Revista Sinais Sociais N12 pdf - Sesc
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vimento da ecologia política, retirando a transformação da sociedade<br />
do horizonte dos atores sociais do campo ambiental e dos demais<br />
campos. Zhouri (idem) chama essa nova perspectiva de paradigma da<br />
adequação ambiental, que orienta as ações de ambientalistas e empresários,<br />
bem como as políticas públicas. Nesse paradigma, os confl itos<br />
em torno da democratização dos direitos (recursos naturais, território,<br />
espaço, serviços urbanos e outros) são tratados como “divergências<br />
entre interesses distintos” (p. 3).<br />
A autora segue afi rmando que o paradigma da adequação ambiental<br />
opera “um deslocamento do debate da esfera da política (a luta por<br />
direitos) para a esfera da economia, em que há somente interesses;<br />
estes, passíveis de negociação” (p. 3). Por outro lado, o retraimento do<br />
Estado, verifi cado na década de 1990, a partir de uma modernização<br />
conservadora, transfere atribuições próprias do Estado à chamada “sociedade<br />
civil”, a partir da emergência do “terceiro setor”, composto,<br />
basicamente, pelas ONGs. Consagra-se, nesse cenário, uma concepção<br />
supostamente consensual de “desenvolvimento sustentável” que se<br />
sobrepõe à realidade confl ituosa das relações sociais, bem como termos<br />
que outrora compunham o léxico das lutas pela democratização,<br />
tais como: parceria, participação, negociação e, sobretudo, a noção de<br />
sociedade civil (idem), alvo desta discussão. Nas palavras da autora:<br />
Os sujeitos sociais chamados à participação são aqueles que têm uma<br />
qualifi cação legitimada pelo campo: conhecimento técnico e capacidade<br />
organizativa e de ação. São excluídos da participação todos<br />
aqueles que não são “organizados” nos termos legitimados, e que não<br />
podem disputar o mercado de projetos com ONGs e fundações altamente<br />
equipadas e institucionalizadas. Por essa via, fi ca estabelecido<br />
um novo tipo de exclusão política e social.<br />
É muito comum encontrar, no discurso de educadores ambientais 9 ,<br />
os termos “sociedade civil” e/ou “sociedade civil organizada”, empre-<br />
9 Saliento que evito adotar o termo devido à grande polissemia que ele<br />
assumiu: hoje em dia, praticamente qualquer pessoa pode se considerar um<br />
“educador ambiental”. A razão de tê-lo utilizado aqui reside no fato de que<br />
inúmeros pesquisadores, professores e ambientalistas se autodenominam<br />
dessa forma.<br />
66 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.4 nº12 | p. 58-89 | JANEIRO > ABRIL 2010