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Revista Sinais Sociais N12 pdf - Sesc

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De forma análoga a Gramsci, Fontes (2006, p. 201) entende a sociedade<br />

civil como um “conjunto de aparelhos privados de hegemonia”,<br />

“um dos terrenos da luta de classes em sociedades capitalistas<br />

modernas” e “um dos espaços fundamentais da luta de classes em<br />

sociedades capitalistas sob Estados de direito, com mercados eleitorais<br />

e conquistas (e reivindicações) democratizantes”. A autora afi rma que,<br />

em Gramsci, não há oposição entre sociedade civil e Estado, como<br />

quer o liberalismo. “Ao contrário, sociedade civil é duplo espaço de<br />

luta de classes, intra e entre as classes” (p. 212).<br />

Dessa forma, o conceito de sociedade civil perde sua conotação de<br />

um espaço de lutas antiditatoriais identifi cadas com os movimentos<br />

populares, para se transformar em um conceito “mais geral e inocente”<br />

(MESCHKAT, 1999, p. 42). Esse autor entende que o desenvolvimento<br />

da economia nas últimas décadas debilitou o que foi o substrato da<br />

sociedade civil popular, ao mesmo tempo fortalecendo a sociedade<br />

civil burguesa. O emprego corrente do termo tem também uma forte<br />

tendência a fortalecer a ideologia dominante, na medida em que se<br />

entende que tudo o que não depende do Estado é um passo para<br />

a emancipação social. Assim, o termo tende a apagar as diferenças<br />

dentro da sociedade, tais como as classes sociais, os grupos de poder<br />

econômico, os monopólios e o capital transnacional, dando a impressão<br />

de que todos têm iguais direitos e oportunidades.<br />

A maior personifi cação dessa ideia de sociedade civil são as ONGs,<br />

“incorporações do espírito puro provenientes de uma esfera livre do<br />

Estado” (idem, p. 43). O conceito de sociedade civil hoje hegemônico<br />

não distingue entre ONGs que têm um real compromisso com as organizações<br />

populares daquelas que são meras fornecedoras de empregos<br />

para setores intelectualizados da classe média, não raro instrumentos<br />

diretos do grande capital. Por tudo isso, muitos estudos colocam em<br />

dúvida a utilidade do conceito de sociedade civil (idem).<br />

Para complementar essa discussão, trago parte da análise de Wood<br />

(2003), já citada na epígrafe desta seção. A autora entende que, quaisquer<br />

que sejam os métodos empregados para dissolver conceitualmente<br />

o capitalismo (que vão desde o pós-fordismo até os estudos<br />

culturais e as políticas de identidades), eles, em geral, têm em comum<br />

o conceito de sociedade civil, “essa ideia versátil que se transformou<br />

numa expressão mágica adaptável a todas as situações da esquerda,<br />

72 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.4 nº12 | p. 58-89 | JANEIRO > ABRIL 2010

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