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caderno 23 - História da Medicina

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Introdução<br />

A história cultural <strong>da</strong> deficiência física é marca<strong>da</strong><br />

pelo preconceito. Durante a I<strong>da</strong>de Média as malformações<br />

foram geralmente entendi<strong>da</strong>s como punição<br />

religiosa: o pecado <strong>da</strong> família traduzia-se em<br />

defeitos no rebento. Também era corrente a ideia de<br />

que malformações fossem presságios, anúncios de<br />

algum grande evento, fosse ele catastrófico ou auspicioso.<br />

Essa concepção parece ter-se estendido<br />

além <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média.<br />

Devido à descoberta de varia<strong>da</strong>s formas estranhas<br />

e à acumulação de conhecimento sobre<br />

“monstros” levou a que, durante a Renascença, se<br />

reforçassem algumas teorias explicativas destes<br />

fenómenos. A Teoria <strong>da</strong>s Impressões Maternas ou<br />

Telogonia, que subsistiu durante vários séculos 3 ,<br />

baseava-se na ideia de a imaginação <strong>da</strong> mulher<br />

é uma arma poderosa capaz de transmitir ao feto<br />

coisas pensa<strong>da</strong>s, vistas ou ouvi<strong>da</strong>s. Ou seja, considerava<br />

que sendo a retina <strong>da</strong> mulher grávi<strong>da</strong> como<br />

que uma superfície sensível, na qual vem registar-se<br />

a cena que se projecta a seguir sobre a criança que<br />

vai nascer, há coisas vistas e ouvi<strong>da</strong>s que saem naturalmente<br />

pelas vias genitais, depois de deixarem<br />

marcas no filho.<br />

Uma outra forma de explicar estes moldes é<br />

considerar a extravagância do próprio útero - Teoria<br />

30<br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

pARALELISMOS E DIVERgÊNCIAS ENTRE AS CENTÚRIAS<br />

E O TRAITÉ DES MONSTRES ET DES PRODIGES<br />

Monstros de Paré (Paris, 1570) - Luís e Luisa nascidos em Paris em 1570<br />

Isil<strong>da</strong> Teixeira Rodrigues *<br />

dos Moldes Uterinos - segundo a qual o útero <strong>da</strong>s<br />

mulheres pode gerar muitas outras formas além <strong>da</strong><br />

humana. As teorias hipocrático galénicas de diferenciação<br />

entre o macho e a fêmea explicam a fêmea<br />

como um macho menorizado pelo frio do útero<br />

materno, que o obrigou a crescer mais devagar e,<br />

consequentemente, a nascer com os órgãos genitais<br />

retidos no interior. Dentro deste quadro, o útero,<br />

inexistente na genitália masculina, é um órgão tão<br />

anómalo que nem sequer tem lugar fixo no corpo:<br />

é apenas a gravidez que, com o peso, o segura no<br />

fundo do abdómen. Este órgão anómalo tem funções<br />

gerativas, é certo; mas devido à forma aberrante<br />

como se formou, pode não ter um controlo<br />

exactamente correcto sobre o que deve gerar 4 .<br />

Tanto o Amato Lusitano (1511 – 1568), médico<br />

renascentista português, como o seu contemporâneo<br />

francês e cirurgião <strong>da</strong> casa real, Amboise Paré<br />

(1509 – 1590) escreveram e relataram, nas suas<br />

obras, casos de monstruosi<strong>da</strong>des gera<strong>da</strong>s nos úteros<br />

<strong>da</strong>s mulheres.<br />

As Centúrias 5 de Amato Lusitano desviam-se<br />

<strong>da</strong> estrutura clássica dos tratados médicos renascentistas,<br />

adoptando antes uma organização de<br />

matérias que virá a tornar-se prática corrente a partir<br />

do Século XVII: o estilo “diário de bordo”, sem se-

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