Psiquiatria - Faculdade de Medicina - UFMG
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que se passava comigo e assim <strong>de</strong>veria ser com todos. Passei a<br />
confiar mais ainda no meu conhecimento bíblico e na Bíblia Sagrada,<br />
pois nela existem passagens on<strong>de</strong> se ouvem vozes e são vistos<br />
espíritos.<br />
O Dr. LXVI receitou-me haldol, akineton e neozine. Em maio<br />
<strong>de</strong> 1980, falei para o Dr. LXVI que não conseguia trabalhar tomando<br />
aquelas drogas, pois não conseguia raciocinar e nem pensar.<br />
Se fosse necessário tomá-las, então era para ele conseguir uma<br />
licença no INSS para mim. Ele não quis, dizendo-me que não <strong>de</strong>via<br />
ou podia (?) me arrumar licença e que então era para que eu<br />
ficasse sem remédios, mas logo que a “crise” (hoje a chamo <strong>de</strong> fenômeno<br />
mediúnico ou místico) iniciasse era para que eu tomasse<br />
uma dose <strong>de</strong> “haldol”, pois não iria agüentar o <strong>de</strong>senrolar da crise.<br />
Logo que terminou o efeito do remédio e comecei a sentir a<br />
presença dos “invisíveis ou espíritos”, tive um acesso muito forte<br />
<strong>de</strong> vômitos, mas nada vomitei e não aceitei tomar remédios.<br />
Em junho <strong>de</strong> 1980, voltei ao consultório do Dr. LXVI, que<br />
tentou forçar-me a aceitar a tomar remédios e, perante a minha<br />
negativa, disse-me mais ou menos assim: “Se você fosse um auxiliar<br />
<strong>de</strong> pedreiro, mandava uma radiopatrulha prendê-lo e internálo<br />
no ‘Galba Veloso’ (outro hospital para doentes mentais) para<br />
você tomar remédio”. O que respondi imediatamente: “A minha<br />
sorte é que não sou, não é doutor? Também tenho curso superior,<br />
posso lhe pagar esta consulta e também o senhor precisa <strong>de</strong>la para<br />
o seu sustento”.<br />
É lógico que não gostou da minha resposta e disse para a<br />
EML que não iria tratar mais <strong>de</strong> mim porque eu era teimoso e cabeçudo<br />
<strong>de</strong>mais.<br />
No último trimestre <strong>de</strong> 1980 freqüentei a clínica A. Santa do<br />
frei NK e lá me orientaram a parar <strong>de</strong> tomar remédio. Nessa clínica<br />
tomei soro, fiz sessões <strong>de</strong> regressão <strong>de</strong> vida até ao útero e <strong>de</strong><br />
relaxamento. Numa <strong>de</strong>ssas sessões vi mentalmente pela primeira<br />
e única vez o “Velho Jó”, o espírito, que hoje é o meu mentor<br />
principal.<br />
Pelo meu conhecimento atual, sei que a pessoa que dirigia a<br />
“sessão <strong>de</strong> relaxamento” não agiu corretamente. Ela mesma fez<br />
com que o “Velho Jó” saísse da minha tela mental, pois não o conhecia,<br />
mas como houve o aparecimento <strong>de</strong>le era necessário <strong>de</strong>scobrir<br />
a causa ou razão daquela visão. A imagem do “Velho Jó”<br />
continua nítida em minha mente.<br />
Levou um bom tempo para a limpeza química do meu físico.<br />
No início <strong>de</strong> 1981, após o término dos efeitos dos remédios, voltei<br />
a sentir os efeitos da mediunida<strong>de</strong>. Tive que retornar ao Dr.<br />
LXVI, pois o meu orientador da clínica A. Santa, o psicólogo irmão<br />
MPN estava <strong>de</strong> férias e os meus familiares não aceitavam que<br />
eu ficasse sem remédios. Nesta consulta com o Dr. LXVI conversamos<br />
sobre “ETs” e discos voadores: “OVNIS”. Ele fez-me muitas<br />
perguntas, às quais ia respon<strong>de</strong>ndo. Disse-me também que o<br />
tratamento na clínica A. Santa era puro charlatanismo. Fiz o pagamento<br />
à secretária, mas esqueci <strong>de</strong> assinar o cheque. O Dr.<br />
LXVI repetiu os mesmos remédios receitados em abril/1980. Na<br />
consulta seguinte, após a orientação sobre os remédios, apresentou-me<br />
o cheque sem assinatura e falou-me, mais ou menos assim:<br />
“Assine aqui para mim. Você estava tão ruim na vez passada que<br />
nem assinou o cheque”. Respondi imediatamente, sem pensar:<br />
“Pois é, doutor, e quem recebeu o cheque estava pior do que eu, pois<br />
recebeu um papel sem nenhum valor”.<br />
Em março/81, através <strong>de</strong> uma velha e muito amiga, a mesma<br />
