17.04.2013 Views

a dança dos encéfalos acesos

a dança dos encéfalos acesos

a dança dos encéfalos acesos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

e a área circunscrita pelo linóleo, onde os bailarinos <strong>dança</strong>m essa <strong>dança</strong> que não parece <strong>dança</strong>,<br />

em seu sentido convencional. Não há coxias e os bailarinos não saem do palco. Quando não<br />

estão em cena, sentam-se em cadeiras que ficam nos cantos. Os corpos estão cada vez mais<br />

expostos e com a tecnologia cada vez mais encarnada, daí a desnecessidade do cenário.<br />

Cabe perguntar: quando alguém faz um movimento, ele é dono desse movimento? É<br />

autor? É alguém? Então, quando um robô faz um movimento, ele também é alguém?<br />

Os figurinos se alternam entre roupas<br />

comuns e proteções, como na cena em<br />

que Letícia Lamela e Anderson Gonçalves<br />

executam manobras de queda, depois de<br />

posicionar seus corpos na marcação em X<br />

feita pelo robô, controlado a distância<br />

por Eduardo Serafin. Eles estão vesti<strong>dos</strong><br />

apenas com proteções: joelheiras, botas,<br />

cotoveleiras e coberturas para os genitais<br />

e ossos do quadril.<br />

São partes do corpo e apoios que impulsionam<br />

as quedas. Como se essa discussão do<br />

controle também pudesse ser imposta<br />

individualmente, em nível físico. É uma perna que derruba o corpo? Um dobrar de tronco?<br />

Limitações no corpo também são exploradas com blusas na cena de Karina Barbi e Karina<br />

Collaço. O figurino tem aqui uma função diferente, atuando diretamente na seqüência<br />

de movimentos de duplas, que se alternam. Agilidade e violência fluidas impressionam. O<br />

figurino está entre. Entre um corpo e outro, entre a tensão e a queda: é alavanca e meio.<br />

É sujeito e objeto, tal qual os corpos.<br />

A situação de controle aparece durante todo o Procedimento 1, ora mais, ora menos<br />

sutilmente. Por exemplo, quando as botas do intérprete Sérgio (Gregório Sartori) são<br />

colocadas em cena e filmadas pelo robô. Na grande tela, vemos seu nome gravado no<br />

calçado. Vale um parêntese para destacar a maneira de se movimentar deste intérprete.<br />

Com treinamento de teatro e circo (era ele quem fazia a perna de pau em In’perfeito e a<br />

criatura em Violência), sua movimentação tem uma qualidade diferenciada: parece mais<br />

crua, mais direta. Há uma outra atitude em seu corpo. Isso leva a pensar no tipo de técnica<br />

e de treinamento que esta <strong>dança</strong> parece solicitar. Aliás, é preciso fazer justiça, a ótima<br />

qualidade do elenco é um <strong>dos</strong> grandes méritos do Cena 11.<br />

O corpo do outro é trampolim para as quedas. Tudo se sofistica no corpo: as desarticulações,<br />

as quedas, as torções, os apoios,<br />

os contatos. Novas dinâmicas se<br />

reorganizam e o chão parece ser<br />

o destino <strong>dos</strong> corpos que caem,<br />

voam e se arremessam.<br />

três parâmetros e cria linhas em movimento. Aliás, há muita linha e precisão.<br />

Outro momento em que a situação<br />

de controle aparece é na seqüência<br />

de duplas que se alternam uma<br />

após outra. A cantora Hedra<br />

Rockenbach chama os bailarinos<br />

pelo nome. A projeção na tela<br />

mostra seus rostos. A cena com as<br />

barras metálicas evoca de novo os<br />

A poesia, antes falada, agora está na carne. O Procedimento 1 tem 40 minutos de duração.<br />

Pode-se assisti-lo três vezes para se concentrar em cada parâmetro, e ver que os três estão<br />

presentes. Este jogo de controle, comportamento, comunicação, sujeito, objeto, humano<br />

e máquina deixa uma pergunta no ar: o que é liberdade? Somos to<strong>dos</strong> autômatos?<br />

ficha técnica do espetáculo<br />

106 Robô capta imagem de Karin Serafin e Anderson Gonçalves, que é projetada em tempo real na tela.<br />

Anderson Gonçalves é mestre em manobras arriscadas.<br />

ano 2002<br />

elenco Alejandro Ahmed, Anderson Gonçalves, Gregório Sartori, Hedra Rockenbach, Karin<br />

Serafin, Karina Barbi, Kiko Ribeiro, Letícia Lamela, Marcela Reichelt e Mariana Romagnani<br />

[o elenco original incluía os bailarinos Karina Collaço e Wilson Gomes]<br />

direção artística e coreografia Alejandro Ahmed<br />

trilha sonora e assistente de direção Hedra Rockenbach<br />

coordenação de figurinos Karin Serafin [elenco masculino veste Ricardo Almeida]<br />

projeto gráfico, animação e ilustrações Fernando Rosa<br />

núcleo de criação Alejandro Ahmed, Fernando Rosa, Hedra Rockenbach e Karin Serafin<br />

criação e operação de luz Irani Apolinario<br />

elementos de cena Alcides Theiss e Rosane Girardi Hormann<br />

técnico de som Eduardo Serafin<br />

fotos Cristiano Prim e Fernando Rosa<br />

desenvolvimento de protótipos telecomanda<strong>dos</strong> Jair Gonçalves e Roberto Peter<br />

assessoria de imprensa Gabriel Collaço<br />

cabelo Robson Vieira<br />

técnica clássica e assistência de ensaio Malú Rabelo<br />

orientação do projeto Fabiana Dultra Britto<br />

equipe de apoio Cristiano Prim, Eduardo Serafin e Fernando Rosa<br />

produção Eveline Orth<br />

desenvolvimento de tecnologia REXLab, Alexandre Guimarães e Maurício de Paula<br />

orientação prof. João Bosco Alves e prof. Luiz Fernando Maia<br />

107

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!