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Revista Sinais Sociais N12 pdf - Sesc

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ável poderia ser inclusive uma proxy para instabilidade familiar. Kelly<br />

(2000) assinala que criminologistas relacionam crime, instabilidade<br />

familiar e distúrbios emocionais sofridos durante a infância. Sob esse<br />

ponto de vista, decidimos utilizar o número de famílias monoparentais<br />

com pelo menos um fi lho no domicílio, mas não enrijecemos essa<br />

hipótese empregando apenas mulheres como chefes do lar, uma vez<br />

que essa instabilidade pode ser tão (ou mais) evidente em domicílios<br />

onde o chefe é homem. Seguindo essa corrente, aguardamos um efeito<br />

positivo dessa variável sobre o tipo de crime em questão.<br />

Ao aplicarmos a variável “gastos em educação e cultura” no modelo<br />

a ser estimado, queremos analisar o impacto de uma fração específi ca<br />

dos gastos sociais sobre a redução da criminalidade. Elegemos, neste<br />

estudo, gastos em educação e cultura como um representante dos<br />

gastos sociais, por serem direcionados, predominantemente, à população<br />

infantojuvenil. Esperamos encontrar um efeito negativo, da mesma<br />

forma que alguns autores o fi zeram, ao testar o efeito de gastos em<br />

assistência social (BENOIT; OSBORNE, 1995; ZHANG, 1997; IMRO-<br />

HOROGLU et al., 2000; MERLO, 2003 apud LOUREIRO, 2006). O<br />

impacto negativo esperado recai sobre o fato de que gastos sociais<br />

reduziriam os incentivos de incorrer na criminalidade, dado que aumentaria<br />

os custos de oportunidade do potencial criminoso, ao elevar<br />

suas expectativas de renda futura e nível sociocultural, via acumulação<br />

de capital cultural 9 . Pressupomos, pois, que maiores gastos em<br />

9 Para Bourdieu (2001), a noção de capital cultural surge da necessidade de se<br />

compreender as desigualdades de desempenho escolar dos indivíduos oriundos<br />

de diferentes grupos sociais. Sua sociologia da educação se caracteriza,<br />

notadamente, pela diminuição do peso do fator econômico, em comparação<br />

ao peso do fator cultural, na explicação das desigualdades escolares. Segundo<br />

o autor, o capital cultural pode existir sob três formas: no estado incorporado,<br />

no estado objetivado e no estado institucionalizado. No estado objetivado,<br />

o capital cultural existe sob a forma de bens culturais, tais como esculturas,<br />

pinturas, livros etc. Para possuir os bens econômicos na sua materialidade, é<br />

necessário ter simplesmente capital econômico, o que se evidencia na compra<br />

de livros, por exemplo. Todavia, para apropriar-se simbolicamente desses<br />

bens, é necessário possuir os instrumentos dessa apropriação e os códigos necessários<br />

para decifrá-los, ou seja, é necessário possuir capital cultural no estado<br />

incorporado. No estado institucionalizado, o capital cultural materializa-se<br />

por meio dos diplomas escolares.<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.4 nº12 | p. 10-57 | JANEIRO > ABRIL 2010<br />

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