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que aparecia, de noite, nas encruzilha<strong>da</strong>s dos cami-nhos,<br />
nas bocas <strong>da</strong>s minas ou em sítios ermos,<br />
para causar distúrbios corporais e desencaminhar<br />
as pes-soas que passassem e que, porventura, a<br />
encon-trassem. A má hora aparecia entre a Meia-<br />
Noite e uma hora <strong>da</strong> manhã.<br />
O medo <strong>da</strong>s mouras encanta<strong>da</strong>s e dos reis<br />
mouros<br />
Embora o homem, na cultura ocidental, tenha<br />
racionalmente entendido e dominado alguns aspectos<br />
<strong>da</strong> Natureza, para chegar ao máximo de felici<strong>da</strong>de,<br />
construindo um mundo material, que supe-rasse<br />
sonhos, visões e até utopias, não conseguiu libertarse<br />
totalmente de algumas crenças que povo-am o<br />
seu universo mágico, que estão na origem de alguns<br />
medos de pendência irracional.<br />
Como em todos os lugares, na Região <strong>da</strong><br />
Gardunha existiu a crença nas mouras encanta<strong>da</strong>s,<br />
facto que levou à criação de medos não só de crianças<br />
e jovens, mas também de alguns adultos que,<br />
por precaução, especialmente de noite, não passavam<br />
pelos sítios <strong>da</strong>s mouras, normalmente, acidentes<br />
na-turais, como penhascos, covas, grutas e penedos,<br />
como o sítio <strong>da</strong> Moura, no Alcaide, e o Curral<br />
<strong>da</strong>s Éguas dos Mouros, no Casal <strong>da</strong> Serra. Mouras<br />
que saíam pelas noites de luar a encantarem os rapazes,<br />
capturando-os para a sua mora<strong>da</strong>.<br />
Também havia lugares onde se encontrava um<br />
rei mouro aprisionado, com na Lapa Escura, no sítio<br />
de Castelo Velho, termo de Casal <strong>da</strong> Serra, que,<br />
vestido com uma capa vermelha, apanhavam as rapa-rigas<br />
que passassem nas imediações, levandoas<br />
para a sua gruta, e, por vezes, também alguns<br />
rapa-zes, facto que contribuiu para o medo do rei<br />
mouro.<br />
O medo dos animais selvagens, Peçonhentos<br />
e venenosos<br />
Verifica-se um medo natural e uma aversão<br />
instintiva contra alguns animais selvagens, como os<br />
lobos, que, famintos, por vezes, comiam as pessoas<br />
que conseguiam abocanhar, e de bichos peçonhen-tos,<br />
que provocam medos, ansie<strong>da</strong>des e angústias,<br />
devido a possível inoculação de peçonha,<br />
como o bicho <strong>da</strong> peçonha, ou seja, a processionária<br />
dos pinheiros, a víbora, e, por associação, qualquer<br />
cobra (Ofidiofobia), o lacrau, certas aranhas (Arac-<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
nofobia), osgas e diversos insectos (Entomofobia),<br />
entre outros animais.<br />
Sugerem, também, medos e comportamen-tos<br />
instintivos irracionais, as salamandras (Batracno-fobia),<br />
os lagartos, as borboletas escuras (Motofobia)<br />
e as corujas, especialmente de noite, como sinais<br />
de morte, e os ratos (Muridofobia), que assustam<br />
mais as mulheres e que podem transmitir doenças,<br />
O medo dos fenómenos atmosféricos e <strong>da</strong>s<br />
catástrofes naturais<br />
A manipulação do medo foi associado aos<br />
fenómenos atmosféricos, trovoa<strong>da</strong>s, raios, auroras<br />
boreais, e catástrofes naturais, como tremores de<br />
terra, mentalizando as gentes que eram castigos de<br />
Deus, como vingança pelos pecados cometidos e<br />
pelos maus comportamentos para com os outros e<br />
para com a igreja.<br />
Tiveram especial relevância os medos e terrores<br />
inculcados nas gentes pela Inquisição, como<br />
a que<strong>da</strong> no Inferno, num castigo eterno, em virtude<br />
dos pecados cometidos, e os castigos, em vi<strong>da</strong>,<br />
como vinganças de Deus, perante os maus comportamen-tos<br />
dos homens, factos já referidos no<br />
Velho Testa-mento e no Novo Testamento.<br />
Devido a acontecimentos funestos, muitas<br />
pessoas temem as trovoa<strong>da</strong>s e ficam aterroriza<strong>da</strong>s<br />
com os raios, faíscas, relâmpagos ou pestes e trovões<br />
(Brontofobia e Ceraunofobia), quando acontecem<br />
nas suas proximi<strong>da</strong>des. Rezam orações ou<br />
responsos próprios a Santa Bárbara e a São Jerónimo.<br />
Algumas mulheres, mais amedronta<strong>da</strong>s, escondem-se<br />
sob a cama. Para debaixo <strong>da</strong> cama, levam a<br />
galinha que choca ovos, para os pintainhos não sofrerem<br />
mazelas com as trovoa<strong>da</strong>s. Os pastores temiam<br />
a que<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pedras de raio, pequenos blocos<br />
de quartzo e felds-pato, que encontravam na serra<br />
e acreditavam caírem com os relâmpagos. Alguns<br />
pastores do Casal <strong>da</strong> Serra afirmavam terem visto<br />
as faíscas fazerem regos na terra, como os arados,<br />
e as pedras de raio caírem dos ares.<br />
Numa tarde dos finais do mês de Setembro,<br />
do ano de 1938, uma grande parte <strong>da</strong>s gentes camponesas<br />
foram toma<strong>da</strong>s de medo pela visão de<br />
uma Aurora Boreal (Astrofobia), fenómeno luminoso<br />
de cor avermelha<strong>da</strong>, que ocorre em função do contacto<br />
dos ventos solares com o campo magnético<br />
<strong>da</strong> Terra, que pairou sobre a Serra <strong>da</strong> Estrela.<br />
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