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a dança dos encéfalos acesos

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Outro trabalho na relação da <strong>dança</strong> com as novas tecnologias é Binary Ballistic Ballet<br />

(1995), instalação concebida pelo artista digital Michael Saup, inserida na obra Ei<strong>dos</strong>:<br />

Telos (1995), de Forsythe com o Ballett Frankfurt, que criou uma interação entre<br />

música, <strong>dança</strong> e imagens. A coreografia dialogava com a instalação, um sistema de<br />

<strong>dança</strong> alfabético, transformado em movimento no espaço-tempo tridimensional.<br />

Saup explica que: 24 “A coreografia é geralmente 70% predeterminada. Os outros<br />

30% remanescentes serão influencia<strong>dos</strong> pelo sistema de computador, isso significa<br />

que os <strong>dança</strong>rinos recebem a informação de um <strong>dos</strong> monitores de computador e<br />

imediatamente a transformam em padrões de <strong>dança</strong>. A ligação do sistema reage como<br />

uma retroalimentação/retorno entre músico, <strong>dança</strong>rino e computador. Na segunda<br />

parte, o computador é usado para construir ‘criaturas interativas’ que também reagem<br />

à entrada de som, como por exemplo o monólogo de um performer. Aqui nós também<br />

temos um ‘<strong>dança</strong>rino virtual silencioso’, que se insere constantemente entre formas<br />

geométricas complexas e acompanha os <strong>dança</strong>rinos no palco reagindo à trilha sonora.<br />

Os gráficos resultantes são exibi<strong>dos</strong> como uma parte do espetáculo” (Saup in www.aec.<br />

at/prix/1995/E95auszI-ballet.html).<br />

uma instalação virtual de <strong>dança</strong><br />

Outro trabalho de peso é Ghostcatching. 25 Fruto de parceria entre Paul Kaiser,<br />

Shelley Eshkar (os artistas digitais do Riverbed Group) e o bailarino americano Bill T.<br />

Jones, a obra descobre seu lugar na contaminação entre <strong>dança</strong>, computação gráfica<br />

e composição via computador. Ghostcatching, em seu produto final, é uma instalação<br />

virtual de <strong>dança</strong>. A realização deste trabalho valeu-se <strong>dos</strong> avanços da tecnologia para<br />

a captura do movimento, a motion capture. Enquanto Bill T. Jones <strong>dança</strong>va no escuro,<br />

oito câmeras capturavam o sinal <strong>dos</strong> sensores de luz (light-sensitives) atacha<strong>dos</strong> em 22<br />

pontos de seu corpo. Foram 40 seqüências de movimento, inspiradas em pinturas do<br />

artista plástico Keith Haring.<br />

Já no computador, as imagens são convertidas em arquivos tridimensionais e<br />

transformadas numa figura bípede através do Biped (sistema utilizado também na<br />

coreografia homônima de Cunningham), uma ferramenta sofisticada para traduzir o<br />

movimento humano. A anatomia é então recriada por formas geométricas modeladas<br />

no computador. Renderiza<strong>dos</strong>, os corpos de Ghostcatching se situam entre rabiscos<br />

e raio X.<br />

Na <strong>dança</strong> ou nos arquivos desta <strong>dança</strong>, linha e densidade sozinhas são indicadores de<br />

músculos e ritmo. Como se toda esta tecnologia pudesse revelar as pinceladas que o corpo<br />

