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caderno 23 - História da Medicina

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paralela aos arcos costais de cima para baixo <strong>da</strong><br />

direita para a esquer<strong>da</strong>, com cerca de 6 cm de comprimento,<br />

a nível do 5º espaço intercostal direito, na<br />

projecção <strong>da</strong> linha mamilar. Tem sangue venoso em<br />

que<strong>da</strong> pelo bordo inferior em pouca quanti<strong>da</strong>de.<br />

Claro que o resto desta minha visita ao Museu<br />

do Prado teve como primum movens a procura de<br />

outras imagens onde esta Chaga estivesse presente<br />

procurando os detalhes <strong>da</strong> sua anatomia.<br />

Uma outra pintura A Crucificação (cerca de<br />

1519), de Juan de Flandes, tem a nível<br />

<strong>da</strong> Chaga em análise uma característica<br />

que não é sistemática: para<br />

além do sangue venoso que sai, tem<br />

igualmente um jacto de sangue que,<br />

por essa característica, será sangue<br />

arterial. No entanto na coloração não<br />

há diferença. Estávamos no Renascimento,<br />

Harvey em 1616 haveria de<br />

expor o seu entendimento <strong>da</strong> circulação<br />

sanguínea que publicaria posteriormente<br />

em Exercitatio Anatomica<br />

de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus,<br />

no entanto a pintura já consagrava<br />

esta diferença de uma sangue<br />

venoso e de um arterial, com jorro por<br />

pressão hidrostática.<br />

De El Greco vemos uma pintura de grandes dimensões,<br />

Crucifixion (1608) onde a feri<strong>da</strong> é torácica,<br />

com cerca de 3 cm, paralela ao rebordo costal de cima<br />

para baixo <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> para a direita e localiza<strong>da</strong> a<br />

nível do 9º espaço intercostal, na projecção <strong>da</strong> linha<br />

mamilar. É patente um fluxo arterial de grande débito.<br />

Este mesmo autor, El Greco, tem uma outra<br />

pintura Trin<strong>da</strong>de (1577/80), onde as características<br />

anatómicas <strong>da</strong> feri<strong>da</strong> não se mu<strong>da</strong>m muito. No entanto<br />

só sangue e venoso em pequena quanti<strong>da</strong>de,<br />

está presente nesta pintura que representa o momento<br />

em que Deus Pai acolhe o Seu Filho morto,<br />

cena carrega<strong>da</strong> de tensão. Este momento indica ao<br />

católico que a morte de Cristo cumpriu o seu objectivo:<br />

redimir a Humani<strong>da</strong>de (2).<br />

Quando abandonamos o Maneirismo e entramos<br />

no Barroco sabemos que este abandona a<br />

sereni<strong>da</strong>de clássica para expressar um mundo em<br />

movimento e agitação dos sentidos, com uma tendência<br />

ao exagero e à ostentação.<br />

Na Santíssima Trin<strong>da</strong>de (1632/1636), de José<br />

de Ribera verificamos uma feri<strong>da</strong> de maiores dimensões,<br />

com cerca de 10 cm. Há um aspecto mais<br />

cruento nesta pintura, esta 5ª Chaga é uma feri<strong>da</strong><br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

grande onde se antevê os elementos anatómicos<br />

<strong>da</strong> grelha costal e desperta mesmo um arrepio de<br />

lesão extensa e, certamente, dolorosa. O sangue,<br />

venoso, está bem presente.<br />

Uma outra pintura deste período Cristo abraçado<br />

a S. Bernardo (1625-27) de Francisco Ribalta mostranos<br />

igualmente uma localização <strong>da</strong> 5ª Chaga abaixo<br />

do rebordo costal direito mas com continuação torácica.<br />

O quadro mostra um milagre <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de S. Bernardo<br />

que é o momento em que a figura de Cristo, à qual<br />

o santo rezava, como que sai <strong>da</strong> cruz<br />

para o acolher. Com figuras de anatomia<br />

realista, nesta pintura a 5ª Chaga de<br />

Cristo apesar de bem aparente não tem<br />

o anterior carácter agressivo ou cruento.<br />

Muitos outros quadros estão presentes<br />

no Museu onde se podem ver<br />

as características com que o pintor caracterizou<br />

esta lesão. Se procurar-mos<br />

uma mediana <strong>da</strong> feri<strong>da</strong> correspondente<br />

à 5ª Chaga de Cristo, encontramos<br />

neste Museu, uma feri<strong>da</strong> torácica com 4<br />

cm, ligeiramente de cima para baixo, <strong>da</strong><br />

direita para a esquer<strong>da</strong>, acompanhando<br />

a grelha costal, situa<strong>da</strong> no 6º espaço<br />

intercostal e de onde vemos, predominantemente,<br />

a saí<strong>da</strong> de sangue venoso.<br />

Ver estas múltiplas abor<strong>da</strong>gens desta Chaga<br />

de Cristo, quando aparentemente não é detalhe que<br />

mereça atenção <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem histórica, não deixa<br />

de ser intrigante para um cirurgião. Ain<strong>da</strong> por cima<br />

quando podemos comparar esta evolução que verificamos<br />

nos vários estilos <strong>da</strong> pintura, com a nossa<br />

geração onde de uma grande incisão paramediana<br />

direita, se passou para uma sub costal. Depois ain<strong>da</strong><br />

menor com a mini-laparotomia, até que chegamos<br />

à laparoscopia com os orifício. Já sem falar <strong>da</strong><br />

emergente cirurgia pelos orifícios naturais que não<br />

deixam cicatriz.<br />

Na pintura em arte sacra assistimos a uma<br />

posterior evolução para a ausência <strong>da</strong> representação<br />

desta incisão. Culmina uma fase posterior <strong>da</strong><br />

representação <strong>da</strong> 5ª Chaga à esquer<strong>da</strong> e que merecerão<br />

uma reflexão posterior.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

— Museo del Prado – Online galler yhttp://www.museudelprado.esw/<br />

en/the-collection/0nline-gallery/0n-line-gallery/obra/christ-crucified/<br />

— Sanfrancisco C. Espana: Maneirismo. El Greco. www.iesabastos.org/webfm_send/261.<br />

* Médico Cirurgião do Hospital do Barlavento Algarvio<br />

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