You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
projeto skr - procedimento 1 (2002)<br />
“Projeto que busca provocar a troca de informações entre <strong>dança</strong><br />
e tecnologia, educação, técnica e prática, ampliando o diálogo<br />
entre as artes cênicas e as novas áreas relacionadas ao corpo e sua<br />
interação com o ambiente.<br />
O Projeto SKR visa apresentar o resultado de experimentos teórico-<br />
práticos, num formato aberto que expõe a interdisciplinaridade e<br />
estimula uma tomada de posição questionadora junto do público<br />
em relação às propostas apresentadas em cena”. (texto para o<br />
programa do Procedimento 1)<br />
O próximo espetáculo do Grupo Cena 11, SkinnerBox, está em processo<br />
de criação, com estréia prevista para 2004. A nova criação de Alejandro<br />
Ahmed faz referência ao instrumento criado no século passado pelo<br />
psicólogo behaviorista B. F. Skinner, conhecido em português como<br />
“a caixa de Skinner”. Esse instrumento foi criado para estudar o<br />
comportamento de animais em caráter laboratorial, que serviria de base<br />
ao estudo do comportamento humano. Para a realização do espetáculo,<br />
o Cena 11 conta com o patrocínio da Brasil Telecom e com os recursos da<br />
16ª edição do Programa Bolsas Vitae de Artes, de estímulo à pesquisa<br />
artística, concedi<strong>dos</strong> ao coreógrafo, em 2003, além do Transmídia,<br />
prêmio de apoio à mídia arte, promovido pelo Itaú Cultural.<br />
O Procedimento 1 foi lançado em 2002 no Rio de Janeiro e depois<br />
em Florianópolis, no Centro Integrado de Cultura. O Projeto SKR<br />
pretende trazer à cena outros estágios organiza<strong>dos</strong> desse processo<br />
de criação, os denomina<strong>dos</strong> procedimentos. Trata-se de etapas que<br />
servem para testar, no palco, os resulta<strong>dos</strong> desta pesquisa, na medida<br />
em que ela vai se desenvolvendo. Comportamento, liberdade e<br />
controle fazem parte da discussão.<br />
A idéia da organização das etapas de criação em procedimentos<br />
apresenta<strong>dos</strong> no palco premia o público de um modo especial,<br />
com o acesso ao processo criativo da companhia. Traz junto uma<br />
estratégia interativa, que inclui o espectador na pesquisa e conta<br />
com a sua participação. No fim da apresentação do primeiro<br />
procedimento, foram distribuí<strong>dos</strong> cartões e canetas para que o<br />
público pudesse optar por um <strong>dos</strong> parâmetros e discutir sobre o<br />
que acabara de assistir.<br />
Esse primeiro procedimento foi baseado em três parâmetros: controle e comunicação,<br />
sujeito e objeto, homem e máquina. O segundo procedimento, em andamento, trabalha<br />
com outras três relações: inevitabilidade e escolha, ambiente e adaptação, liberdade e<br />
autocontrole.<br />
As duas primeiras grandes diferenças entre Violência e Procedimento 1<br />
estão no modo de conduzir o movimento no corpo e na organização em<br />
relação ao outro corpo. Se no espetáculo anterior as quedas terminavam<br />
numa espécie de abandono seguido de uma rápida recuperação, no<br />
seguinte esse abandono vem em reação ao movimento do outro. O<br />
motivo para cair é diferente. Nos resulta<strong>dos</strong> do primeiro procedimento, a<br />
queda está condicionada ao estímulo; em Violência a queda é abandono.<br />
E se em Violência havia seqüências coreográficas, neste procedimento<br />
os bailarinos têm ações e reações simultâneas para executar. São pares<br />
ordena<strong>dos</strong>, duplas de bailarinos, que se alternam em atuações para discutir a relação entre<br />
corpos humanos e não-humanos, comportamento, controle e liberdade.<br />
O que antes era exibicionismo, agora é prontidão. O bailarino Anderson<br />
Gonçalves, que está no Cena 11 desde o início, comentou no fim de um<br />
<strong>dos</strong> ensaios: “No SKR tenho de executar coman<strong>dos</strong>, seguindo-os passo a<br />
passo, e o Violência é um show para se exibir e me sinto apreciado”. É<br />
curioso observar que apesar de não ter cenário, os bailarinos dizem se<br />
sentir “mais presos” ou “mais observa<strong>dos</strong>” neste trabalho do que dentro<br />
da caixa-vitrine de Violência. Como o Procedimento 1 acontece em pares<br />
e o bailarino tem o corpo do outro o tempo todo como parâmetro,<br />
talvez isso explique o “sentir-se preso” e o “cumprindo regras”.<br />
A maior parte da coreografia, se é assim que devemos continuar chamando as seqüências<br />
de movimentos, se dá em duplas. Os bailarinos são pares ordena<strong>dos</strong>. Coordenadas.<br />
Números. Programa executável por remoto controle.<br />
Quando um intérprete sustenta o outro no ar, quem comanda a queda deste corpo?<br />
Quem soltou ou quem pediu para soltar? Quem obedeceu ou quem emitiu a ordem?<br />
Quem é sujeito e quem é objeto? Mais que hierarquizar a relação, esta ação entre corpos<br />
parece querer mostrar que tanto uma coisa quanto outra dependem de dois envolvi<strong>dos</strong>.<br />
Também dois são os robôs em cena: um que demarca o chão e outro que capta imagens<br />
<strong>dos</strong> bailarinos, que são projetadas em tempo real, no grande telão no fundo do palco.<br />
O palco está nu, sem os volumosos cenários <strong>dos</strong> trabalhos anteriores. A aparelhagem de<br />
Hedra Rockenbach, autora da trilha executada ao vivo, se localiza entre o fundo do palco<br />
104 Precisão, controle e risco, o bailarino é Gregório Sartori.<br />
Em Procedimento 1, os bailarinos são pares ordena<strong>dos</strong>, Gregório Sartori segura Anderson Gonçalves.<br />
Gregório Sartori e Anderson Gonçalves.<br />
Letícia Lamela em Nina, estágio de criação entre o espetáculo Violência e o Projeto SKR.<br />
Letícia Lamela e Gregório Sartori, quem controla quem?<br />
105