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a dança dos encéfalos acesos

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violência (2000)<br />

“Mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou<br />

uma pessoa de ter fome e da preocupação de viver melhor, quanto extrair, daquilo que<br />

se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome. Todas nossas idéias sobre<br />

a vida têm de ser revistas numa época em que nada mais adere à vida. E esta penosa<br />

cisão é motivo para as coisas se vingarem, e a poesia que não está mais em nós e que<br />

não conseguimos encontrar mais nas coisas reaparece, de repente, pelo lado mau das<br />

coisas; e nunca se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só se explica por nossa<br />

impotência em possuir a vida. Se o teatro existe para permitir que o recalcado viva,<br />

uma espécie de atroz poesia expressa-se através de atos estranhos onde as alterações<br />

do fato de viver mostram que a intensidade da vida está intacta e que bastaria dirigi-<br />

la melhor.”<br />

Antonin Artaud<br />

o argumento<br />

“A raiz do verbo inglês ‘to teach’ deriva do gótico ‘taiku’, signo (hoje em dia, ainda se<br />

utiliza em inglês a palavra ‘token’ com essa significação). A missão daquele que ensina é<br />

observar aquilo que passa despercebido aos outros. Ele é o intérprete <strong>dos</strong> signos.” 1<br />

Sybil Moholy-Nagy<br />

Ensinar<br />

=<br />

insignare<br />

=<br />

gravar num sinal<br />

=<br />

1 MOHOLY-NAGY, Sybil.<br />

In: KLEE, Paul. “Esboços<br />

pedagógicos”. Londres-<br />

Boston: Faber and Faber,<br />

o corpo do videogame<br />

“A <strong>dança</strong> do Cena 11 é de risco. Pense num skatista subindo aquelas rampas curvas e<br />

fazendo suas manobras radicais. Apague o skate desta imagem, pode abolir também a<br />

rampa. Você adentrou em Violência” (KATZ, 2000, p.D26).<br />

No dia em que Violência estreou, 7 de abril de 2000, em São Paulo, no Sesc Vila Mariana,<br />

o público presente pôde conhecer em primeira mão um <strong>dos</strong> trabalhos mais perturbadores<br />

da <strong>dança</strong> contemporânea brasileira. Com 73 minutos de duração, Violência invade nossa<br />

percepção de tal maneira que parece querer gravar um sinal dentro de nós. Vídeos,<br />

slides, movimentos, músicas, próteses: não há economia na hora de chamar a atenção.<br />

E as palavras interface, videogame, videoclipe – em geral associadas a computadores<br />

e televisões – ganham fisicalidade, como se o palco fosse uma terceira dimensão e os<br />

bailarinos, holografias. Sim, eles não parecem gente: são pós-humanos.<br />

Há pelo menos quatro corpos que aparecem no espetáculo, sendo que o mais evidente<br />

de to<strong>dos</strong> é o do videogame. Parece que a continuidade da marionete se direciona para<br />

o videogame, que vai chegar ao robô, no próximo trabalho, SkinnerBox. Começam a se<br />

esboçar as idéias de comportamento, controle e liberdade.<br />

Os outros corpos presentes em Violência são o da criança, do diferente ou do deficiente e<br />

do palhaço. São to<strong>dos</strong> corpos sujeitos à manipulação. E, portanto, sujeitos à violência.<br />

90 Processo evolutivo que resultou no símbolo do espetáculo Violência, criação de Fernando Rosa.<br />

Letícia Lamela convoca o olhar do público para o risco, a violência e a coragem.<br />

91

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