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a dança dos encéfalos acesos

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com o patenteamento de invenções no campo da iluminação, incluindo o teste da<br />

primeira mistura química para géis e diapositivos (os slides), além do primeiro uso do sal<br />

luminescente para criar efeitos de luz. O ineditismo de suas pesquisas ligadas ao desenho<br />

de luz no palco também se tornou inesquecível, principalmente por ser pioneira no uso<br />

das cores e na exploração de novos ângulos.<br />

A arte de Loïe Fuller lidava com a experimentação luminocinética. Sua obra mostra uma<br />

sintonia fina com o nascimento da sétima arte, da qual era contemporânea. Nada mais<br />

justo que o cinema entrasse na sua vida. Loïe Fuller foi uma das primeiras bailarinas, quiçá<br />

a primeira, a ser filmada por uma câmera.<br />

A bailarina publicou um livro de memórias em 1908, Quinze Ans de Ma Vie.<br />

nikolais e schelemmer:<br />

novas formas para o movimento<br />

Espécie de filho estético de Fuller, o coreógrafo, cenógrafo, figurinista e light designer<br />

americano Alwin Nikolais (1910-1993) deu continuidade à trilha de experimentações de<br />

sua antecessora. Com grande imaginação, Nikolais surpreendeu com estu<strong>dos</strong> de luz, com a<br />

introdução de figurinos que modificavam a forma e o movimento do corpo, além de usar<br />

elásticos e espelhos como motivos coreográficos. Suas obras se destacam na exploração de<br />

recursos tecnológicos na cena. Pela importância de sua realização, Nikolais recebeu muitos<br />

prêmios, entre eles o The Kennedy Center Honors, em 1987.<br />

A obra Crucible, 8 de 1985, mostrava impressionantes recursos de iluminação alia<strong>dos</strong> com<br />

espelhos, responsáveis por proporcionar uma situação ilusionista e mágica ao público<br />

que a assistia. Os bailarinos pareciam trocar de figurino a todo momento. Levava-se um<br />

tempo para perceber que eram os efeitos de iluminação nos corpos seminus, verdadeiras<br />

estampas coloridas e texturas geométricas, que causavam tal impressão. A luz, em<br />

Crucible, é o figurino.<br />

Vale citar ainda Mantis, uma das cenas da obra Imago (1963), na qual os bailarinos usavam<br />

figurinos com formas alongadas nos braços e na cabeça, revelando assim imagens e desenhos,<br />

impossíveis sem tal acoplamento. Incorpora<strong>dos</strong>, pertenciam ao corpo do bailarino. Chama<strong>dos</strong><br />

por Nikolais de extension, tais figurinos aumentavam o alcance do movimento. Entre outras<br />

peças que poderiam ser citadas, vale a menção ao dueto masculino de Mechanical Organ<br />

(1980), que explorava conexões entre dois corpos, desmontando formas e estimulando<br />

a imaginação do espectador para a percepção de outras imagens; e à suntuosa Tensible<br />

Involvement (1953), que usava a manipulação de compri<strong>dos</strong> elásticos, realizando formas<br />

tridimensionais e dando incrível sensação de volume ao espaço cênico.<br />

8 Consultar o vídeo The<br />

World of Alwin Nikolais<br />

(Program 1).<br />

9 picpal.com/maya.html;<br />

www.dla.utexas.edu/depts/<br />

m a s / D e r e n / i n d e x . h t m l ;<br />

www.algonet.se/~mjsull/<br />

(fórum sobre Maya Deren);<br />

e www.mcphersonco.com/<br />

document/legend.html.<br />

Nikolais criou muitas obras em que o desenho da luz, a música e os figurinos estavam em<br />

pé de igualdade com a coreografia. Aliás, a coreografia só é do jeito que é porque foi<br />

feita com a incorporação destes elementos. Esta sua característica multimídia, de tratar<br />

com igualdade diferentes linguagens, revelou um jeito particular de criar <strong>dança</strong>, sempre<br />

contaminada pela tecnologia.<br />

Contemporâneo de Nikolais é o alemão Oskar Schelemmer, além de Moholy-Nagy, Wassily<br />

Kandinsky e outros que pertenceram à revolucionária escola Bauhaus, fundada em Weimar<br />

em 1919 e depois transferida para Berlim. O Ballet Triadique (1922), uma trilogia baseada na<br />

composição de movimentos, formas e cores, transformou a relação do corpo com acessórios e<br />

figurinos. Outro exemplo, La Danse des Bâtons (1928-1929), mostra um bailarino preso a inúmeras<br />

extensões que alongam as formas de seu corpo, ao mesmo tempo que nos dá a ilusão de ver os<br />

ossos. Por fim, La Danse du Métal, de Schelemmer, Bauhaus e Dessau (1929), também poderia<br />

compor ao lado das obras de Nikolais uma descendência das experimentações de Loïe Fuller.<br />

maya deren: <strong>dança</strong> de luz<br />

A convergência entre o cinema e a <strong>dança</strong> ou, se parecer mais adequado, entre o cinema e<br />

o movimento foi bem sincronizada desde o início. Coincidem, portanto, no fim do século<br />

XIX, os nascimentos da <strong>dança</strong> moderna e das primeiras cinematografias. Nos primeiros<br />

dez anos, Méliès, Lumière e Thomas Edison pareciam encanta<strong>dos</strong> com a possibilidade de o<br />

movimento ser captado e reproduzido. Como se estivessem testando seus equipamentos,<br />

os fotógrafos mostravam-se especialmente interessa<strong>dos</strong> em registrar imagens de pessoas<br />

(e outras coisas) em movimento.<br />

Dos anos de 1894 a 1912 datam os primeiros filmes de <strong>dança</strong>, to<strong>dos</strong> mu<strong>dos</strong>. Na maior<br />

parte das vezes trata-se de um registro de uma <strong>dança</strong> de entretenimento, como Princess<br />

Rajah, com Catherina Bartho, que ficaria famosa por <strong>dança</strong>r segurando uma cadeira<br />

entre os dentes. Também os filmes de Ted Shawn e Ruth St. Denis (precursores da <strong>dança</strong><br />

moderna americana), realiza<strong>dos</strong> entre 1912 e 1950. Nesse período surgem os filmes<br />

colori<strong>dos</strong> e sonoros. Sem retirar o mérito destas obras, vale dizer que elas careciam de<br />

algo que veio a se desenvolver posteriormente.<br />

Maya Deren, 9 nascida Eleanora Derenkovskaya em 1917, em Kiev, Ucrânia, é considerada<br />

pioneira na interação da <strong>dança</strong> com o cinema. Mais do que isso, a obra desta artista é uma<br />

referência fundamental para to<strong>dos</strong> os interessa<strong>dos</strong> na sétima arte. Embora existam filmes<br />

de <strong>dança</strong> mais antigos, Maya Deren marca uma diferença radical ao propor uma interface<br />

entre as duas linguagens que escapasse da simples documentação e do entretenimento.<br />

Hábil no tratamento da iluminação, alternando perspectivas de espaço e tempo, criando<br />

ilusão e explorando técnicas de edição, a artista é tida hoje como uma das mais<br />

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