que chamei <strong>de</strong> mãe na noite <strong>de</strong> 11 para 12 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1980, fomos<br />
avisados que, no bairro Jardim América, um médium atendia<br />
e curava muitos doentes, inclusive <strong>de</strong> câncer, e como a EML<br />
tinha câncer, o que ficamos sabendo em novembro <strong>de</strong> 1980, pediu-me<br />
para levá-la lá. Foi assim que tomei conhecimento prático<br />
da vida evangélica e caridosa dos espíritas. O atendimento era feito<br />
aos domingos à tar<strong>de</strong> e <strong>de</strong> 14 em 14 dias. Na primeira vez não<br />
aceitei fazer uma consulta para mim, mas na segunda vez consultei<br />
também. Logo que entrei na sala do médium e expus o que<br />
acontecia comigo, o médium mediunizado respon<strong>de</strong>u-me: “Você<br />
não tem doença nenhuma, o problema é que os amigos invisíveis estão<br />
querendo manter contato. Você conhece alguma coisa?”<br />
Perante minha ignorância completa do assunto aconselhoume<br />
a ler as obras do André Luiz, psicografadas por Chico Xavier.<br />
Também foi marcada uma reunião <strong>de</strong> captação para mim, após 28<br />
dias. Religiosamente compareci no dia marcado com antecedência<br />
e nada foi feito. Quando cobrei a razão <strong>de</strong> não ter sido atendido,<br />
indicaram-me um outro médium para conversar. Este era<br />
um advogado, que recebia um caboclo e <strong>de</strong>u-me a seguinte explicação,<br />
após um bom diálogo: “Nós não fizemos a reunião <strong>de</strong> captação<br />
com você porque estamos com medo. Os que estão com você<br />
são espíritos <strong>de</strong> extremos: são muito bons ou muito maus. Por isso<br />
aconselho-o a ler as obras da codificação do espiritismo, escritas por<br />
Allan Kar<strong>de</strong>c”.<br />
Não é necessário dizer que as li e reli todas, ainda continuo<br />
lendo e estudando-as.<br />
Uma conversa premonitória com colegas da empresa (sobre<br />
medida que evitaria sua falência, o que se concretizou posteriormente),<br />
também em início <strong>de</strong> 81, causou-me muita emoção e,<br />
logo que cheguei em casa, senti uma forte manifestação mediúnica.<br />
Quando cheguei na janela da sala vi um carro parado em frente,<br />
na rua Ramos <strong>de</strong> Freitas. Ouvi o passageiro falar com o motorista<br />
assim: “Toca, que nós não po<strong>de</strong>mos entrar nessa casa, é luz <strong>de</strong>mais”.<br />
O carro foi embora, como também o provável auxílio.<br />
Em setembro <strong>de</strong> 1981 tirei férias e senti uma razoável melhora.<br />
Viajei sozinho para visitar o papai e outros familiares. Em Divinópolis,<br />
fiquei sabendo do lado espiritual <strong>de</strong> tudo aquilo que<br />
aconteceu comigo. Participei também <strong>de</strong> uma reunião mediúnica,<br />
na linha <strong>de</strong> umbanda, na casa do meu irmão, com um médium<br />
que esteve em minha casa no final <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1980. Tive ótima<br />
melhora durante as férias. Alguns dias <strong>de</strong>pois fiquei sabendo que<br />
meus familiares davam-me remédio sem o meu conhecimento e,<br />
como viajei sozinho, esta atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sleal não pô<strong>de</strong> continuar. Com<br />
isso, o meu físico começou a ficar livre da contaminação e da prisão<br />
química. Aqui estava a explicação da minha melhora.<br />
Procurei então o psiquiatra espírita e médium Dr. MMM.<br />
Pois raciocinei assim: “Já que estou pagando a um psiquiatra, é<br />
melhor que vá a um psiquiatra espírita, pois assim posso apren<strong>de</strong>r<br />
mais sobre mediunida<strong>de</strong> e espiritismo kar<strong>de</strong>cista”. O Dr.<br />
MMM me falou algo, que muito me <strong>de</strong>cepcionou: “Como você<br />
veio aqui, é porque a ‘espiritualida<strong>de</strong>’ julga que você precisa <strong>de</strong> remédios<br />
e por isso vou ter que receitar para você. Aqui sou psiquiatra<br />
e não médium”.<br />
Por orientação médica do Dr. MMM tomei “stelazine”, “tofranil”,<br />
“semap”, “haldol” e “akineton”. Aceitei ficar com o Dr.<br />
MMM até julho <strong>de</strong> 1983, pois este psiquiatra também era mé-<br />
Casos Clin Psiquiat 1999; 1(1):3-11 7