Psiquiatria - Faculdade de Medicina - UFMG
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ada do verapamil. Paciente mantendo ciclagens rápidas do humor.<br />
Introduzida levomepromazina 30 mg/dia, mantidos clonazepam<br />
4 mg/dia, prometazina 50 mg/dia e estazolam 4 mg/dia. Em<br />
04/06/1996 apresenta melhrora da exaltação do humor, mantendo-se<br />
estável e em uso <strong>de</strong> levomepromazina 50 mg/dia e <strong>de</strong>mais<br />
medicações acima. Persiste bem em 29/06/1996. Em 29/07/1996<br />
não compareceu ao atendimento.<br />
Retorna em 23/09/196 com labilida<strong>de</strong> do humor e agitação<br />
psicomotora durante alguns dias, segundo o relato da esposa. Aumentado<br />
clonazepam para 6 mg/dia, levomepromazina para<br />
150 mg/dia, prometazina para 75 mg/dia, além <strong>de</strong> usar estazolam<br />
2 mg/dia. Em 31/10/1996 a esposa relata episódios <strong>de</strong> agitação,<br />
havendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incremento da dose <strong>de</strong> levomepromazina.<br />
O médico, porém, faz a seguinte anotação no prontuário<br />
“opto por não modificar dose atual das medicações em função da<br />
dificulda<strong>de</strong> do manejo do quadro”. Persistem eventuais agitações,<br />
mas sem maiores intercorrências. Observa-se que o paciente está<br />
muito sedado.<br />
Em 27/02/1997 a acompanhante relata que o paciente voltou<br />
a ficar insone e as agitações psicomotoras mais frequentes. Aumentado<br />
o clonazepam para 8 mg/dia e a levomepromazina para<br />
200 mg/dia. Mantidos estazolam 4 mg/dia e prometazina<br />
75 mg/dia. Introduzido ácido valpróico 1.500 mg/dia. Em<br />
06/03/1997 se apresenta sedado, com a voz arrastada e bradipsiquisimo.<br />
Iniciada a retirada <strong>de</strong> prometazina e levomepromazina.<br />
Em 03/04/1997 hipotímico, hipobúlico, chorando muito. Continua<br />
queixando-se da insônia, relata dormir mais ou menos três a<br />
quatro horas/noite. Suspensas prometazina e levomepromazina.<br />
Introduzida clorimipramina 75 mg/dia. Mantido ácido valpróico<br />
1.500 mg/dia. Apresenta-se eutímico em 07/08/1997, em uso<br />
<strong>de</strong>: clonazepam 6 mg/dia, estazolam 4 mg/dia, clorimipramina<br />
75 mg/dia, ácido valpróico 1.500 mg/dia. Dosagem plasmática<br />
<strong>de</strong> ácido valpróico 75 mg/ml.<br />
Em 09/10/1997 atendido fora da data programada a pedido<br />
da esposa, apresentando-se agitado, agressivo, logorréico, taquipsíquico<br />
e insone. Introduzidas risperidona 1,5 mg/dia e clorpromazina<br />
200 mg/dia. Mantidos ácido valpróico 1.500 mg/dia e clonazepam<br />
6 mg/dia. Suspensa a clorimipramina. Eutímico em<br />
20/11/1997, dosagem <strong>de</strong> ácido valpróico 67,5 mg/ml.<br />
Em 18/12/97 hipotímico, hipobúlico, chorando e com idéias<br />
<strong>de</strong> suicídio. Reintroduzida clorimipramina 75 mg/dia. Em uso,<br />
ainda, <strong>de</strong> risperidona 2 mg/dia, clorpromazina 100 mg/dia, clonazepam<br />
6 mg/dia e ácido valpróico 1.500 mg/dia.<br />
Em 14/05/1998 persistem flutuações do humor. Após revisão<br />
na literatura e discussão com a preceptoria, optou-se pela introdução<br />
<strong>de</strong> clozapina, já que o paciente ainda não se mantinha estabilizado,<br />
em que pesem todas as medidas terapêuticas psicofarmacológicas<br />
anteriores. Enquanto se aguardava liberação da medicação<br />
pela Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, o paciente mantinha flutuações do humor.<br />
Introduzida a clozapina 25 mg/dia em 14/12/1998. Iniciada<br />
retirada das <strong>de</strong>mais medicações. Em 21/12/1998 retorna em uso<br />
<strong>de</strong> clozapina 100 mg/dia e ácido valpróico 1.000 mg/dia. Retirados<br />
risperidona, clomipramina, clonazepam, clorpromazina.<br />
Queixas <strong>de</strong> sialorréia. Em 04/01/1999 em uso <strong>de</strong> clozapina<br />
200 mg/dia e ácido valpróico 500 mg/dia. Em 11/01/1999 se apresenta<br />
eutímico em uso <strong>de</strong> clozapina 300 mg/dia e ácido valpróico<br />