humano fabrica ao <strong>dança</strong>r.<br />

24 “The choreography<br />

is generally as much as<br />

70% predetermining. The<br />

remaining 30% will be<br />

influenced by the computer<br />

system, which means that<br />

the dancers receive the<br />

information from one of<br />

the computer monitors<br />

and immediately transform<br />

it into dance patterns. The<br />

setup of the system reacts<br />

like a feedback loop between<br />

musician, dancer and<br />

computer. In part two the<br />

computer is used to build<br />

‘interactive creatures’ that<br />

also react to incoming sound,<br />

for instance the monologue<br />

of a performer. Here we also<br />

have a ‘silent virtual dancer’<br />

that constantly interpolates<br />

between complex geometric<br />

shapes and accompanies<br />

the dancers on stage to the<br />

soundtrack. The resulting<br />

graphics are displayed as a<br />

part of the stage show.”<br />

25 Ver detalhes em www.<br />

cooper.edu/art/ghostcatching<br />

e no catálogo da exposição<br />

A Virtual Dance Installation.<br />

New York, The Cooper<br />

Union School of Art Arthur<br />

A Houghton Jr. Gallery, 6<br />

january-13 february 1999.<br />

26 WECHSLER (1997; 2000).<br />

palindrome<br />

O Palindrome Inter-media Performance Group (www.palindrome.de), fundado por Robert<br />

Wechsler, outro exemplo deste universo, constitui-se num grupo de artistas e cientistas<br />

que desenvolve performances de <strong>dança</strong>-tecnologia desde 1995.<br />

O trabalho do Palindrome com o computador usa duas bases tecnológicas ou parâmetros<br />

de interface. 26 Uma delas pode ser vista na peça Heartbeat Duet. Dois <strong>dança</strong>rinos têm<br />

eletro<strong>dos</strong> sobre o peito e transmissores nos bolsos para captar a pulsação do coração, que<br />

depois é convertida numa estrutura musical. Os batimentos <strong>dos</strong> dois corações, cada um<br />

transformado numa batida diferenciada, criam um contraponto de ritmo.<br />

Na grande tela no fundo do palco, o público pode ver um gráfico de atividade funcional<br />

<strong>dos</strong> órgãos e suas variações de freqüência, enquanto assiste à peça. Os eletro<strong>dos</strong> revelam<br />

aos olhos do espectador a experiência física e visceral <strong>dos</strong> bailarinos.<br />

Fenômeno semelhante ocorre quando os eletro<strong>dos</strong> são liga<strong>dos</strong> em músculos. Através da<br />

contração e da distensão, sinais são transmiti<strong>dos</strong> pelo computador para diferentes canais<br />

de som, gerando uma peça musical virtual pela conversão elétrica e seu equivalente<br />

sonoro. Desta maneira, é o corpo do <strong>dança</strong>rino que cria a própria música do seu<br />

movimento. Processo similar pode ser realizado para controlar a luz.<br />

Ao longo da história, a <strong>dança</strong>, em seus vínculos com a música, quase sempre atuou como<br />

ilustradora, dando materialidade física às diferentes intensidades sonoras. Ou seja, a<br />

<strong>dança</strong> interpreta as variações musicais, seguindo-lhe o rastro ao pé da letra, ou melhor,<br />

da partitura. Com realizações em maior ou menor grau de complexidade, esta é a forma<br />

mais convencional de relacionar <strong>dança</strong> e música.<br />

Cunningham e Cage marcaram uma grande diferença ao colocar <strong>dança</strong> e música em pé de<br />

igualdade como participantes de um evento. Elas estão unidas em laços de coexistência. Tanto<br />

que nos méto<strong>dos</strong> coreográficos de Cunningham, bem como em seu processo de montagem e<br />

nos ensaios, o tempo das seqüências de movimentos é controlado por um cronômetro, e<br />

a música, muitas vezes, é conhecida pelos bailarinos um pouco antes da estréia.<br />

Um outro tipo de contato entre <strong>dança</strong> e música é aquele em que há uma espécie de<br />

conversa. As obras da coreógrafa belga Anne Teresa De Keersmaeker podem ser citadas<br />

como exemplo. Com base na interação com a tecnologia, no Palindrome, o próprio<br />

movimento do corpo pode contribuir para a composição da música, com a ajuda de<br />

sofistica<strong>dos</strong> sistemas. Trata-se de uma outra forma de relacionamento.<br />

Voltando às tecnologias utilizadas pelo Palindrome, uma segunda forma de interação<br />

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