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Psiquiatria - Faculdade de Medicina - UFMG

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Érico <strong>de</strong> Castro Costa *<br />

Gislene Valadares Miranda **<br />

Ana Luiza Corrêa da Costa ***<br />

Maurício Viotti Daker ****<br />

Resumo<br />

Os autores relatam caso <strong>de</strong> paciente portador <strong>de</strong> transtorno afetivo<br />

bipolar resistente, acompanhado há cinco anos no laboratório do<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Psiquiatria</strong> do Hospital das Clínicas - <strong>UFMG</strong>. Após <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong>talhada do caso e constatação da falência das terapêuticas psicofarmacológicas<br />

usuais, <strong>de</strong>vido a ineficácia (lítio) ou intolerância<br />

(carbamazepina, oxcarbazepina), além da utilização <strong>de</strong> polifarmacoterapia<br />

com riscos <strong>de</strong> interações in<strong>de</strong>sejáveis, é apresentada revisão<br />

bibliográfica <strong>de</strong> tratamento com Clozapina e optamos pelo<br />

emprego, bem sucedido, da clozapina do transtorno afetivo bipolar<br />

resistente.<br />

Palavras-chave: Transtorno <strong>de</strong> Humor Bipolar; Clozapina<br />

Caso Clínico<br />

TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR RESISTENTE E REVISÃO DE SEU<br />

TRATAMENTO COM CLOZAPINA<br />

RESISTANT BIPOLAR DISORDER AND A REVIEW OF ITS TREATMENT WITH CLOZAPINE<br />

AB, 51 anos, masculino, ex-comerciante, atualmente aposentado,<br />

casado, três filhas, católico, natural e resi<strong>de</strong>nte em Belo<br />

Horizonte. Nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>: 4ª série primária.<br />

Primeiro atendimento no serviço em 23/11/1994. Apresentava-se<br />

com humor <strong>de</strong>primido, hipobúlico e com alterações do pensamento<br />

(idéias suicidas e <strong>de</strong> ruínas). Não havia qualquer alteração<br />

da sensopercepção e do nível <strong>de</strong> consciência.<br />

Na anamnese da história pregressa, esposa relata que paciente<br />

já fez uso pesado <strong>de</strong> álcool até 1983. Em 1986, paciente apresentou<br />

alterações <strong>de</strong> comportamento que foram relacionadas com<br />

o plano econômico do cruzado. O paciente não se cansava <strong>de</strong> falar<br />

“a situação está difícil”, “o dinheiro não dá para nada”. Com isso<br />

proibiu que se ligasse a televisão e/ou se acen<strong>de</strong>sse a luz da casa,<br />

a fim <strong>de</strong> poupar energia. Além disso, arrendou sua loja em conhecido<br />

mercado <strong>de</strong>sta capital.<br />

A esposa relata que dois anos mais tar<strong>de</strong> (1988) o paciente ficou<br />

agitado e com episódios <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong>. Andava durante<br />

toda a madrugada com saco <strong>de</strong> sementes nas costas e dizia que<br />

* Resi<strong>de</strong>nte do terceiro ano da Residência <strong>de</strong> <strong>Psiquiatria</strong> do<br />

Hospital das Clínicas - <strong>UFMG</strong>. Doutorando na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Bonn, Alemanha.<br />

** Preceptora da Residência <strong>de</strong> <strong>Psiquiatria</strong> do Hospital das Clínicas<br />

- <strong>UFMG</strong>.<br />

*** Resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>Psiquiatria</strong> do Instituto Raul Soares, Fundação<br />

