até sua instalação oficial, em 10 de maio de<br />
1954. Para o CNP, isso determinou uma profunda redefinição<br />
das suas atribuições. Se o campo normativo-fiscalizador<br />
da política do petróleo continuava<br />
sob a jurisdição do órgão, o campo executivo passava<br />
integralmente para a esfera da nova empresa,<br />
constituída exatamente com esse objetivo. O esvaziamento<br />
do CNP é exemplarmente enunciado pelo<br />
art. 50 da Lei nº 2.004, que determinava o seguinte:<br />
“Sempre que o Conselho Nacional do Petróleo tiver<br />
que deliberar sobre assunto de interesse da Sociedade<br />
[a Petrobras], o presidente desta participará<br />
das sessões plenárias, sem direito a voto”.<br />
Em termos práticos, a adaptação do CNP às suas<br />
novas atribuições acarretou-lhe uma série de problemas,<br />
sobretudo no que se refere à organização<br />
interna e ao pessoal. Embora a maior parte do<br />
corpo técnico que o órgão então dispunha tenha<br />
sido transferida para a Petrobras, disposições legais<br />
impediam que 40% das vagas ociosas de seu<br />
quadro de funcionários fossem preenchidas. 211<br />
A problemática questão da transferência de<br />
pessoal para a Petrobras foi assim avaliada,<br />
35 anos depois, por Aldo Zucca, um dos engenheiros<br />
do quadro do CNP que optou pela<br />
empresa estatal:<br />
Sempre houve muita fricção entre o<br />
pessoal do CNP e a Petrobras por várias<br />
razões. Primeiro que (...) a criação<br />
da Petrobras veio levar parte das atribuições<br />
do CNP. (...) Depois, a Petrobras<br />
nasceu com mais recursos, podendo<br />
pagar mais aos seus técnicos,<br />
pagar salários de mercado, atrativos,<br />
enquanto que os do CNP continuavam<br />
como funcionários públicos, ganhando<br />
mal... (...) Também havia (...) uma incapacitação<br />
técnica. Como o CNP perdeu<br />
uma grande parte do seu corpo técnico<br />
para a Petrobras e não conseguia repor<br />
em função dos seus salários, sempre<br />
tinha engenheiro iniciante recebendo<br />
mal. O CNP foi perdendo parte da sua<br />
capacitação até de trabalhar naquela<br />
área essencial (...), que é a formulação<br />
das especificações, a fiscalização dos<br />
produtos (...) e assim por diante (...). 212<br />
211. BRASIL. Mensagem presidencial nº 469 de 1951, Brasília, 1951, p. 9.<br />
212. ZUCCA, Aldo. Aldo Zucca: depoimento [1988]. Rio de Janeiro: FGV, CPDOC, 1992. Programa de História Oral. p. 170.