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a dança dos encéfalos acesos

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econhecer algum rastro ou vestígio destas informações tão<br />

evidentes nos primeiros trabalhos, que agora permanecem como<br />

rastros suaves.<br />

As possibilidades de mu<strong>dança</strong> de padrão são finitas e dependem<br />

sempre das condições do ambiente e do corpo em questão. Com<br />

relação ao Cena 11, deve-se considerar o universo selecionado, e o<br />

trabalho do coreógrafo consiste em explorar este conjunto finito<br />

(mas enorme) de possibilidades. Usar a metáfora do alfabeto pode ajudar. Quando o Cena<br />

11 seleciona e recorta o seu universo, é como se estivesse selecionando as letras do seu<br />

alfabeto. Essas letras começam a formar palavras, frases, e viram parágrafos. São muitas<br />

as possibilidades de combinação entre letras, frases e parágrafos, mas não infinitas.<br />

Cada espetáculo corresponderia às experimentações deste alfabeto em conjunto com<br />

o seu “tema”, ou melhor, sua discussão. O Cena 11 vem formatando o seu universo de<br />

perguntas, onde cada espetáculo carrega continuidades e novidades.<br />

Por estruturar-se em rede, o funcionamento das idéias não responde a um processo linear,<br />

do tipo “se A, logo B”. O trajeto das idéias funciona por similaridades e por (re)combinação<br />

de padrões. Também não podemos esquecer a atuação do acaso e da “auto-organização”<br />

como estratégias evolutivas e co-participantes desse processo.<br />

Todas estas reflexões são possibilitadas porque o núcleo de bailarinos do Cena 11, por<br />

permanecer tanto tempo junto, permite o reconhecimento de uma estabilidade nos<br />

padrões corporais: a instauração de uma marca, tal qual se reconhece em Violência.<br />

Violência é caixa alta, é alto-relevo para perguntas e interesses<br />

antigos. Há uma declaração do coreógrafo Alejandro Ahmed,<br />

muito antes de seu trabalho ser consolidado: “Iniciamos agora<br />

um cross-over palavra-movimento, para ampliar nossa linguagem<br />

cênica e chegar ao público de maneira incisiva e dinâmica. [...]<br />

Queremos subir ao palco e executar violência poética, bom humor,<br />

a língua <strong>dos</strong> nossos dias” (LAVRATTI, 1995, p.C 11).<br />

A continuidade desse projeto artístico mostra seus primeiros<br />

resulta<strong>dos</strong> com Projeto SKR Procedimento 1. A emergência de uma nova organização é<br />

sinônimo de conquista. Nele encontramos a sofisticação de uma formulação, como ficará<br />

claro a seguir.<br />

É a arte questionando conceitos da ciência e da filosofia.<br />

o corpo remoto controlado<br />

“Por que me fitas com olhos sem poder de visão?”<br />

Macbeth<br />

Como acontece o movimento do corpo? De onde vem o movimento? Ele nasce de forças<br />

internas ou de forças externas? É a alma que dá vida à matéria inanimada ou o movimento<br />

é uma propriedade res-extensa? Dar movimento a um ser inanimado é dar-lhe vida? Tudo<br />

o que tem movimento é vivo? O movimento cria a vida? O corpo que se move é um autor?<br />

É alguém? Algo inerte, como um boneco, tem vida?<br />

Todas essas perguntas, recorrentes nas obras do Cena 11, constituem uma formulação à<br />

qual o coreógrafo Alejandro Ahmed vem se dedicando ao longo de sua carreira. Tal qual<br />

uma pesquisa, um projeto artístico pressupõe processo e construção: em cada espetáculo,<br />

um estágio de investigação no corpo. Um corpo produtor de conhecimento que ressoa<br />

e investiga questões que também são tratadas pela filosofia e pelas ciências cognitivas,<br />

inclusive questionando-as.<br />

112 Letícia Lamela, olhos de boneca.<br />

Gregório Sartori, controle e risco na interface humano/não-humano.<br />

Corpo arremessado, risco, violência e dor.<br />

Essa linhagem de idéias começou com o interesse de olhar o corpo por dentro, em<br />

Respostas sobre Dor, quando vemos os ossos expostos em radiografias, e nas quebras<br />

de articulação exibidas em O Novo Cangaço, que veio depois, dando continuidade ao<br />

processo. Das marionetes da gravidade (In’perfeito), passando pelo boneco do videogame<br />

113

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