Hospitalar do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

iria plantar. Dormia pouco, falava muito. O conteúdo da fala girava<br />

em torno <strong>de</strong> dinheiro e os negócios que realizaria, que lhe<br />

ren<strong>de</strong>riam muitos “milhões <strong>de</strong> dólares”. O paciente foi atendido<br />

por psiquiatra e não aceitou a medicação, havendo necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> misturar haloperidol 50 gotas na alimentação, com remissão<br />

do quadro. Fez uso contínuo do haloperidol até as mudanças <strong>de</strong><br />

comportamento que se iniciaram três semanas antes do atendimento<br />

<strong>de</strong> 23/11/1994.<br />

Foi indicada internação, sendo prescritos haloperidol 5 mg<br />

VO à noite, imipramina 25 mg à noite e uma ampola <strong>de</strong> haloperidol<br />

mais uma ampola <strong>de</strong> prometazina em caso <strong>de</strong> agitação. Solicitadas<br />

provas <strong>de</strong> função tireoidiana, TGO, TGP, bilirrubinas e<br />

avaliação pela clínica médica. O caso foi discutido no dia<br />

24/11/1994 pela preceptoria, que sugeriu a introdução lenta <strong>de</strong><br />

clonazepam e a troca do haloperidol pela clorpromazina. Com<br />

isso, a nova prescrição do paciente passou a ser: clonazepam<br />

3,5 mg/dia, clorpromazina 200 mg/dia e imipramina 50 mg/dia,<br />

além <strong>de</strong> biperi<strong>de</strong>no 2 mg/dia. O paciente apresentou vários episódios<br />

<strong>de</strong> insônia e agitação psicomotora diurna, o que levou ao<br />

incremento das doses <strong>de</strong> clorpromazina até 400 mg/dia, clonazepam<br />

até 6 mg/dia e imipramina 125 mg/dia.<br />

No dia 12/12/1994 (22º dia <strong>de</strong> internação), foi iniciado carbonato<br />

<strong>de</strong> lítio 600 mg/dia após a normalida<strong>de</strong> dos resultados das<br />

provas tireoidianas. Após 29 dias <strong>de</strong> internação, em 22/12/1994,<br />

o paciente recebeu alta com melhora do quadro <strong>de</strong> agitação e em<br />

uso <strong>de</strong>: imipramina 125 mg/dia, clonazepam 4 mg/dia, clorpromazina<br />

100 mg/dia e carbonato <strong>de</strong> lítio 900 mg/dia.<br />

Continuou acompanhado no ambulatório, em uso <strong>de</strong> carbonato<br />

<strong>de</strong> lítio 1.200 mg/dia, clonazepam 5 mg/dia, imipramina<br />

50 mg/dia e clorpromazina 200 mg/dia. Mantinha-se com a litemia<br />

em torno <strong>de</strong> 0,9 mEq/l a 1,0 mEq/l e sem alterações do humor.<br />

Nos controles ambulatoriais mensais da psiquiatria foi observado<br />

hipotireoidismo subclínico, sendo indagado se <strong>de</strong>corrente<br />

do lítio, já que as provas tireoidianas pré-tratamento<br />

com lítio não apresentavam alterações (T3 = 105, T4 = 7,2,<br />

TSH = 3,9). Ao longo do ano <strong>de</strong> 1995 o paciente se manteve estabilizado<br />

em uso da medicação já citada e com a litemia sempre<br />

em torno <strong>de</strong> 1,0 mEq/l.<br />

Em 06/11/1995, a esposa comparece sozinha ao atendimento<br />

relatando alterações <strong>de</strong> comportamento do paciente: heteroagressivida<strong>de</strong>,<br />

irritação, agitação, exaltação do humor e insônia. Foi retirado<br />

o anti<strong>de</strong>pressivo (imipramina). Aumenta-se a clorpromazi-<br />

**** Coor<strong>de</strong>nador da Residência <strong>de</strong> <strong>Psiquiatria</strong> do Hospital das<br />

Clínicas - <strong>UFMG</strong>. Professor Adjunto Doutor e Chefe do<br />

Departamento <strong>de</strong> <strong>Psiquiatria</strong> e Neurologia da <strong>Faculda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Medicina</strong> da <strong>UFMG</strong>.<br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Residência <strong>de</strong> <strong>Psiquiatria</strong> - Hospital das Clínicas<br />

Av. Prof. Alfredo Balena 110.<br />

Casos Clin Psiquiat 1999; 1(1):27-32 27

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