Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
marketing & negóciOs<br />
Miriam Espacio/Unsplash<br />
O mundo<br />
24/7/365 WW<br />
Lógica <strong>de</strong>riva do fato <strong>de</strong> que os<br />
consumidores sempre pe<strong>de</strong>m mais<br />
e as empresas oferecem ainda mais<br />
Rafael Sampaio<br />
Para uma parte muito expressiva da humanida<strong>de</strong>,<br />
a história presente é um<br />
eterno on: online, ontime, onipresente.<br />
Mas nem tudo acaba ocorrendo como se espera.<br />
Se um viajante extraterrestre visitar a<br />
Terra hoje, chegar no lugar certo e ficar<br />
pouco tempo, vai voltar com um relato fantástico:<br />
produtos e serviços são oferecidos<br />
24 horas por dia, 7 dias por semana, todos<br />
os dias do ano e sem limites geográficos<br />
pelo planeta. É o conceito 24/7/365 WW,<br />
cuja lógica <strong>de</strong>riva do fato <strong>de</strong> que os consumidores<br />
sempre pe<strong>de</strong>m mais e as empresas<br />
oferecem ainda mais. E mais, continuadamente.<br />
Isso seria realmente fantástico<br />
se os níveis <strong>de</strong> falhas não fossem tão elevados<br />
<strong>de</strong> ambas as partes. Ou seja, as pessoas<br />
não compram ou usam tudo que previam,<br />
por falta <strong>de</strong> dinheiro, tempo ou porque as<br />
suas expectativas são frustradas, fazendo<br />
com que a infraestrutura disponível fique<br />
ociosa.<br />
Razão pela qual as empresas não conseguem<br />
fazer lucro suficiente para cumprir<br />
suas tarefas como planejado e acabam<br />
abaixando seus padrões <strong>de</strong> entrega, mas<br />
não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> prometer ainda mais...<br />
No final, o resultado fica longe das maravilhas<br />
esperadas, as empresas patinam até<br />
<strong>de</strong>sativar a novida<strong>de</strong>, serem compradas ou<br />
saírem do mercado. Os consumidores abaixam<br />
suas expectativas e se conformam<br />
com padrões sofríveis, mas querem pagar<br />
mais barato por isso e ficam prontos para<br />
embarcar na próxima promessa ou sonho.<br />
A pergunta óbvia é on<strong>de</strong> iremos chegar com<br />
esse mo<strong>de</strong>lo? Des<strong>de</strong> o começo da Revolução<br />
Industrial, no século 18, temos vivido<br />
uma onda crescente <strong>de</strong> bonança - mesmo<br />
consi<strong>de</strong>rando alguns reveses e hiatos - e <strong>de</strong><br />
criação sucessiva <strong>de</strong> valor.<br />
Nas últimas duas décadas, porém, com<br />
a chamada nova economia digital, a tendência<br />
se inverteu e temos passado por<br />
um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> valor, com<br />
as empresas centrais ganhando menos, as<br />
periféricas menos ainda, a maior parte dos<br />
salários caindo e até os governos vivendo<br />
<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>ficitária contínua. Na realida<strong>de</strong>,<br />
nesse mo<strong>de</strong>lo poucos ganham muito,<br />
parte <strong>de</strong>les não por muito tempo, enquanto<br />
a maioria nem chega lá... E o conceito, ou<br />
teoria, do unicórnio mantém viva as esperanças<br />
e expectativas <strong>de</strong> uma massa que<br />
não vai dar em nada... A verda<strong>de</strong> é que ainda<br />
não sabemos on<strong>de</strong> vamos chegar e como<br />
e quando vai haver uma reversão, para<br />
<strong>de</strong>volver um pouco <strong>de</strong> lógica econômica e<br />
<strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> a longo prazo para esse<br />
sistema perverso.<br />
Aumentam, sobre esses mo<strong>de</strong>los, a interferência<br />
das autorida<strong>de</strong>s públicas e as<br />
amarras legais. Po<strong>de</strong> até ser um pouco<br />
frustrante, mas, <strong>de</strong> qualquer modo, tem <strong>de</strong><br />
haver um meio-termo. Quase que um novo<br />
contrato social. Enquanto isso, uma tradicional<br />
loja inglesa, a John Lewis, <strong>de</strong>scobre<br />
como fazer negócios no mobile - 41% das<br />
visitas e 21% das vendas online foram feitas<br />
assim em 2018. E as megacorporações<br />
chinesas batem todos os seus recor<strong>de</strong>s, não<br />
porque <strong>de</strong>scobriram a chave do mercado<br />
global, caso <strong>de</strong> poucas, mas porque estão<br />
no olho do furacão econômico, que dominará<br />
o século 21, como os EUA se apropriaram<br />
do 20.<br />
Não se <strong>de</strong>ve esquecer, porém, que mesmo<br />
com todo o frisson das novida<strong>de</strong>s e os<br />
casos <strong>de</strong> sucesso, a gran<strong>de</strong> massa <strong>de</strong> quase<br />
todos os mercado continua rolando da forma<br />
tradicional; caso do varejo e dos serviços<br />
<strong>de</strong> alimentação, por exemplo. Ou seja,<br />
a maior parte dos negócios ainda não po<strong>de</strong><br />
ser 24/7/365 WW. Mas, se não tiver como<br />
oferecer essa possibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> alguma fora,<br />
a imagem <strong>de</strong> coisa velha e ultrapassada<br />
po<strong>de</strong> colar na organização. Precisa ter, portanto,<br />
mesmo que seja apenas uma operação<br />
flagship, pois o efeito publicitário, <strong>de</strong><br />
experiência e os reflexos no boca a boca fazem<br />
o esforço valer a pena. Para fora e para<br />
<strong>de</strong>ntro. Alias, esse é o conceito <strong>de</strong> flagship,<br />
que não é o barco que vence a guerra, mas<br />
que faz o restante da frota lutar com a disciplina,<br />
eficiência e empenho que garante a<br />
eficácia, ou seja, a vitória.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafaelsampaio103@gmail.com<br />
38 <strong>16</strong> <strong>de</strong> <strong>setembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark