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caderno 23 - História da Medicina

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comemorações condignas e ao nível que a figura do<br />

homenageado impunha-o nível nacional.» Para este<br />

inconformado vereador Amato era «um albicastrense<br />

ilustre que ( ) além <strong>da</strong> projecção europeia <strong>da</strong> sua<br />

figura cientifica, foi um português (como ele próprio<br />

sempre se considerou) de raça ju<strong>da</strong>ica, e não um<br />

judeu que, por acaso, tivesse nascido em Portugal.»<br />

Apesar de não se terem realizaram as comemorações<br />

do IV centenário <strong>da</strong> Amato Lusitano ao<br />

nível oficial, a socie<strong>da</strong>de civil, as suas elites e os<br />

poderes culturais locais conseguiram levar a cabo<br />

um vivido núcleo de manifestações evocativas <strong>da</strong><br />

efeméride, José Lopes Dias reuniria, e tal como tinha<br />

ideado, um importantíssimo conjunto de textos<br />

amatianos <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de de vários autores.<br />

Amato já não provocava junto do poder uma identificação<br />

e fervor plenos, afastando-se a possibili<strong>da</strong>de<br />

de uma ver<strong>da</strong>deira convergência de interesses ou a<br />

construção de cenários efervescentes como tinham<br />

sido aqueles do ano de 1958. O poder local pouco<br />

fazia para ver<strong>da</strong>deiramente cultivar essa presença<br />

identitária na comuni<strong>da</strong>de, para além <strong>da</strong>s atávicas<br />

fronteiras locais. Contudo, José Lopes Dias, o cultor<br />

amatiano persistente, saia <strong>da</strong> pequena pátria e<br />

desenvolve uma ampla difusão <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de<br />

médica junto dos grandes centros do saber nacionais<br />

e internacionais. Foi o caso <strong>da</strong> Itália, « a terra<br />

estranha na qual se preparava universal homenagem<br />

ao grande médico pioneiro que foi também o<br />

primeiro albicastrense de todos os tempo.» onde<br />

vai ter lugar o « Simpósio de Amato Lusitano» em<br />

Sena, incorporado no XXI Congresso internacional<br />

de <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>» ou as cerimónias ocorri<strong>da</strong>s<br />

na Academia <strong>da</strong>s Ciências de Lisboa e na Facul<strong>da</strong>de<br />

de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Porto. E numa<br />

conclusão do que tinham sido as várias iniciativas<br />

comemoracionistas organiza<strong>da</strong>s ao longo deste<br />

ano por algumas instituições <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de comentará:<br />

«Outras celebrações planea<strong>da</strong>s em honra do «1º<br />

ci<strong>da</strong>dão de Castelo Branco » não alcançaram a deseja<strong>da</strong><br />

realização por imprevistas dificul<strong>da</strong>des, mas,<br />

enfim, houve a preocupação de salvar a honra do<br />

convento» 8 .<br />

O desvanecimento <strong>da</strong> figura de Amato como<br />

um herói <strong>da</strong> diáspora, como albicastrense genético<br />

ci<strong>da</strong>dão, como exemplar símbolo para a comuni<strong>da</strong>de<br />

sobreveio. Em 1971, quando a ci<strong>da</strong>de come-<br />

76<br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

morou o seu bicentenário, em todos os cerimoniais<br />

a figura histórica encontra-se apenas presente na<br />

longa enunciação <strong>da</strong> galeria de vultos locais. Os<br />

vocábulos desenvolvimento e crescimento dominavam<br />

agora os palcos. Contudo, é certo que Amato<br />

Lusitano continuará, para uma minoria, a ser matéria<br />

em continua<strong>da</strong> circulação e apropriação plasma<strong>da</strong>s<br />

em discursos locais, nacionais e internacionais, às<br />

vezes, em invocações monocórdicas e repetitivas<br />

em demasia. Por esses anos, o combatente pela<br />

liber<strong>da</strong>de que tar<strong>da</strong>va ao País, Raul Rego quando<br />

procura «uma primavera com prados e flores e<br />

varie<strong>da</strong>de de processo e opiniões» convoca Amato<br />

Lusitano como exemplo <strong>da</strong> nossa existência e<br />

pensar enquanto portugueses. João Rodrigues de<br />

Castelo Branco era o exemplo: «o caso do exilado<br />

que se morre de amores pela terra madrasta.» Com<br />

efeito, Amato tinha sido mais um «<strong>da</strong>queles milhares<br />

e milhares de portugueses que Portugal expulsou<br />

durante séculos e que muito contribuiu para o<br />

empobrecimento do país em inteligência». 9<br />

Outros lugares <strong>da</strong> memória médica no espaço<br />

urbano albicastrense<br />

Para além de Amato Lusitano, identificam-se,<br />

na denominação <strong>da</strong>s ruas e <strong>da</strong>s praças <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />

outras presenças e ecos onomásticos de individuali<strong>da</strong>des<br />

médicas liga<strong>da</strong>s, em <strong>da</strong>do momento<br />

<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, à comuni<strong>da</strong>de, seja por nascimento<br />

ou por terem desenvolvido uma prestimosa acção<br />

benemérita e exemplari<strong>da</strong>de profissional. O conjunto<br />

de clínicos registado na toponímia encontra-se,<br />

cronologicamente, enquadrado entre o século XVI e<br />

o século XX. A representação positiva na memória<br />

urbana desta classe profissional e a sua inscrição<br />

nas sonori<strong>da</strong>des locativas do espaço público surge<br />

associa<strong>da</strong> a circunstâncias e objectivos variados.<br />

Esta arca<strong>da</strong> toponímica organiza parte integrante<br />

<strong>da</strong>quilo que poderemos apeli<strong>da</strong>r de geografia médica<br />

albicastrense histórica. O mapeamento desta<br />

leitura do espaço estabelece-se a partir de lugares<br />

que emitem uma presença palpável e vivi<strong>da</strong>, e um<br />

horizonte imaterial que não está materialmente visível<br />

e apenas pode ser evocado e transporta<strong>da</strong><br />

para o presente, pela sua referência e existência<br />

caligráfico-documental, tarefa amplamente simplifica<strong>da</strong><br />

pelos estudos históricos produzidos por José<br />

Lopes Dias. 10

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