11.05.2013 Views

Pragmática: Comunicação Publicitária e Marketing - Livros LabCom ...

Pragmática: Comunicação Publicitária e Marketing - Livros LabCom ...

Pragmática: Comunicação Publicitária e Marketing - Livros LabCom ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

✐<br />

✐<br />

✐<br />

✐<br />

Imagens da ironia na publicidade 45<br />

elocução (elocutio); elas são, antes de mais, argumentos, ainda que sob uma<br />

forma mais intuitiva, implícita e “condensada”- e relevando, portanto, também<br />

da inventio e da própria configuratio. 5<br />

Assim, e para darmos apenas um exemplo, quando se diz metaforicamente<br />

que “Ricardo é um leão”, podemos pensar num entimema do género: “Ricardo<br />

é um leão, pois é corajoso”, a que corresponde o seguinte silogismo: “(Se) Todos<br />

os leões são corajosos; (e) João é corajoso; (então) João é um leão.” Podese<br />

argumentar que este silogismo representa uma falácia evidente, resultante<br />

da troca do antecedente pelo consequente. No entanto, o facto de estarmos<br />

perante uma falácia não torna menos poderoso o argumento quando utilizado<br />

num discurso retórico. Podemos, aliás, pôr a hipótese de que figuras como a<br />

metáfora ou a comparação – figuras ditas ”de semelhança” – são utilizadas,<br />

precisamente, para fazer passar como válidos argumentos que, na realidade,<br />

são falaciosos. Por outras palavras: que estas figuras são uma forma de que o<br />

orador se serve para jogar o verosímil contra o lógico e, assim, vencer retoricamente<br />

a própria lógica.<br />

Para nos referirmos especificamente à ironia, vejamos o seguinte exemplo,<br />

adaptado de Eggs (2009, s/d): “Os membros da Frente Nacional não são antisemitas<br />

[p]; a prova é que o tribunal de Aubervilliers acaba de condenar o<br />

seu grande chefe Le Pen por esse motivo [q].” Esta ironia pode ser facilmente<br />

transformada numa argumentação (ou contra-argumentação) com a seguinte<br />

forma: “Os membros da frente Nacional pretendem que não são anti-semitas<br />

[p]; mas o tribunal de Aubervilliers acaba de condenar o seu grande chefe Le<br />

Pen por esse motivo [q].”<br />

Como comenta Eggs, apesar de em ambos os exemplos estarmos perante<br />

a tentativa de demonstrar o contrário do que os membros da Frente Nacional<br />

defendem (que não são racistas), tal tentativa é feita de forma diferente – já<br />

que, no caso da ironia, o seu “fim principal” não é a contra-argumentação, mas<br />

“mostrar que o adversário defende uma tese contra toda a evidência”, o que<br />

“constitui uma forma de troçar de outrem e de o criticar”. (Eggs, 2009, s/d)<br />

5 Como refere Bonhomme, “[...] por pouco que elas entrem num argumentação, a maior<br />

parte das figuras são procedimentos argumentativos de pleno direito, pelo que extravasam do<br />

domínio da locução para o da invenção. De acordo com esta versão forte, poder-se-ia ver<br />

nas figuras formas condensadas de argumentos.” (Bonhomme, 2009). Para um exemplo da<br />

aplicação desta tese à metonímia, cf. a secção 4, “Étude de cas: l’argumentation métonymique<br />

dans la Publicité”.<br />

✐<br />

✐<br />

✐<br />

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!