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caderno 23 - História da Medicina

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que aparecia, de noite, nas encruzilha<strong>da</strong>s dos cami-nhos,<br />

nas bocas <strong>da</strong>s minas ou em sítios ermos,<br />

para causar distúrbios corporais e desencaminhar<br />

as pes-soas que passassem e que, porventura, a<br />

encon-trassem. A má hora aparecia entre a Meia-<br />

Noite e uma hora <strong>da</strong> manhã.<br />

O medo <strong>da</strong>s mouras encanta<strong>da</strong>s e dos reis<br />

mouros<br />

Embora o homem, na cultura ocidental, tenha<br />

racionalmente entendido e dominado alguns aspectos<br />

<strong>da</strong> Natureza, para chegar ao máximo de felici<strong>da</strong>de,<br />

construindo um mundo material, que supe-rasse<br />

sonhos, visões e até utopias, não conseguiu libertarse<br />

totalmente de algumas crenças que povo-am o<br />

seu universo mágico, que estão na origem de alguns<br />

medos de pendência irracional.<br />

Como em todos os lugares, na Região <strong>da</strong><br />

Gardunha existiu a crença nas mouras encanta<strong>da</strong>s,<br />

facto que levou à criação de medos não só de crianças<br />

e jovens, mas também de alguns adultos que,<br />

por precaução, especialmente de noite, não passavam<br />

pelos sítios <strong>da</strong>s mouras, normalmente, acidentes<br />

na-turais, como penhascos, covas, grutas e penedos,<br />

como o sítio <strong>da</strong> Moura, no Alcaide, e o Curral<br />

<strong>da</strong>s Éguas dos Mouros, no Casal <strong>da</strong> Serra. Mouras<br />

que saíam pelas noites de luar a encantarem os rapazes,<br />

capturando-os para a sua mora<strong>da</strong>.<br />

Também havia lugares onde se encontrava um<br />

rei mouro aprisionado, com na Lapa Escura, no sítio<br />

de Castelo Velho, termo de Casal <strong>da</strong> Serra, que,<br />

vestido com uma capa vermelha, apanhavam as rapa-rigas<br />

que passassem nas imediações, levandoas<br />

para a sua gruta, e, por vezes, também alguns<br />

rapa-zes, facto que contribuiu para o medo do rei<br />

mouro.<br />

O medo dos animais selvagens, Peçonhentos<br />

e venenosos<br />

Verifica-se um medo natural e uma aversão<br />

instintiva contra alguns animais selvagens, como os<br />

lobos, que, famintos, por vezes, comiam as pessoas<br />

que conseguiam abocanhar, e de bichos peçonhen-tos,<br />

que provocam medos, ansie<strong>da</strong>des e angústias,<br />

devido a possível inoculação de peçonha,<br />

como o bicho <strong>da</strong> peçonha, ou seja, a processionária<br />

dos pinheiros, a víbora, e, por associação, qualquer<br />

cobra (Ofidiofobia), o lacrau, certas aranhas (Arac-<br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

nofobia), osgas e diversos insectos (Entomofobia),<br />

entre outros animais.<br />

Sugerem, também, medos e comportamen-tos<br />

instintivos irracionais, as salamandras (Batracno-fobia),<br />

os lagartos, as borboletas escuras (Motofobia)<br />

e as corujas, especialmente de noite, como sinais<br />

de morte, e os ratos (Muridofobia), que assustam<br />

mais as mulheres e que podem transmitir doenças,<br />

O medo dos fenómenos atmosféricos e <strong>da</strong>s<br />

catástrofes naturais<br />

A manipulação do medo foi associado aos<br />

fenómenos atmosféricos, trovoa<strong>da</strong>s, raios, auroras<br />

boreais, e catástrofes naturais, como tremores de<br />

terra, mentalizando as gentes que eram castigos de<br />

Deus, como vingança pelos pecados cometidos e<br />

pelos maus comportamentos para com os outros e<br />

para com a igreja.<br />

Tiveram especial relevância os medos e terrores<br />

inculcados nas gentes pela Inquisição, como<br />

a que<strong>da</strong> no Inferno, num castigo eterno, em virtude<br />

dos pecados cometidos, e os castigos, em vi<strong>da</strong>,<br />

como vinganças de Deus, perante os maus comportamen-tos<br />

dos homens, factos já referidos no<br />

Velho Testa-mento e no Novo Testamento.<br />

Devido a acontecimentos funestos, muitas<br />

pessoas temem as trovoa<strong>da</strong>s e ficam aterroriza<strong>da</strong>s<br />

com os raios, faíscas, relâmpagos ou pestes e trovões<br />

(Brontofobia e Ceraunofobia), quando acontecem<br />

nas suas proximi<strong>da</strong>des. Rezam orações ou<br />

responsos próprios a Santa Bárbara e a São Jerónimo.<br />

Algumas mulheres, mais amedronta<strong>da</strong>s, escondem-se<br />

sob a cama. Para debaixo <strong>da</strong> cama, levam a<br />

galinha que choca ovos, para os pintainhos não sofrerem<br />

mazelas com as trovoa<strong>da</strong>s. Os pastores temiam<br />

a que<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pedras de raio, pequenos blocos<br />

de quartzo e felds-pato, que encontravam na serra<br />

e acreditavam caírem com os relâmpagos. Alguns<br />

pastores do Casal <strong>da</strong> Serra afirmavam terem visto<br />

as faíscas fazerem regos na terra, como os arados,<br />

e as pedras de raio caírem dos ares.<br />

Numa tarde dos finais do mês de Setembro,<br />

do ano de 1938, uma grande parte <strong>da</strong>s gentes camponesas<br />

foram toma<strong>da</strong>s de medo pela visão de<br />

uma Aurora Boreal (Astrofobia), fenómeno luminoso<br />

de cor avermelha<strong>da</strong>, que ocorre em função do contacto<br />

dos ventos solares com o campo magnético<br />

<strong>da</strong> Terra, que pairou sobre a Serra <strong>da</strong> Estrela.<br />

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