Revista Sinais Sociais N12 pdf - Sesc
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A perspectiva neoliberal está vinculada à neotocquevilliana na medida<br />
em que incorpora muitos de seus elementos, mas, na primeira, a<br />
sociedade civil se mostra mais pró-establishment, “menos como uma<br />
esfera contraposta ao Estado e ao capitalismo e mais como um complemento<br />
ou mesmo um substituto para o Estado e o mercado” (idem,<br />
p. 85). Nessa matriz, as categorias estabilidade, provisão, confi ança e<br />
responsabilidade social (no sentido de solidariedade e/ou fi lantropia)<br />
predominam sobre luta e emancipação, e termos como organizações<br />
sem fi ns lucrativos e organizações não governamentais são usados para<br />
descrever seus atores. A sociedade civil torna-se, também, sinônimo<br />
de “terceiro setor”. Garrison (2000, apud PINHEIRO, 2003) afi rma<br />
que, para o Banco Mundial, “a constituição de capital social e o surgimento<br />
de uma sociedade civil forte são os ingredientes essenciais para<br />
a consecução do desenvolvimento sustentável a longo prazo” (GARRI-<br />
SON, op. cit., p. 18-19).<br />
Ainda segundo Pinheiro (2003), essa concepção se ancora em uma<br />
estratégia de descentralização e privatização dos serviços públicos, desobrigando<br />
os governos nacionais da responsabilidade pela implementação<br />
de programas sociais, que seriam assumidos por governos locais<br />
em parceria com as ONGs ou outras organizações sociais.<br />
Nota-se, assim, uma conversão do Estado como “público” e de tudo<br />
que é não estatal – mercado e sociedade civil – como “privado” e<br />
uma separação desses espaços como esferas autônomas. Todavia, tal<br />
oposição seria resolvida com o surgimento de um “novo setor”, “público,<br />
porém privado”, que passaria a absorver cada vez mais a dita<br />
questão social (p. 86).<br />
O autor entende que separação e autonomização entre Estado,<br />
mercado e sociedade civil – ou terceiro setor –, confusão entre público<br />
e privado, equiparação entre “Estado” e “governo”, identifi cação<br />
de ONG com movimento social, construção de parcerias com<br />
o Estado, complexa e heterogênea multipolarização supraclassista da<br />
nova questão social e crise fi scal do Estado são os principais pressupostos<br />
dessa matriz, que também se apoia numa suposta inefi ciência<br />
da esfera estatal e burocrática, intrinsecamente inefi ciente para gerir<br />
as questões de cunho social.<br />
70 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.4 nº12 | p. 58-89 | JANEIRO > ABRIL 2010