Práticas Corporais - Volume 2 - Ministério do Esporte
Práticas Corporais - Volume 2 - Ministério do Esporte
Práticas Corporais - Volume 2 - Ministério do Esporte
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Ensinar e aprender em dança: evocan<strong>do</strong> as “relações” em uma experiência contemporânea 75<br />
sação; se deixe sentir o sistema circulatório...as batidas <strong>do</strong> coração...o que ele<br />
precisa aqui é de um habitante” (LEITE, 2004, p.34). Já Cíntia Novak (apud<br />
LEITE, 2004, p.25) relaciona nas suas elaborações a improvisação por contato<br />
e a sociedade americana; podemos, com algum cuida<strong>do</strong>, perceber que esta<br />
serve para nós também:<br />
A desorientação pode ser interpretada como instabilidade mental, e a falta de<br />
controle físico é geralmente pensada como um sinal de trauma, <strong>do</strong>ença ou<br />
intoxicação. Experimentar a improvisação por contato pode ensinar um divertimento<br />
na desorientação e a reconsideração de associações espaciais.<br />
Esses e outros estímulos para dançar podem vir a proporcionar um<br />
amadurecimento <strong>do</strong> “bailarino/cidadão” caminhan<strong>do</strong> para a autonomia nas<br />
suas relações no mun<strong>do</strong>. Estas elaborações orientaram nossa meto<strong>do</strong>logia e<br />
temos claro que são bastante diferentes das noções de ensino da dança difundidas<br />
no senso comum, onde as danças cênicas tradicionais, em especial o<br />
balé e a dança moderna, tornaram-se a imagem da dança.<br />
De fato, o que está tradicionalmente proposto como sen<strong>do</strong> dança necessita<br />
ser entendi<strong>do</strong> de forma elaborada, tanto no entendimento <strong>do</strong> balé clássico<br />
e da dança moderna, que vem a ser as danças mais tradicionais, quanto<br />
na contextualização das formas contemporâneas e na contextualização das<br />
noções oriundas <strong>do</strong> senso comum. No entanto, a escolha de uma prática da<br />
dança numa relação e de meto<strong>do</strong>logias mais lúdicas e prazerosas indica ter<br />
si<strong>do</strong> acertada para este tipo de projeto. Entendemos que, mesmo com certo<br />
risco de estarmos apenas compensan<strong>do</strong> a crueza da realidade, deveríamos<br />
garantir a imaginação e o próprio prazer vincula<strong>do</strong>s à prática da dança. Esta<br />
se mostrou uma forma de resistir naquele momento aos limites impostos pela<br />
realidade. De fato, consideramos que tais atividades podem ter um cunho<br />
compensatório frente às relações estabelecidas nesta sociedade, porem não<br />
significam necessariamente que sejam alienantes.<br />
A dança construída com aquele grupo partiu da realidade que revela as<br />
contradições da nossa sociedade. Nesse senti<strong>do</strong>, a improvisação, ao mostrarse<br />
uma prática fundada na liberdade <strong>do</strong>s movimentos e nos limites biográficos<br />
e históricos de cada corpo 22 ao mover-se, engloban<strong>do</strong> princípios <strong>do</strong> jogo no<br />
22 Este “corpo” é o próprio ser humano: ser corpóreo, que vive e sente-se corpo, ao contrário <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> de usar<br />
seu corpo, conforme Silvino Santin (1987).