250 mg/dia. Permanece eutímico em 25/01/1999 com clozapina<br />
300 mg/dia, retirado ácido valpróico. Hemogramas semanais sem<br />
alterações. Sialorréia.<br />
Em 19/03/1999, quinze semanas após a introdução da clozapina,<br />
não apresenta qualquer alteração do humor, embora se<br />
queixe <strong>de</strong> sialorréia e tenha havido ganho <strong>de</strong> peso <strong>de</strong> seis quilos.<br />
Paciente sendo ainda acompanhado semanalmente.<br />
Para um apanhado geral das diversas prescrições, ver a<br />
Tabela 1.<br />
Hipótese diagnóstica: Transtorno afetivo bipolar, atualmente<br />
em remissão. F-31.7 (CID 10)<br />
Discussão<br />
A experiência clínica acumulada nas últimas três décadas indica<br />
que 20% a 40% dos pacientes com quadros agudos do<br />
transtorno afetivo bipolar não respon<strong>de</strong>m ao lítio e que 72% a<br />
82% dos pacientes com o subtipo <strong>de</strong> ciclagem rápida também são<br />
resistentes.1,2 Com isso é necessário manter o uso do neuroléptico<br />
como tratamento <strong>de</strong> manutenção para um melhor controle dos<br />
sintomas psicopatológicos, mesmo com o risco <strong>de</strong>sses pacientes<br />
<strong>de</strong>senvolverem discinesia tardia.3<br />
Vários trabalhos <strong>de</strong>monstram que quanto mais grave for o<br />
quadro afetivo bipolar, menor é a resposta terapêutica ao lítio e a<br />
outros moduladores do humor - carbamazepina, ácido valpróico<br />
- usados rotineiramente.4,5 Dados epi<strong>de</strong>miológicos <strong>de</strong>monstram<br />
que pacientes portadores <strong>de</strong> transtorno afetivo bipolar sem tratamento<br />
a<strong>de</strong>quado per<strong>de</strong>m em média nove anos <strong>de</strong> vida, 12 anos <strong>de</strong><br />
boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e 14 anos <strong>de</strong> função social efetiva.6 Com<br />
isso, vários pesquisadores iniciaram estudos na tentativa <strong>de</strong> encontrar<br />
novas substâncias com ação terapêutica no transtorno<br />
afetivo bipolar.<br />
Conforme referido anteriormente, muitos pacientes portadores<br />
<strong>de</strong> distúrbio afetivo bipolar resistente são tratados com<br />
antipsicóticos típicos associados aos estabilizadores <strong>de</strong>vido a baixa<br />
resposta <strong>de</strong>stes últimos em monoterapia.7 Sernyak et al em<br />
1994, <strong>de</strong>monstraram que 95% dos pacientes internados que receberam<br />
medicação antipsicótica para o tratamento dos quadros <strong>de</strong><br />
mania, continuavam a receber altas doses (o equivalente a 643 mg<br />
<strong>de</strong> clorpromazina em média por dia), seis meses após a alta hospitalar.8<br />
Com a <strong>de</strong>monstração da maior incidência <strong>de</strong> discinesia tardia<br />
nos pacientes com transtornos afetivos3 do que nos pacientes portadores<br />
<strong>de</strong> esquizofrenia9 e/ou síndromes mentais orgânicas,10 os<br />
antipsicóticos atípicos tornaram-se uma opção muito boa para o<br />
tratamento dos transtornos afetivos bipolares resistentes em associação<br />
aos moduladores do humor. Trabalhos com clozapina <strong>de</strong>monstraram<br />
sua eficiência não somente para a esquizofrenia, mas<br />
também para pacientes portadores dos distúrbios esquizoafetivo e<br />
bipolar resistente aos tratamentos usuais.11-17<br />
Em 1990, Hippius publicou a experiência européia com a clozapina.17<br />
Essa revisão focalizava os pacientes tratados no Hospital<br />
Psiquiátrico da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Munique no período compreendido<br />
entre 1978 e 1989 e comparava esses resultados com<br />
os <strong>de</strong> outros estudos europeus com relação aos benefícios e riscos<br />
do uso da clozapina. O grupo constava <strong>de</strong> 503 pacientes, sendo<br />
368 esquizofrênicos e 135 com outros diagnósticos. Dentre o grupo<br />
<strong>de</strong> 135 pacientes, encontravam-se 29 pacientes com <strong>de</strong>pressão<br />
Casos Clin Psiquiat 1999; 1(1):27-32 29