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comemorações condignas e ao nível que a figura do<br />
homenageado impunha-o nível nacional.» Para este<br />
inconformado vereador Amato era «um albicastrense<br />
ilustre que ( ) além <strong>da</strong> projecção europeia <strong>da</strong> sua<br />
figura cientifica, foi um português (como ele próprio<br />
sempre se considerou) de raça ju<strong>da</strong>ica, e não um<br />
judeu que, por acaso, tivesse nascido em Portugal.»<br />
Apesar de não se terem realizaram as comemorações<br />
do IV centenário <strong>da</strong> Amato Lusitano ao<br />
nível oficial, a socie<strong>da</strong>de civil, as suas elites e os<br />
poderes culturais locais conseguiram levar a cabo<br />
um vivido núcleo de manifestações evocativas <strong>da</strong><br />
efeméride, José Lopes Dias reuniria, e tal como tinha<br />
ideado, um importantíssimo conjunto de textos<br />
amatianos <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de de vários autores.<br />
Amato já não provocava junto do poder uma identificação<br />
e fervor plenos, afastando-se a possibili<strong>da</strong>de<br />
de uma ver<strong>da</strong>deira convergência de interesses ou a<br />
construção de cenários efervescentes como tinham<br />
sido aqueles do ano de 1958. O poder local pouco<br />
fazia para ver<strong>da</strong>deiramente cultivar essa presença<br />
identitária na comuni<strong>da</strong>de, para além <strong>da</strong>s atávicas<br />
fronteiras locais. Contudo, José Lopes Dias, o cultor<br />
amatiano persistente, saia <strong>da</strong> pequena pátria e<br />
desenvolve uma ampla difusão <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de<br />
médica junto dos grandes centros do saber nacionais<br />
e internacionais. Foi o caso <strong>da</strong> Itália, « a terra<br />
estranha na qual se preparava universal homenagem<br />
ao grande médico pioneiro que foi também o<br />
primeiro albicastrense de todos os tempo.» onde<br />
vai ter lugar o « Simpósio de Amato Lusitano» em<br />
Sena, incorporado no XXI Congresso internacional<br />
de <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>» ou as cerimónias ocorri<strong>da</strong>s<br />
na Academia <strong>da</strong>s Ciências de Lisboa e na Facul<strong>da</strong>de<br />
de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Porto. E numa<br />
conclusão do que tinham sido as várias iniciativas<br />
comemoracionistas organiza<strong>da</strong>s ao longo deste<br />
ano por algumas instituições <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de comentará:<br />
«Outras celebrações planea<strong>da</strong>s em honra do «1º<br />
ci<strong>da</strong>dão de Castelo Branco » não alcançaram a deseja<strong>da</strong><br />
realização por imprevistas dificul<strong>da</strong>des, mas,<br />
enfim, houve a preocupação de salvar a honra do<br />
convento» 8 .<br />
O desvanecimento <strong>da</strong> figura de Amato como<br />
um herói <strong>da</strong> diáspora, como albicastrense genético<br />
ci<strong>da</strong>dão, como exemplar símbolo para a comuni<strong>da</strong>de<br />
sobreveio. Em 1971, quando a ci<strong>da</strong>de come-<br />
76<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
morou o seu bicentenário, em todos os cerimoniais<br />
a figura histórica encontra-se apenas presente na<br />
longa enunciação <strong>da</strong> galeria de vultos locais. Os<br />
vocábulos desenvolvimento e crescimento dominavam<br />
agora os palcos. Contudo, é certo que Amato<br />
Lusitano continuará, para uma minoria, a ser matéria<br />
em continua<strong>da</strong> circulação e apropriação plasma<strong>da</strong>s<br />
em discursos locais, nacionais e internacionais, às<br />
vezes, em invocações monocórdicas e repetitivas<br />
em demasia. Por esses anos, o combatente pela<br />
liber<strong>da</strong>de que tar<strong>da</strong>va ao País, Raul Rego quando<br />
procura «uma primavera com prados e flores e<br />
varie<strong>da</strong>de de processo e opiniões» convoca Amato<br />
Lusitano como exemplo <strong>da</strong> nossa existência e<br />
pensar enquanto portugueses. João Rodrigues de<br />
Castelo Branco era o exemplo: «o caso do exilado<br />
que se morre de amores pela terra madrasta.» Com<br />
efeito, Amato tinha sido mais um «<strong>da</strong>queles milhares<br />
e milhares de portugueses que Portugal expulsou<br />
durante séculos e que muito contribuiu para o<br />
empobrecimento do país em inteligência». 9<br />
Outros lugares <strong>da</strong> memória médica no espaço<br />
urbano albicastrense<br />
Para além de Amato Lusitano, identificam-se,<br />
na denominação <strong>da</strong>s ruas e <strong>da</strong>s praças <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />
outras presenças e ecos onomásticos de individuali<strong>da</strong>des<br />
médicas liga<strong>da</strong>s, em <strong>da</strong>do momento<br />
<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, à comuni<strong>da</strong>de, seja por nascimento<br />
ou por terem desenvolvido uma prestimosa acção<br />
benemérita e exemplari<strong>da</strong>de profissional. O conjunto<br />
de clínicos registado na toponímia encontra-se,<br />
cronologicamente, enquadrado entre o século XVI e<br />
o século XX. A representação positiva na memória<br />
urbana desta classe profissional e a sua inscrição<br />
nas sonori<strong>da</strong>des locativas do espaço público surge<br />
associa<strong>da</strong> a circunstâncias e objectivos variados.<br />
Esta arca<strong>da</strong> toponímica organiza parte integrante<br />
<strong>da</strong>quilo que poderemos apeli<strong>da</strong>r de geografia médica<br />
albicastrense histórica. O mapeamento desta<br />
leitura do espaço estabelece-se a partir de lugares<br />
que emitem uma presença palpável e vivi<strong>da</strong>, e um<br />
horizonte imaterial que não está materialmente visível<br />
e apenas pode ser evocado e transporta<strong>da</strong><br />
para o presente, pela sua referência e existência<br />
caligráfico-documental, tarefa amplamente simplifica<strong>da</strong><br />
pelos estudos históricos produzidos por José<br />
Lopes Dias. 10